quinta-feira, 8 de setembro de 2022

CHILE DE BORIC: A CONVENÇÃO CONSTITUINTE PARIU UM RATO REACIONÁRIO AMPLAMENTE REJEITADO PELA POPULAÇÃO TRABALHADORA 

Em um país que é o epicentro dos fenômenos sísmicos da América Latina, podemos caracterizar a derrota popular do reacionário projeto da nova Constituição chilena, elaborada por uma Convenção “trucha”, como um verdadeiro "terremoto" político. Foi o resultado de uma fraude política desenfreada e impulsionada pela esquerda reformista, domesticada pelo capital financeiro internacional. O governo Boric, curvado ao “pinochetismo democrático”, pretendeu amalgamar a pauta da Nova Ordem Mundial com a velha ordem chilena do militarismo gorila, colheu um retumbante fiasco, abrindo uma crise irreversível na gerência da esquerda burguesa.

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O texto constitucional rechaçado pelo plebiscito continha um palavreado “politicamente correto” sobre direitos ecológicos, gênero e plurinacionalidade, mas não havia sequer o esboço de uma saída operária para o saque da previdência social, o ônus da saúde e educação privada, ou a demanda do povo mapuche para acabar com a latifúndio e superexploração florestal na Araucanía. A espinha dorsal da constituição nascente mantinha intacta a superexploração da classe trabalhadora, o direito à propriedade privada, além de manter todas as garantias ao rentista financeiro.

O principal arquiteto desse engodo sem escrúpulos foi o presidente Boric, que em ato vergonhoso retirou na última hora o apoio a Convenção Constituinte que o tinha como arquiteto principal, exigindo um voto favorável da população com a promessa de que a reformaria a nova Carta imediatamente no Congresso controlado pelo majoritariamente pelo Pinochetismo. 

A Frente Ampla (Boric) e o Partido Comunista operaram como uma “quinta coluna” contra os outros partidários da aprovação (revisionistas de menor calibre), com a única intenção de ficar bem com a centro-direita. Esta esquerda burguesa deu à direita um precioso intervalo de iniciativa política, para fazer demagogia pelo “Rechaço”.

Inicialmente a direita se declarou a favor da proposta da esquerda oficial de reformar a velha Constituição Pinochet, que agora após o plebiscito não será mais feita pela Convenção eleita, mas pelo Congresso Nacional, embora também deva passar pelo crivo de um novo plebiscito. Em 24 horas, a fraude impotente da Convenção deu a lugar ao Pinochetismo, que controla ambas as Câmaras do parlamento chileno.

No Chile, os presos e condenados na repressão policial à rebelião popular continuam encarcerados, agora sob o governo de carreiristas da esquerda burguesa, e a região de Araucanía está em estado de sítio, em “homenagem” aos princípios democráticos de Boric. O presidente identitarista se pronunciou em apoio à guerra imperialista da OTAN na Ucrânia, e também se declarou o mais fiel apologista da Casa Branca em assuntos para a América Latina.

O triunfo eleitoral da esquerda burguesa é apresentado em toda a América Latina como a derrota da extrema direita, já que a própria direita neoliberal compõe sua aliança política. Essa “tese” nada mais é do que uma extorsão política por parte dos populistas de esquerda, que governam em defesa dos mesmos interesses da classe capitalista, seja da fração da extrema direita ou não. No Chile a esquerda Social Democrata e o Partido Comunista sempre funcionaram como um muro de contenção contra as massas. Essas forças se juntaram com uma variante de direita no governo da Unidade Popular de 1970/3. 

O repúdio e a rejeição popular ao projeto fraudulento da nova Constituição não foi levantado por nenhum setor da esquerda, apenas o setor combativo do movimento Mapuche o fez abertamente. Nós da LBI, desde nossas modestas forças no Brasil, alertamos solitariamente desde a origem o engodo do processo que pariu a Convenção, uma manobra sórdida para desviar a radicalização das massas que protagonizaram a rebelião social que “balançou” as estruturas do Estado burguês no período anterior a pandemia. No Blog da LBI nos pronunciamos firmemente a favor da rejeição do projeto constitucional desde o momento em que o plebiscito foi anunciado. O combativo proletariado chileno neste momento soube passar por cima dos charlatães da esquerda burguesa, abrindo assim o caminho desta vez para a ação de uma rebelião socialista vitoriosa.