MORRE TONY NEGRI AOS 90 ANOS: SUA ELABORAÇÃO “O IMPÉRIO” É
UMA CONTRIBUIÇÃO VALIOSÍSSIMA AO MARXISMO E QUE DESGRAÇADAMENTE O PRÓPRIO AUTOR
ABANDONOU
Tony Negri morreu ontem (15/12) em Paris aos 90 anos. Da infância italiana durante a Segunda Guerra ao aprendizado dos princípios filosóficos do socialismo e sua adesão à militância comunista, da prisão ao exílio e finalmente da elaboração de sua obra “O Império” (em parceria com Michael Hardt), uma das mais importantes contribuições contemporâneas ao Marxismo Revolucionário. No Livro “O Império”, Negri tenta demonstrar uma certa obsolescência do Marxismo, revelando que a teoria Leninista do imperialismo teria sido superada pela hegemonia global do mercado financeiro sobre os Estados, inclusive das potências capitalistas. Muito mais além da tentativa inútil de sua narrativa tentar superar filosoficamente o Marxismo, Negri e Hardt acabaram, mesmo sem querer, agregando uma valiosíssima atualização revolucionária ao Leninismo, demonstrando que toda a acumulação capitalista concentrada em um único segmento, o rentismo financeiro internacional, acabou por criar um único imperialismo sem nacionalidade (O Império), gerando a edificação de seu próprio Quartel General Global (o Estado dos Estados), muito acima dos interesses imediatos dos governos burgueses, sejam semicoloniais ou imperialistas. Essa importante elaboração, não pode ser confundida com a grosseira teoria do “Super Imperialismo” de Karl Kautsky , pensada pelo Social Democrata alemão no início do século passado para tentar legitimar o apoio ao seu país na Primeira Guerra Mundial. A elaboração de “O Império” no início do século XXI, ocorreu no ápice do processo chamado de “Globalização”, um eufemismo para denominar o início de um período histórico onde os mercados financeiros locais, já totalmente interligados, com o auxílio da tecnologia quântica, formaram um único e gigantesco fluxo de capital mundial. Este fenômeno avançado da economia capitalista (mergulhada em uma crise estrutural de superprodução), obviamente exigia a construção de um “Comitê Executivo Central” para gerir e dirigir esse fluxo financeiro, que foi a origem do advento da Governança Global!
Para Negri, o Império pode ser definido como um aparelho de poder e centralização global, o que implica necessariamente em um gradual processo de “desnacionalização“ das principais corporações capitalistas e portanto de fragilização dos seus Estados “protetores”. Para Marx, o capital opera reconfigurando fronteiras entre exterior e interior. O capital não pode funcionar dentro dos limites de um único território nacional e população fixa, possui uma tendência a expandir-se, um sistema econômico imanente que não pode parar de se expandir, e que o limite do capitalismo é sua própria superação revolucionária. Entretanto na etapa histórica vivida por Marx e também por Lenin, os Estados nacionais estavam em pleno período de fortalecimento, e o surgimento do imperialismo é a expressão maior desta fase da humanidade. Entretanto Negri e Michael não “quiseram” perceber esta particularidade histórica dialética, atribuindo a Lenin um “defeito” germinal em sua espetacular teoria sobre o imperialismo, fase superior do capitalismo.
Antonio Negri foi preso na Itália em 1979, por “associação e
insurreição contra o Estado”. Foi um dos protagonistas da luta armada, pela via
de sua organização política autonomista e chegou a ser acusado de colaboração
com as “Brigadas Vermelhas” na operação do assassinato do ex-Primeiro Ministro
Aldo Moro. Posteriormente Negri viveu por vários anos na França sob asilo
político do governo Mitterrand, retornando à Itália em 1997 para iniciar o
cumprimento de uma pena de 12 anos, sendo liberado da condenação judicial em
2003. Neste momento Negri finaliza sua revisão teórica do que chamava de
“marxismo ortodoxo”, rompendo com seu próprio passado militante e ao mesmo
tempo “calibrando” sua elaboração para uma nova dinâmica econômica global do
capitalismo sob a égide do fim da URSS.
Para Negri, uma vez que a globalização neoliberal marca o enfraquecimento da soberania nacional, seria também correto abstrair que o próprio imperialismo norte-americano, totalmente hegemônico no pós guerra, acaba perdendo sua principal característica de representar unicamente os interesses da burguesia ianque. A fusão contínua de corporações imperialistas transnacionais e a concentração de capitais somente em um mega fundo financeiro global e apátrida está na gênese do “Império”, para o pensamento de Negri (do qual temos uma série de observações críticas) e do conceito de Governança Global do Capital Financeiro para os Marxistas Revolucionários. A caracterização do “Império”, realizada por Negri, embora limitada pelos preconceitos pós modernos do filósofo italiano contra o Leninismo, representou um marco conceitual progressivo na teoria econômica marxista. Desta obra de Negri, devemos “amputar” seus aspectos da apologia de uma plataforma antineoliberal, totalmente desvinculada da perspectiva da revolução proletária, que desgraçadamente pontuou a trajetória social democrata de Antonio nas últimas décadas.