quinta-feira, 27 de julho de 2023

JANET YELLEN DECLARA: “O DÓLAR MANTÉM SUA HEGEMONIA GRAÇAS A GOVERNANÇA GLOBAL DO CAPITAL FINANCEIRO” 

“Quando usamos sanções financeiras ligadas ao papel do dólar, existe o risco de que com o tempo isso possa minar a hegemonia do próprio dólar”, reconheceu a Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, ontem em entrevista à CNN. Não é a única causa do enfraquecimento do dólar, nem mesmo a mais importante, mas contribui para seu “futuro de incertezas”, que aliás corre paralelamente a crise de hegemonia dos Estados Unidos como potência imperialista mundial. A China é o “primeiro nome na lista” para ocupar a nova sede da Governança Global do Capital Financeiro, porém isso ainda é um longo processo, e não se dará de forma harmoniosa como pretendem os reformistas de todos os matizes políticos.

Yellen também reconhece o aumento significativo do uso do yuan no financiamento do comércio mundial, embora esteja confiante de que o dólar manterá sua posição dominante, já que sua presença no mercado de capitais é sólida, ou seja, graças a Governança do Capital Financeiro que tem seu “cassino de jogos” em Wall Street...O dólar pode ser até encurralado no campo industrial e comercial, mas é imensamente mais forte no campo do fluxo financeiro mundial.

A diversificação do comércio mundial e da demanda por petróleo não põe em risco a posição hegemônica do dólar. A formalização do uso do dólar para o comércio de petróleo pelos países do Golfo no Oriente Médio em 1945 ajudou a estabelecer o domínio do dólar. No entanto, a mudança nas relações tensas entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita está levando os países exportadores de petróleo a se voltarem para outras moedas no comércio da comoditie.

Mas a opção de usar moedas locais é difícil de introduzir, reconheceu o Premiê russo Lavrov em 14 de julho, por causa de sua maior volatilidade do que o dólar e porque sua conversibilidade permanece limitada. O que para os Estados Unidos é uma salvaguarda, o dólar, para o “Terceiro Mundo” é um problema sério.  Recentemente o presidente do Quênia denunciou a obrigatoriedade de negociar com moedas muito fortes, o que as torna reféns das políticas econômicas das grandes potências.

Muitos países capitalistas periféricos em desenvolvimento, especialmente os Brics, começaram a negociar em suas próprias moedas. Na Argentina, a queda das reservas em dólares, impulsionada pela pressão política e pela queda das exportações, desencadeou a inflação. Em resposta, o país começou a usar o yuan para pagar suas importações da China.

Certas correntes reformistas acreditam que a China quer colocar o yuan no mesmo lugar do dólar, o que seria um grande erro do governo pseudo “comunista”de Pequim, uma repetição do que Nixon cometeu em 1971: eliminar a conversibilidade com o ouro. Mesmo que quisesse, a China não poderia colocar o yuan no lugar do dólar devido aos rígidos critérios de controle monetário, ou seja, político sobre sua moeda. Nessas condições, o capital financeiro continuará a preferir o dólar, que, em grande medida, flutua à mercê das bolsas de valores e dos mercados de capitais voláteis internacionais.

O mesmo pode ser dito da moeda comum que os Brics querem introduzir em um futuro distante. É um processo delicado, disse Lavrov. As discussões que terão durante a próxima cúpula, que terá lugar no próximo mês em Joanesburgo, não poderão ir além de declarações de intenções.

Mesmo que a cúpula dos Brics aprovasse o lançamento de uma nova moeda, ela jamais poderia substituir o dólar, e muito menos o ouro, a menos que os Brics declarassem sua conversibilidade, o que seria a verdadeira declaração de guerra aos EUA, o que está muito distante das intenções dos governos capitalistas bricisnianos.