DECLARAÇÃO DA LIGA TROTSKYSTA DA FRANÇA*: “DEFENDAMOS A
JUVENTUDE DOS BAIRROS! LIBERDADE IMEDIATA PARA OS PRESOS!”
O assassinato de Nahel Merzouk em 27 de junho pela polícia provocou uma explosão de raiva espontânea e plenamente justificada, que o governo Macron acabou reprimindo com uma demonstração de violência sem precedentes. Um exército de 45.000 policiais semeou o terror por vários dias nos bairros e centros das cidades, o número de novas vítimas é desconhecido até o momento, há pelo menos um outro jovem morto pela polícia em Marselha. Hordas de fascistas partiram em várias cidades para realizar suas próprias operações terroristas contra os jovens. A direita, a extrema direita e as associações policiais competem com declarações que pedem uma guerra civil contra os oprimidos. Depois da derrota da batalha das pensões, e agora da revolta dos subúrbios, é a reação que assume a ascendência.
A tarefa urgente para deter essa inversão reacionária é mobilizar a classe trabalhadora e a esquerda para defender todos os jovens contra a vingança dos capitalistas. Mais de 3.600 jovens já foram presos; o governo ordenou a detenção sistemática de todos os que os policiais conseguem capturar, não importa do que sejam acusados ou que tipo de evidência tenha sido fabricada contra eles. Já existem pelo menos 380 sentenças de prisão. É hora de organizar protestos em frente a delegacias, tribunais e prisões e organizar solidariedade com os jovens. Eles devem ser libertados imediatamente, todos sem exceção! Apelamos ao movimento operário e à esquerda para financiar a defesa da juventude encarcerada.
Circula desde 5 de julho uma convocatória para a manifestação do dia 8, “Nosso país está de luto e revoltado”, assinada pelo comitê Adama, insubordinada França, CGT, SUD e NPA, entre outros. Mas este chamado nem sequer menciona a libertação dos jovens processados. Essas prisões são, no entanto, uma ameaça direta à próxima onda de luta contra os ataques que o governo está realizando, que visa atacar empregos, pensões e o padrão de vida de toda a classe trabalhadora.
Por que uma questão tão inócua, para qualquer antirracista, como defender os jovens dos bairros contra o terror racista da polícia, sendo tão erguida como uma linha vermelha pelo governo e pela direita e extrema direita, e parte da esquerda ? Porque, no contexto atual, significa colocar em causa o republicanismo, cimento ideológico e fundamento moral do capitalismo francês há mais de cem anos: a lealdade irrestrita à ordem burguesa e às suas instituições, a defesa dos interesses do imperialismo francês secular contra os muçulmanos. Enfrentar a polícia, degradar ou violar a propriedade privada é quebrar o tabu da ordem republicana. Seja defendendo incondicionalmente esses jovens, defendendo os interesses da classe trabalhadora ou lutando para melhorar a situação dos bairros, isso exige romper com esse republicanismo.
Qualquer luta para obter concessões sérias em favor dos trabalhadores implica uma luta feroz contra a burguesia e seu Estado. Não podemos pensar em montar piquetes fortes amanhã se hoje não defendermos os jovens que ousaram se revoltar contra o terror policial. Cada nova onda de repressão contra o movimento operário, ou contra os coletes amarelos, sempre foi preparada por uma novo recrudescimento contra os jovens dos bairros.
O chamado de 5 de julho afirma timidamente: “Nada se pode fazer, porém, sem outra partilha da riqueza, sem lutar contra as desigualdades sociais. Nada pode ser feito sem a luta contra a pobreza e a precariedade“. A explosão massiva de raiva nos bairros após o assassinato racista de Nahel de fato trouxe à tona o cenário de deterioração das moradias, a precariedade cada vez mais generalizada do emprego, o desmantelamento dos sistemas de educação e saúde. É por isso que a luta contra a discriminação e a segregação das minorias oprimidas de origem norte-africana e subsaariana significa lutar por melhores condições de vida e trabalho para a classe trabalhadora como um todo. E isso não pode ser feito sem atacar os interesses mais fundamentais dos capitalistas. O funesto chamado “Nossa pátria” de 5 de julho foi, no entanto, ainda muito radical para o PCF, que se recusou a assiná-lo por mencionar “uma concepção essencialmente repressiva da polícia”. O PCF trouxe assim à tona a demanda de Roussel nas eleições presidenciais para a contratação de mais 30.000 policiais (L'Humanité, 5 de julho). O PS, por sua vez, não conseguiu engolir "as condenações irrestritas da polícia" (Le Monde, 7 de julho).
A luta pela libertação dos jovens deve andar de mãos dadas com as reivindicações por melhores salários e condições de trabalho, pela igualdade de status para todos os trabalhadores para combater a divisão racial exercida pelos patrões. Poderia, assim, servir como uma faísca para mobilizar os trabalhadores para deter a ascensão da reação e avançar na organização da classe trabalhadora para as próximas batalhas.
*Paris 07 Julho 2023 - LTF/membro da International Communist League (Fourth Internationalist)