quinta-feira, 13 de julho de 2023

DECLARAÇÃO DA LIGA TROTSKYSTA DA FRANÇA*: “DEFENDAMOS A JUVENTUDE DOS BAIRROS! LIBERDADE IMEDIATA PARA OS PRESOS!”

O assassinato de Nahel Merzouk em 27 de junho pela polícia provocou uma explosão de raiva espontânea e plenamente justificada, que o governo Macron acabou reprimindo com uma demonstração de violência sem precedentes. Um exército de 45.000 policiais semeou o terror por vários dias nos bairros e centros das cidades, o número de novas vítimas é desconhecido até o momento, há pelo menos um outro jovem morto pela polícia em Marselha. Hordas de fascistas partiram em várias cidades para realizar suas próprias operações terroristas contra os jovens. A direita, a extrema direita e as associações policiais competem com declarações que pedem uma guerra civil contra os oprimidos.  Depois da derrota da batalha das pensões, e agora da revolta dos subúrbios, é a reação que assume a ascendência.

A tarefa urgente para deter essa inversão reacionária é mobilizar a classe trabalhadora e a esquerda para defender todos os jovens contra a vingança dos capitalistas. Mais de 3.600 jovens já foram presos;  o governo ordenou a detenção sistemática de todos os que os policiais conseguem capturar, não importa do que sejam acusados ​​ou que tipo de evidência tenha sido fabricada contra eles. Já existem pelo menos 380 sentenças de prisão. É hora de organizar protestos em frente a delegacias, tribunais e prisões e organizar solidariedade com os jovens. Eles devem ser libertados imediatamente, todos sem exceção! Apelamos ao movimento operário e à esquerda para financiar a defesa da juventude encarcerada.

Circula desde 5 de julho uma convocatória para a manifestação do dia 8, “Nosso país está de luto e revoltado”, assinada pelo comitê Adama, insubordinada França, CGT, SUD e NPA, entre outros. Mas este chamado nem sequer menciona a libertação dos jovens processados. Essas prisões são, no entanto, uma ameaça direta à próxima onda de luta contra os ataques que o governo está realizando, que visa atacar empregos, pensões e o padrão de vida de toda a classe trabalhadora.

Por que uma questão tão inócua, para qualquer antirracista, como defender os jovens dos bairros contra o terror racista da polícia, sendo tão erguida como uma linha vermelha pelo governo e pela direita e extrema direita, e parte da esquerda ? Porque, no contexto atual, significa colocar em causa o republicanismo, cimento ideológico e fundamento moral do capitalismo francês há mais de cem anos: a lealdade irrestrita à ordem burguesa e às suas instituições, a defesa dos interesses do imperialismo francês secular contra os muçulmanos. Enfrentar a polícia, degradar ou violar a propriedade privada é quebrar o tabu da ordem republicana. Seja defendendo incondicionalmente esses jovens, defendendo os interesses da classe trabalhadora ou lutando para melhorar a situação dos bairros, isso exige romper com esse republicanismo.

Qualquer luta para obter concessões sérias em favor dos trabalhadores implica uma luta feroz contra a burguesia e seu Estado. Não podemos pensar em montar piquetes fortes amanhã se hoje não defendermos os jovens que ousaram se revoltar contra o terror policial. Cada nova onda de repressão contra o movimento operário, ou contra os coletes amarelos, sempre foi preparada por uma novo recrudescimento contra os jovens dos bairros.

O chamado de 5 de julho afirma timidamente: “Nada se pode fazer, porém, sem outra partilha da riqueza, sem lutar contra as desigualdades sociais. Nada pode ser feito sem a luta contra a pobreza e a precariedade“. A explosão massiva de raiva nos bairros após o assassinato racista de Nahel de fato trouxe à tona o cenário de deterioração das moradias, a precariedade cada vez mais generalizada do emprego, o desmantelamento dos sistemas de educação e saúde. É por isso que a luta contra a discriminação e a segregação das minorias oprimidas de origem norte-africana e subsaariana significa lutar por melhores condições de vida e trabalho para a classe trabalhadora como um todo. E isso não pode ser feito sem atacar os interesses mais fundamentais dos capitalistas. O funesto chamado “Nossa pátria” de 5 de julho foi, no entanto, ainda muito radical para o PCF, que se recusou a assiná-lo por mencionar “uma concepção essencialmente repressiva da polícia”.  O PCF trouxe assim à tona a demanda de Roussel nas eleições presidenciais para a contratação de mais 30.000 policiais (L'Humanité, 5 de julho). O PS, por sua vez, não conseguiu engolir "as condenações irrestritas da polícia" (Le Monde, 7 de julho).

A luta pela libertação dos jovens deve andar de mãos dadas com as reivindicações por melhores salários e condições de trabalho, pela igualdade de status para todos os trabalhadores para combater a divisão racial exercida pelos patrões. Poderia, assim, servir como uma faísca para mobilizar os trabalhadores para deter a ascensão da reação e avançar na organização da classe trabalhadora para as próximas batalhas.

*Paris 07 Julho 2023 - LTF/membro da International Communist League (Fourth Internationalist)