O Blog da LBI reproduz a entrevista inédita no Brasil, do
professor Didier Raoult, um dos maiores especialistas do mundo em doenças
infecciosas, que afirmou estar convencido de ter encontrado um medicamento
efetivo contra o coronavírus. Publicada originalmente no Journal Le Parisien, na entrevista o Prof. Raoult julga "imoral" esperar
para administrá-lo, em função de interesses comerciais dos grandes laboratórios
transnacionais. Diretor do “Institut hospitalo-universitaire Méditerranée
Infection de Marselha” (Bouches-du-Rhône), este laureado mestre infectologista,
especialista em epidemias emergentes afirma que a cloroquina (um medicamento
anti-palúdico utilizado há décadas) tem efeitos espectaculares sobre a pandemia
em curso. Seis dias após ter administrado o remédio em pacientes atingidos pelo
Covid-19, afirma que só 25% deles eram
portadores do vírus. Mas 90% daqueles que não haviam recebido este tratamento
continuavam a ser positivos. O ministro da Saúde da França, Olivier Véran,
anunciou em 21 de Março que este tratamento será experimentado "em maior
escala": "Pedi que o estudo do professor Raoult seja reproduzido
(...) em outros centros hospitalares, por outras equipes independentes",
declarou o Ministro do governo Macron. Por interesses puramente mercantis, no
que se refere a registrar uma nova patente para a cloroquina possivelmente adicionada
com outro elemento de menor efeito terapêutico ou importância química, os
trustes transnacionais da indústria farmacêutica estão retardando o lançamento
do novo produto em grande escala no mercado, com foco voltado para um grande
“boom” no valor de suas ações na bolsa de valores.
LE PARISIEN – O governo francês autorizou um ensaio clínico
de grande amplitude para testar o efeito da cloroquina sobre o Coronavírus. É
importante para o senhor ter obtido isso?
DIDIER RAOULT – Não, não me vanglorio disso. Penso que há
pessoas que vivem na Lua e comparam os ensaios terapêuticos da AIDS com uma
doença infecciosa emergente. Eu, como qualquer outro médico, a partir do
momento em que um tratamento se mostrou eficaz, considero imoral não o
administrar. É tão simples quanto isso.
LE PARISIEN – O que é que o Sr. responde aos médicos que
apelam à prudência e são reservados quanto aos seus ensaios e o efeito da
cloroquina, nomeadamente na ausência de estudos mais minuciosos?
DIDIER RAOULT – Compreenda-me bem, eu sou um cientista e
reflito como um cientista com elementos verificáveis. Tenho produzido mais
dados em doenças infecciosas do que qualquer outro no mundo. Sou um médico,
vejo doentes. Tenho 75 pacientes hospitalizados, 600 consultas por dia.
Portanto, as opiniões de uns e de outros, isso me é indiferente. Na minha
equipe, somos pessoas pragmáticas, não pássaros de televisão.
LE PARISIEN – Como é que chegou a trabalhar sobre a
cloroquina dizendo que isso poderia ser eficaz para tratar o coronavírus?
DIDIER RAOULT – O problema neste país é que as pessoas que
falam são de uma ignorância crassa. Fiz um estudo científico sobre a cloroquina
e os vírus há treze anos atrás e que foi publicado. Desde então, quatro outros
estudos de outros autores mostraram que o Coronavírus era sensível à
cloroquina. Tudo isso não é uma novidade. Que o círculo da governança não seja sequer informado acerca
do estado da ciência, é sufocante. A eficácia potencial da cloroquina sobre os
modelos de cultura viral é conhecida. Sabia-se que era um anti-viral eficaz. Decidiu-se nas nossas experiências acrescentar um tratamento
de azitromicina (um antibiótico contra a pneumonia bacteriana, NR) para evitar
as infecções bacterianas posteriores. Os resultados revelaram-se espectaculares
nos pacientes atingidos pelo Covid-19 quando se acrescentou a azitromicina à
hidroxicloroquina.
LE PARISIEN – O que espera dos ensaios conduzidos em maior
escala em torno da cloroquina?
DIDIER RAOULT – Nada. Com a minha equipe, consideramos ter
encontrado um tratamento. E no plano da ética médica, considero não ter o
direito enquanto médico de não utilizar o único tratamento que até agora tem
provas dadas. Estou convencido que no fim todo o mundo utilizará este
tratamento. É apenas uma questão de tempo até as pessoas aceitarem “comer o seu
chapéu e dizer”: é isso que é preciso fazer.
LE PARISIEN – Sob qual forma e durante quanto tempo o
administra a cloroquina aos vossos pacientes?
DIDIER RAOULT – Dá-se a hidroxicloroquina à razão de 600 mg
por dia durante dez dias, sob a forma de comprimidos administrados três vezes
por dia. E a azitromicina a 250 mg à razão de duas vezes no primeiro dia e
depois uma vez por dia durante cinco dias.
LE PARISIEN – Será um tratamento que pode ser tomado como
prevenção da doença?
DIDIER RAOULT – Não o sabemos.
LE PARISIEN – Quando o administra, ao cabo de quanto tempo
um paciente atingido pelo Covid-10 pode ficar curado?
DIDIER RAOULT – O que se sabe no momento é que o vírus
desaparece ao longo de seis dias.
LE PARISIEN – Compreende entretanto que alguns dos seus
colegas apelam à prudência quanto este tratamento?
DIDIER RAOULT – As pessoas dão a sua opinião sobre tudo, mas
eu não falo senão daquilo que conheço, não dou minha opinião sobre a composição
da equipe francesa de futebol! Cada um na sua profissão. A comunicação
científica deste país hoje em dia parece conversa de café.
