terça-feira, 10 de março de 2020

QUEDA NO PREÇO DO PETRÓLEO: DISPUTA COMERCIAL ENTRE RÚSSIA E ÁRABES OU GUERRA HÍBRIDA DE TRUMP CONTRA PUTIN E MADURO?


A OPEP e "países parceiros" (o acordo envolvendo OPEP e outros grandes produtores mundiais) foi implementado pela primeira vez em dezembro de 2017, quando as cotações do petróleo Brent caíram para US$ 40,00, o barril. O acordo, visando limitar sensivelmente as exportações, segurou as cotações do Brent acima de US$ 60 por barril e, em alguns momentos, acima de US$ 70. Na quinta-feira passada (05/03) países da OPEP propuseram cortes adicionais nas exportações, para impedir a queda provocada pela redução da atividade econômica mundial com o coronavírus. A Rússia não estava presente na reunião. Na última sexta-feira seus representantes recusaram a proposta do corte adicional, provocando uma queda de 10% nos preços do petróleo, o pior dia em mais de cinco anos. Havia uma lógica da reação do governo Putin, o acordo em vigor reduziu a oferta de petróleo da OPEP e melhorou as cotações do petróleo Brent. Mas o espaço aberto pela queda da produção foi ocupada pelo óleo de xisto norte-americano americano. Principal aliada do imperialismo ianque, o “troco” veio da Arábia Saudita. Na quinta-feira, a monarquia saudita havia proposto reduzir a produção para 9 milhões de barris dia. Com a decisão da Rússia, de sair do acordo, no dia seguinte anunciou o aumento de sua produção podendo chegar a 12 milhões, com oferta agressiva de desconto às refinarias. O anúncio derrubou os preços do petróleo Brent  para US$ 45 o barril. 

A lógica apresentada  foi simples, se a decisão da Rússia implicaria em queda nas cotações, a maneira da Arábia Saudita compensar a queda de receita seria aumentar a produção, o que acentuaria a queda nas cotações. O cenário é de uma crise crescente, o rentista Goldman Sachs reduziu sua previsão de preço para o Brent para US $ 30 o barril no segundo e terceiro trimestres deste ano e alertou que pode haver queda para US $ 20 o barril nas próximas semanas, será o caos no mercado. A guerra comercial aberta neste segmento não afetará apenas a Rússia mas também os aliados de Trump no Golfo, como Emirados Árabes Unidos e Kuwait. Estes países serão obrigado a reduzir os preços e, para preservar a receita, aumentar a produção do óleo. Vários analistas especializados estimam que se não houver a recomposição dos tratados, as cotações de petróleo poderão cair para US$ 30 ou menos, voltando à guerra de preços de 2014. Há quem aposte no barril de petróleo abaixo de US$ 20 por barril. Em dezembro de 1998, quando a Arábia Saudita armou uma das guerras de preços, as cotações caíram para US$ 9,55 o barril. Os maiores atingidos com esta crise serão as economias periféricas, mas também haverá problemas reais de inadimplência nos mercados futuros de petróleo, incluindo países não produtores. Porém o “pano de fundo” desta “disputa” comercial parece ter mesmo o “condão” da guerra híbrida promovida pela Casa Branca contra regimes políticos adversários, neste caso concreto o foco de Trump são os governos Putin e Maduro. A Venezuela grande produtora de petróleo vem sofrendo um severo cerco econômico dos EUA, antigo consumidor de sua produção de óleo cru. Com a decisão de Trump em suspender as importações de petróleo da Venezuela, o governo do presidente Maduro tentou buscar outro grande mercado (a China era uma possibilidade limitada em função de já ser um grande importador de dezena de países dependentes), o que é bastante difícil nesta situação mundial de “abundância forçada” na extração, e para piorar o quadro o maior aliado do regime chavista é a própria Rússia, também grande produtora de hidrocarbonetos. Ainda é muito cedo para lançar prognósticos sobre o deslinde desta grave crise, para além dos escandalosos lucros na especulação financeira dos tubarões de Wall Street. Possivelmente empresas estatais de Petróleo mais frágeis poderão “quebrar” em varias regiões do planeta, este é um dos objetivos de Washington. A Rússia terá seguramente reservas para segurar a pressão imperialista por mais tempo, já o regime burguês nacionalista da Venezuela será fortemente pressionado a ceder ainda mais no caminho do neoliberalismo. Este vem sendo um dos resultados colhidos por Trump ao lançar o movimento de “guerras híbridas” no cenário político internacional. A palavra final estará com o desenvolvimento da luta de classes e sua capacidade de derrotar a ofensiva imperialista contra as nações oprimidas.