sábado, 7 de março de 2020

CRASH FINANCEIRO MUNDIAL: A CRISE É DE SUPERPRODUÇÃO E NÃO É O CORONAVÍRUS RESPONSÁVEL ESTRUTURAL PELA QUEDA DAS BOLSAS. NÃO EXISTE VACINA QUE CURE O CAPITALISMO... SÓ A REVOLUÇÃO SOCIALISTA!


O mundo vivência uma grande crise financeira das bolsas da Wall Street, da Europa, do Japão e de Shangai e analistas econômicos “oficiais” atribuem a responsabilidade do prenúncio de um novo crash ao surto do coronavirus. Na última semana de Fevereiro/2020, a pior semana desde Outubro/2008, o Dow Jones baixou 12,4%, o S&P 500 baixou 11,5% e o Nasdaq Composite baixou 10,5%. O mesmo cenário na Europa e na Ásia durante a última semana de Fevereiro. Na bolsa de Londres, o FTSE-100 baixou 11,32%, em Paris o CAC40 caiu 12%, em Francoforte o DAX perdeu12,44%, na bolsa de Tóquio o Nikkei baixou 9,6%, as bolsas chinesas (Shangai, Shenzhen e Hong Kong) baixaram igualmente. Na última segunda-feira 02 de Março, com as intervenções maciças dos bancos centrais para sustentar as bolsas, os índices retomaram a alta salvo na praça de Londres. Na terça-feira 3 de Março, o banco central dos Estados Unidos, o Fed, entrou em pânico, baixou em 0,5% sua taxa directora, o que constitui uma redução considerável. A nova taxa central do Fed situa-se doravante num intervalo de 1 a 1,25%. É preciso saber que a taxa de inflação nos Estados Unidos entre Fevereiro/2019 e Janeiro/2020 atingiu 2,5%, o que quer dizer que a taxa de juro real do FED é negativa. A grande mídia corporativa escreve que esta medida visa sustentar a economia americana ameaçada pela epidemia. O diário francês Le Figaro estampa: "O coronavirus precipita uma forte baixa da taxa do Fed"...A crise da economia ianque data de bem antes dos primeiros casos de coronavirus na China e destes efeitos sobre a economia mundial. Em resumo, o Fed e a grande imprensa não dizem a verdade quando explicam que a medida é destinada a enfrentar o coronavirus. Apesar da decisão do Fed, na terça-feira 3/Março o S&P 500 baixou novamente 2,81%, o Dow Jones baixou 2,9%. Nos dias 3 e 4 de Março, várias bolsas asiáticas experimentaram igualmente uma baixa. 


Não se pode excluir um reaquecimento da bolsa de Nova York em 4 de Março para saudar o retorno de Joe Biden à corrida presidencial nos Estados Unidos  nas primárias democratas, pois isto representa para eles um alívio frente ao Social Democrata Bernie Sanders. Joe Biden é claramente o candidato do establishment Democrata e dos bilionários que apoiam este partido imperialista. É importante observar que Donald Trump, num tweet da semana passada, ligou a sua sorte a da bolsa na Wall Street. Em 26 de Fevereiro ele conclamou seus colegas dos 1% mais ricos a não venderem suas acções e a sustentarem a bolsa. Trump além disso afirmou que se fosse reeleito à presidência dos Estados Unidos em Outubro/2020 a bolsa subiria enormemente mas que se perdesse ocorreria um crash bursátil de uma amplitude nunca vista. O que se vai passar precisamente nos mercados financeiros nos próximos dias e semanas é imprevisível mas é muito importante analisar as verdadeiras causa da crise capitalista em pleno curso.


A mídia “murdochiana” afirma de maneira simplista que esta queda generalizada das bolsas de valores é provocada pelo coronavirus e esta explicação é retomada amplamente nas redes sociais pelos incautos. Ora, não é o coronavirus e sua expansão mundial que constituem a causa da crise, a epidemia é apenas um elemento detonador. Todos os fatores de uma nova crise financeira estão reunidos há vários anos, pelo menos desde 2017-2018. Quando a atmosfera está saturada de matérias inflamáveis, a qualquer momento uma fagulha pode provocar a explosão financeira. Era difícil prever de onde a fagulha iria partir. A fagulha desempenha o papel de detonador mas não é ela que é a causa profunda da crise. Não sabemos ainda se a forte queda das bolsas no  fim de Fevereiro vai "degenerar" numa enorme crise financeira. É uma possibilidade real. O fato de que a queda bursátil coincide com os efeitos da epidemia do coronavirus sobre a economia produtiva não é fortuito, mas dizer que o coronavirus é a causa da crise é uma ilusão. É importante ver a crise de superprodução de mercadorias, que gerou o acirramento da guerra comercial contra a China e não ser enganar pelas explicações que lançam uma cortina de fumaça diante das causas reais do colapso econômico.