LE PARISIEN – Mas não há regras de prudência a respeitar
antes da administração de um novo tratamento?
DIDIER RAOULT – Aqueles que dizem que é preciso trinta
estudos multicêntricos e mil pacientes incluídos, respondo que se se devesse
aplicar as regras das metodologias atuais seria preciso refazer um estudo sobre
o interesse dos paraquedas. Tomar 100 pessoas, a metade com paraquedas e a
outra sem e contar os mortos no fim para ver o que é mais eficaz. Quando se tem um tratamento que funciona contra zero outros
tratamentos disponíveis, é este tratamento que se deveria tornar a referência.
É minha liberdade de prescrição enquanto médico. Não se tem de obedecer às
injunções do Estado para tratar os doentes. As recomendações da Alta autoridade
de saúde são uma indicação, mas isso não nos obriga. Desde Hipócrates, o médico
faz o melhor que pode, no estado dos seus conhecimentos e no estado da ciência.
LE PARISIEN – E quanto a riscos de efeitos indesejáveis
graves ligados à tomada de cloroquina, nomeadamente em alta dose?
DIDIER RAOULT – Ao contrário do que dizem alguns na mídia, a
Nivaquina é bastante menos tóxica do que o Doliprane ou a aspirina tomada em
dose forte. De qualquer forma, um medicamento não deve ser tomado por conta
própria e deve ser sempre prescrito por um médico clínico ou por um
especialista.
LE PARISIEN – Tem consciência de suscitará uma imensa
esperança de cura para os pacientes atingidos?
DIDIER RAOULT – Eu vejo sobretudo que há médicos que me
escrevem do mundo inteiro todos os dias para saber como se trata das doenças
com a hidroxicloroquina. Recebi pedidos do Massachusetts General Hospital e da
Mayo Clinic de Londres. Os dois maiores especialistas mundiais, um das doenças
infecciosas, o outro dos tratamentos antibióticos, contactaram-me para me pedir
pormenores sobre a maneira de efetuar este tratamento. E mesmo, Donald Trump tuitou oportunistamente acerca dos resultados dos nossos ensaios. Só
neste país é que não se sabe muito bem quem eu sou! Só porque não se vive
dentro da periferia parisiense, não quer dizer que não se faça ciência. Este país
tornou-se Versalhes no século XVIII!
LE PARISIEN – O que entende por isso?
DIDIER RAOULT – Colocam-se questões nacionais
franco-francesas e mesmo municipais parisino-parisienses. Mas Paris está
completamente defasada do resto do mundo. Tomemos o exemplo da Coreia do Sul e
da China, onde já quase não existem novos casos. Nestes dois países, eles
decidiram há muito tempo realizar testes em larga escala para poder
diagnosticar mais cedo os pacientes infectados. Este é o princípio básico da
gestão das doenças infecciosas. Mas chegamos ao ponto de insanidade tal que os médicos nos
écrans de TV não aconselham mais a fazer o diagnóstico da doença, mas dizem às
pessoas para ficarem confinadas em casa. Isto não é medicina.
LE PARISIEN – Pensa que o confinamento da população não será
eficaz?
DIDIER RAOULT – Jamais foi praticado na época moderna.
Fazia-se isso no século XIX durante a cólera em Marselha. A ideia do
acantonamento das pessoas para bloquear doenças infecciosas nunca deu provas.
Não se sabe mesmo se isso funciona. Trata-se de improvisação social e não se
medem todos os efeitos colaterais. O que acontecerá quando as pessoas ficarem
encerradas nas suas casas, a portas fechadas, durante 30 ou 40 dias? Na China,
relatam-se casos de suicídios por medo do coronavírus. Alguns vão lutar entre
si ou entrar em depressão profunda.
LE PARISIEN – Será preciso, como reclama a Organização
Mundial da Saúde, generalizar os testes em França?
DIDIER RAOULT – Tenhamos a coragem dizer: A França não faz
senão 5000 testes por dia quando a Alemanha efectua 160 mil por semana! Há uma
espécie de discordância. Nas doenças infecciosas, efetua-se o diagnóstico das
pessoas e, uma vez obtido o resultado, são tratadas. Tanto mais que se começa a
ver pessoas portadoras do vírus, aparentemente sem sinais clínicos, mas que num
número não desprezível de casos têm lesões pulmonares visíveis em exames de
tomografia computadorizada mostrando que estão doentes. Se estas pessoas não
forem tratadas a tempo, há um risco razoável de serem encontradas em cuidados
intensivos onde não serão recuperadas. Testar as pessoas apenas quando já estão
gravemente doentes é, portanto, uma maneira extremamente artificial de aumentar
a mortalidade.
LE PARISIEN – E é preciso generalizar a utilização das
máscaras?
DIDIER RAOULT – É difícil avaliar. Sabe-se que elas são
importantes para as pessoas dos cuidados de saúde, pois são as raras pessoas
que têm realmente extremamente próximas com os doentes quando as auscultam, por
vezes a 20 cm do seu rosto. Não se sabe muito bem até onde voam os vírus. Mas
certamente não a mais de um metro. Portanto, para além desta distância, talvez
não faça muito sentido utilizar uma máscara. De qualquer forma, é para os hospitais que é preciso enviar
as máscaras prioritariamente a fim de resguardar os cuidadores. Na Itália e na
China, uma parte extremamente importante dos doentes acabou por estar entre o
pessoal dos cuidados sanitários.
JOURNAL LE PARISIEN
24/Março/2020