EM JANEIRO DE 1891 NASCIA ANTONIO GRAMSCI: A TRAJETÓRA DO GENAIL DIRIGENTE COMUNISTA QUE ELABOROU UMA CONTUNDENTE CRÍTICA TEÓRICA A DEFORMAÇÃO DO MARXISMO OPERADA POR STÁLIN
Em 22 Janeiro de 1891 nascia o grande comunista Antonio
Gramsci. Em sua homenagem nos Trotskistas ressaltamos que é importante retornar
à leitura, que em 1917, o militante sardo, então com vinte e seis anos, fez dos
acontecimentos da Rússia, e também ao que dessa interpretação permaneceu em sua
bagagem teórico-política mais madura como uma formulação rica em revigorar de
forma principista o Marxismo. A revolução Bolchevique liderada por Lenin e
Trotsky, constituiu para o jovem sardo, transplantado para Turim, um ponto de
virada política, teórica e existencial, a partir do qual iniciou o
amadurecimento de seu pensamento e a sua história de comunista. Para
compreender como Gramsci se relacionou com a Revolução de Outubro é preciso,
portanto, partir do reconhecimento de que Gramsci foi sempre, dos anos turineses
às obras do cárcere, não apenas um teórico da revolução, mas um revolucionário
em sua plenitude, Isso foi sublinhado pelo histórico dirigente do PCI, Palmiro
Togliatti, ao afirmar: “Gramsci foi um teórico da política, mas sobretudo foi
um político prático, isto é, um combatente. É preciso buscar na política a
unidade da vida de Antonio Gramsci: o ponto de partida e o ponto de chegada”.
Militância política como revolução, no caso de Gramsci, política como luta pela
transformação socialista do mundo. Inicialmente, na vida do futuro dirigente
comunista, política como rebelião ativa do proletariado. Como o próprio Gramsci
recordou em uma carta, de 1924, à esposa, isto que o havia conduzido a um
estado de rebelião em relação às condições sociais do seu tempo e do seu país
teve origem nas dolorosas experiências pessoais, que remontavam aos anos de
infância, quando (depois da prisão do pai) a família foi lançada na miséria,
obrigando o pequeno Nino, ainda menino, a suspender por algum tempo a escola,
ao fim do primário, para trabalhar no cartório de registro de imóveis de
Ghilarza. Isto que então o tinha salvado de “tornar-se um trapo engomado”, como
ele escrevia. Foi o: “Instinto da rebelião, desde menino era contra os ricos,
porque não podia estudar, eu que tinha obtido dez em todas as matérias da
escola primária, enquanto iam para a escola os filhos do açougueiro, do
farmacêutico, do negociante de tecidos”. Já na Sardenha, porém, Antonio havia
começado a ler os livros e revistas daquela cultura de oposição a Giolitti e ao
giolittismo, que foi o terreno sobre o qual ele inicialmente se formou política
e culturalmente. Em 1911, Gramsci se mudou para Turim, para frequentar a
faculdade de Letras e Filosofia, graças a uma bolsa de estudo, suficiente
apenas para sua sobrevivência. Em Turim aderiu, já antes da Grande Guerra, ao
movimento socialista. Mas o seu marxismo, a sua concepção de mundo, era então
muito particular: pela sua formação cultural, o marxismo do jovem Gramsci foi
subjetivista, antideterminista, antieconomiscista, influenciado precisamente
pelo neoidealismo e pelo bergsonismo mediado por Sorel. Um marxismo original,
portanto, também ingênuo em alguma medida, baseado no primado absoluto e
idealista da vontade. Não faltavam nestes anos traços importantes de uma visão
dialética e antideterminista dos processos revolucionários. No artigo
“Socialismo e cultura”, por exemplo, Gramsci apresentava uma definição da
cultura como conquista e valorização do próprio eu e, portanto crescimento da
subjetividade . Era clara, para ele, a importância nos processos de
transformação, e também nas grandes revoluções – da aquisição da consciência,
das ideias, dos valores. De fato, escrevia Gramsci:”Toda revolução foi
precedida por um intenso e permanente trabalho de crítica, de penetração
cultural, de impregnação de ideias. O último exemplo, o mais próximo de nós e
por isso menos distinto do nosso, é o da Revolução Francesa. O período cultural
que a antecedeu, chamado de Iluminismo, tão difamado pelos críticos superficiais
da razão teórica, não foi, de modo algum, ou pelo menos não foi apenas um
fenômeno de intelectualismo pedante e árido, similar ao que vemos diante de
nossos olhos e que encontra sua maior manifestação nas universidades populares
de baixo nível. Foi ele mesmo uma magnífica revolução, mediante a qual, como
observa agudamente De Sanctis em sua Storia della letteratura italiana:
“Formou-se em toda a Europa uma consciência unitária, uma internacional
espiritual burguesa, sensível em todos os seus elementos às dores e às
desgraças comuns, e que foi a melhor preparação para a sangrenta revolta que
depois teve lugar na França”.