domingo, 5 de abril de 2020

CORONA E CAPITAL, ESPANHA DUPLAMENTE GOLPEADA: CRISE ECONÔMICA AMEAÇA POR ABAIXO A FRÁGIL UNIDADE NACIONAL


A crise capitalista ameaça a economia espanhola já severamente golpeada com a pandemia do coronavírus, sendo o país europeu que mais teve sua população contaminada, até o momento 130 mil casos.  O descompasso das contas do Estado, como dívida pública, déficit primário e previdência social ameaça paralisar o país e inclusive explodir a frágil unidade nacional. Sem a ajuda da União Europeia, a dívida pública, que de acordo com os dados do último trimestre de 2019 é de 95,5%, subirá rapidamente para 140% do Produto Interno Bruto (PIB) até o final deste ano, segundo o instituto europeu Bruegel, presidido pelo ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) Jean-Claude Trichet. O colapso econômico será maior que o da crise financeira de 2008, que causou uma escalada da dívida espanhola que quase culminou no colapso da economia no final de 2011, quando a dívida atingiu 69,5% do PIB.  Diante dessa situação, a desaceleração do consumo, a maior queda histórica no emprego e o aumento nos gastos, somente a ajuda financeira da União Europeia será capaz para evitar a falência e o default das contas. Porém os sinais de Bruxelas apontam no sentido inverso. Provavelmente, o aumento do déficit deste ano será o mais alto registrado em um único ano na história moderna.  A Espanha é o segundo país da União Europeia com um déficit maior em suas contas durante os anos de 2009 e 2018, apenas atrás da Irlanda. Durante esse período, a Espanha consolidou, em média, uma incompatibilidade em suas finanças públicas de 6,93% do PIB, segundo dados do Banco Mundial.  Os países vizinhos não excedem 5,5%, como é o caso de Portugal.  Além disso, a Espanha desviou-se da meta de déficit estabelecida por Bruxelas mais de seis vezes nesses anos. Para evitar sua intervenção, em 2012, Madri teve que recorrer ao Mecanismo Europeu de Estabilidade (Mede).  Agora, o Eurogrupo está estudando novamente para usar essa medida para lançar ajuda aos países mais afetados pela crise, como a Espanha. No entanto, o não cumprimento da trajetória de déficit nos últimos anos diminui a credibilidade da Espanha para solicitar agora apoio econômico e mutualização do risco de dívida soberana, reservado para países que mantiveram contas sólidas e o rigor orçamentário exigido e exequível,  como é o caso na Alemanha e na Holanda. O Mede não é suficiente, como está agora equipado, para atender às solicitações dos países europeus.  Atualmente, possui recursos próprios no valor de 410 bilhões de euros.  A Espanha pretende obter um empréstimo de cerca de 200 bilhões  de euros. Dessa forma, quase metade do mecanismo de estabilidade europeu teria que ir para a Espanha, o que é muito pouco provável.  Os gastos públicos dispararam nas últimas três semanas em função da pandemia. Os custos das medidas aprovadas pelo governo da Espanha para aliviar a crise já estão próximos de 20 bilhões de euros.  Apenas as primeiras medidas envolveram custos de 17.427 bilhões de euros, 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB). O futuro próximo da crise capitalista na Espanha, assim como da vizinha Itália, caminha para a desintegração da zona do euro, e no caso do Estado Espanhol para a própria dissolução da unidade nacional. Cabe ao proletariado forjar sua própria alternativa de reconstrução revolucionária.