quinta-feira, 26 de março de 2020

PARA DECIFRAR O CORONAVÍRUS: ENTREVISTA INÉDITA NO BRASIL COM O PROFESSOR DIDIER RAOULT, UM DOS MAIS LAUREADOS INFECTOLOGISTAS DO MUNDO


O Blog da LBI reproduz a entrevista inédita no Brasil, do professor Didier Raoult, um dos maiores especialistas do mundo em doenças infecciosas, que afirmou estar convencido de ter encontrado um medicamento efetivo contra o coronavírus. Publicada originalmente no Journal Le Parisien, na entrevista o Prof. Raoult julga "imoral" esperar para administrá-lo, em função de interesses comerciais dos grandes laboratórios transnacionais. Diretor do “Institut hospitalo-universitaire Méditerranée Infection de Marselha” (Bouches-du-Rhône), este laureado mestre infectologista, especialista em epidemias emergentes afirma que a cloroquina (um medicamento anti-palúdico utilizado há décadas) tem efeitos espectaculares sobre a pandemia em curso. Seis dias após ter administrado o remédio em pacientes atingidos pelo Covid-19, afirma que só 25% deles eram portadores do vírus. Mas 90% daqueles que não haviam recebido este tratamento continuavam a ser positivos. O ministro da Saúde da França, Olivier Véran, anunciou em 21 de Março que este tratamento será experimentado "em maior escala": "Pedi que o estudo do professor Raoult seja reproduzido (...) em outros centros hospitalares, por outras equipes independentes", declarou o Ministro do governo Macron. Por interesses puramente mercantis, no que se refere a registrar uma nova patente para a cloroquina possivelmente adicionada com outro elemento de menor efeito terapêutico ou importância química, os trustes transnacionais da indústria farmacêutica estão retardando o lançamento do novo produto em grande escala no mercado, com foco voltado para um grande “boom” no valor de suas ações na bolsa de valores.

LE PARISIEN – O governo francês autorizou um ensaio clínico de grande amplitude para testar o efeito da cloroquina sobre o Coronavírus. É importante para o senhor ter obtido isso?

DIDIER RAOULT – Não, não me vanglorio disso. Penso que há pessoas que vivem na Lua e comparam os ensaios terapêuticos da AIDS com uma doença infecciosa emergente. Eu, como qualquer outro médico, a partir do momento em que um tratamento se mostrou eficaz, considero imoral não o administrar. É tão simples quanto isso.

LE PARISIEN – O que é que o Sr. responde aos médicos que apelam à prudência e são reservados quanto aos seus ensaios e o efeito da cloroquina, nomeadamente na ausência de estudos mais minuciosos?

DIDIER RAOULT – Compreenda-me bem, eu sou um cientista e reflito como um cientista com elementos verificáveis. Tenho produzido mais dados em doenças infecciosas do que qualquer outro no mundo. Sou um médico, vejo doentes. Tenho 75 pacientes hospitalizados, 600 consultas por dia. Portanto, as opiniões de uns e de outros, isso me é indiferente. Na minha equipe, somos pessoas pragmáticas, não pássaros de televisão.

LE PARISIEN – Como é que chegou a trabalhar sobre a cloroquina dizendo que isso poderia ser eficaz para tratar o coronavírus?

DIDIER RAOULT – O problema neste país é que as pessoas que falam são de uma ignorância crassa. Fiz um estudo científico sobre a cloroquina e os vírus há treze anos atrás e que foi publicado. Desde então, quatro outros estudos de outros autores mostraram que o Coronavírus era sensível à cloroquina. Tudo isso não é uma novidade. Que o círculo da governança não seja sequer informado acerca do estado da ciência, é sufocante. A eficácia potencial da cloroquina sobre os modelos de cultura viral é conhecida. Sabia-se que era um anti-viral eficaz. Decidiu-se nas nossas experiências acrescentar um tratamento de azitromicina (um antibiótico contra a pneumonia bacteriana, NR) para evitar as infecções bacterianas posteriores. Os resultados revelaram-se espectaculares nos pacientes atingidos pelo Covid-19 quando se acrescentou a azitromicina à hidroxicloroquina.

LE PARISIEN – O que espera dos ensaios conduzidos em maior escala em torno da cloroquina?

DIDIER RAOULT – Nada. Com a minha equipe, consideramos ter encontrado um tratamento. E no plano da ética médica, considero não ter o direito enquanto médico de não utilizar o único tratamento que até agora tem provas dadas. Estou convencido que no fim todo o mundo utilizará este tratamento. É apenas uma questão de tempo até as pessoas aceitarem “comer o seu chapéu e dizer”: é isso que é preciso fazer.

LE PARISIEN – Sob qual forma e durante quanto tempo o administra a cloroquina aos vossos pacientes?

DIDIER RAOULT – Dá-se a hidroxicloroquina à razão de 600 mg por dia durante dez dias, sob a forma de comprimidos administrados três vezes por dia. E a azitromicina a 250 mg à razão de duas vezes no primeiro dia e depois uma vez por dia durante cinco dias.

LE PARISIEN – Será um tratamento que pode ser tomado como prevenção da doença?

DIDIER RAOULT – Não o sabemos.

LE PARISIEN – Quando o administra, ao cabo de quanto tempo um paciente atingido pelo Covid-10 pode ficar curado?

DIDIER RAOULT – O que se sabe no momento é que o vírus desaparece ao longo de seis dias.

LE PARISIEN – Compreende entretanto que alguns dos seus colegas apelam à prudência quanto este tratamento?