O Grande Capital e seus gerentes estatais têm todo o interesse de colocar nas costas de um vírus o desenvolvimento de uma grande crise financeira e económica, pois isto lhes permite “lavar as mãos”. A queda das cotações das ações estava prevista bem antes que o coronavirus fizesse a sua aparição. As cotações das ações e o preço dos títulos de dívida aumentaram de um modo totalmente exagerado em relação à evolução da produção industrial no decorrer dos últimos dez anos, com uma aceleração no decorrer dois últimos dois ou três anos. 

É preciso sublinhar que o momento em que a queda das cotações acionárias ocorre como resultado de uma escolha de uma parte dos “muito ricos” que decidiram começar a vender os títulos que adquiriram pois consideram que toda “festa financeira” tem um fim e, ao invés de perder eles preferem tomar a dianteira no cassino das apostas. Estes grandes acionistas preferem ser os primeiros a vender a fim de obterem os melhores preços possíveis antes de a cotação das ações baixar muito fortemente. Grandes sociedades de investimentos, grandes bancos, grandes empresas industriais e miliardários dão a ordem aos traders para venderem uma parte das ações ou do títulos de dívidas privadas (ou seja, obrigações) que possuíam a fim de embolsar os 15% ou 20% de alta dos últimos anos. Eles dizem que é o momento de fazê-lo, chamam a isto tomar os "seus ganhos". Segundo eles, tanto pior se isto implica um efeito de venda em manada. O importante ao seu ver é vender antes dos outros. Isto pode provocar um efeito dominó e degenerar numa crise financeira generalizada. Os rentistas sabem e dizem para si próprios que acabarão por se safar sem demasiado prejuízo como aconteceu em grande parte em nos anos 2007-2009. É o caso nomeadamente nos Estados Unidos dos dois principais fundos de investimento e de gestão de ativos Black Rock e Vanguard que se saíram bem, assim como do Goldman Sachs, Bank of America, Citigroup ou a Googloe, Apple, Amazon, Facebook, etc.

Outro elemento importante a ressaltar, a elite da oligarquia financeira vende ações de empresas privadas, o que provoca uma queda das suas cotações e arrasta a queda das bolsas. Ou ao mesmo tempo eles compram títulos da dívida pública dos Estados nacionais considerados como valores seguros. Estamos falando nomeadamente do caso nos Estados Unidos onde o preço dos títulos do tesouro norte-americano aumentou na sequência de uma procura muito forte. Nota-se que um aumento do preço dos títulos do tesouro que se vendem no mercado secundário tem como consequência baixar o rendimento destes títulos. Os ricos que compram estes títulos do Tesouro estão dispostos a um rendimento fraco, pois o que procuram é a segurança num momento em que a cotação das ações das empresas está em baixa. Em consequência, há que sublinhar que mais uma vez são exactamente os títulos dos Estados estáveis que são considerados pelos mais ricos como os mais seguros. Não tardará para que em breve se retorne o refrão bem conhecido da crise das dívidas dos países periféricos “quebrados” e dos temores dos mercados em relação a títulos públicos.

Portanto, este fenômeno não data da véspera da crise de 2008-2009, ele é recorrente no quadro da financiarização da economia capitalista. E antes disso o sistema capitalista também havia experimentado fases importantes de financiarização, tanto no século XIX como nos anos 1920, o que conduziu à grande crise financeira de 1929 e ao período prolongado de recessão dos anos 1930. Assim, o fenômeno da financeirização e “desregulamentação” foi parcialmente abafado durante 40 anos após a grande depressão dos anos 1930, a Segunda Guerra Mundial e a radicalização da luta de classes. Até o fim dos anos 1970, não houve mais grandes crises bancárias, que deram lugar a “crise do petróleo”. As crises bancárias ressurgiram quando os governos deram todas as liberdades ao Grande Capital para fazer o que quisesse no setor financeiro. O Grande Capital, o qual considera que a taxa de rentabilidade que ele extrai da produção não é suficiente, desenvolve as atividades financeiras não diretamente ligadas à produção. Isto não quer dizer que abandone a produção, mas que desenvolve proporcionalmente mais as suas aplicações na esfera financeira do que os seus investimentos na esfera produtiva. É o que se chama de mundialização financeira. O capital "faz lucro" a partir do capital fictício por atividades especulativas no mercado bursátil. Este super desenvolvimento da esfera financeira aumenta o recurso ao endividamento maciço das grandes empresas, fazendo aumentar os custos de produção e circulação de mercadorias, que começam a abarrotar nas praças do consumo final, diante de um contigente populacional cada vez maior e com menos recursos monetários para exercer a “compra”. Como assinalou historicamente Marx , é o “vírus” inexorável do movimento econômico capitalista do qual não há “vacina alguma para curar esta enfermidade”, existe somente uma única alternativa: Enterrar o defunto em decomposição com a revolução socialista!