DIDIER RAOULT – As pessoas dão a sua opinião sobre tudo, mas eu não falo senão daquilo que conheço, não dou minha opinião sobre a composição da equipe francesa de futebol! Cada um na sua profissão. A comunicação científica deste país hoje em dia parece conversa de café.

LE PARISIEN – Mas não há regras de prudência a respeitar antes da administração de um novo tratamento?

DIDIER RAOULT – Aqueles que dizem que é preciso trinta estudos multicêntricos e mil pacientes incluídos, respondo que se se devesse aplicar as regras das metodologias atuais seria preciso refazer um estudo sobre o interesse dos paraquedas. Tomar 100 pessoas, a metade com paraquedas e a outra sem e contar os mortos no fim para ver o que é mais eficaz. Quando se tem um tratamento que funciona contra zero outros tratamentos disponíveis, é este tratamento que se deveria tornar a referência. É minha liberdade de prescrição enquanto médico. Não se tem de obedecer às injunções do Estado para tratar os doentes. As recomendações da Alta autoridade de saúde são uma indicação, mas isso não nos obriga. Desde Hipócrates, o médico faz o melhor que pode, no estado dos seus conhecimentos e no estado da ciência.

LE PARISIEN – E quanto a riscos de efeitos indesejáveis graves ligados à tomada de cloroquina, nomeadamente em alta dose?

DIDIER RAOULT – Ao contrário do que dizem alguns na mídia, a Nivaquina é bastante menos tóxica do que o Doliprane ou a aspirina tomada em dose forte. De qualquer forma, um medicamento não deve ser tomado por conta própria e deve ser sempre prescrito por um médico clínico ou por um especialista.

LE PARISIEN – Tem consciência de suscitará uma imensa esperança de cura para os pacientes atingidos?

DIDIER RAOULT – Eu vejo sobretudo que há médicos que me escrevem do mundo inteiro todos os dias para saber como se trata das doenças com a hidroxicloroquina. Recebi pedidos do Massachusetts General Hospital e da Mayo Clinic de Londres. Os dois maiores especialistas mundiais, um das doenças infecciosas, o outro dos tratamentos antibióticos, contactaram-me para me pedir pormenores sobre a maneira de efetuar este tratamento. E mesmo, Donald Trump tuitou oportunistamente acerca dos resultados dos nossos ensaios. Só neste país é que não se sabe muito bem quem eu sou! Só porque não se vive dentro da periferia parisiense, não quer dizer que não se faça ciência. Este país tornou-se Versalhes no século XVIII!

LE PARISIEN – O que entende por isso?

DIDIER RAOULT – Colocam-se questões nacionais franco-francesas e mesmo municipais parisino-parisienses. Mas Paris está completamente defasada do resto do mundo. Tomemos o exemplo da Coreia do Sul e da China, onde já quase não existem novos casos. Nestes dois países, eles decidiram há muito tempo realizar testes em larga escala para poder diagnosticar mais cedo os pacientes infectados. Este é o princípio básico da gestão das doenças infecciosas. Mas chegamos ao ponto de insanidade tal que os médicos nos écrans de TV não aconselham mais a fazer o diagnóstico da doença, mas dizem às pessoas para ficarem confinadas em casa. Isto não é medicina.

LE PARISIEN – Pensa que o confinamento da população não será eficaz?

DIDIER RAOULT – Jamais foi praticado na época moderna. Fazia-se isso no século XIX durante a cólera em Marselha. A ideia do acantonamento das pessoas para bloquear doenças infecciosas nunca deu provas. Não se sabe mesmo se isso funciona. Trata-se de improvisação social e não se medem todos os efeitos colaterais. O que acontecerá quando as pessoas ficarem encerradas nas suas casas, a portas fechadas, durante 30 ou 40 dias? Na China, relatam-se casos de suicídios por medo do coronavírus. Alguns vão lutar entre si ou entrar em depressão profunda.

LE PARISIEN – Será preciso, como reclama a Organização Mundial da Saúde, generalizar os testes em França?

DIDIER RAOULT – Tenhamos a coragem dizer: A França não faz senão 5000 testes por dia quando a Alemanha efectua 160 mil por semana! Há uma espécie de discordância. Nas doenças infecciosas, efetua-se o diagnóstico das pessoas e, uma vez obtido o resultado, são tratadas. Tanto mais que se começa a ver pessoas portadoras do vírus, aparentemente sem sinais clínicos, mas que num número não desprezível de casos têm lesões pulmonares visíveis em exames de tomografia computadorizada mostrando que estão doentes. Se estas pessoas não forem tratadas a tempo, há um risco razoável de serem encontradas em cuidados intensivos onde não serão recuperadas. Testar as pessoas apenas quando já estão gravemente doentes é, portanto, uma maneira extremamente artificial de aumentar a mortalidade.

LE PARISIEN – E é preciso generalizar a utilização das máscaras?

DIDIER RAOULT – É difícil avaliar. Sabe-se que elas são importantes para as pessoas dos cuidados de saúde, pois são as raras pessoas que têm realmente extremamente próximas com os doentes quando as auscultam, por vezes a 20 cm do seu rosto. Não se sabe muito bem até onde voam os vírus. Mas certamente não a mais de um metro. Portanto, para além desta distância, talvez não faça muito sentido utilizar uma máscara. De qualquer forma, é para os hospitais que é preciso enviar as máscaras prioritariamente a fim de resguardar os cuidadores. Na Itália e na China, uma parte extremamente importante dos doentes acabou por estar entre o pessoal dos cuidados sanitários.

JOURNAL LE PARISIEN

24/Março/2020