A crise capitalista ameaça a economia espanhola já
severamente golpeada com a pandemia do coronavírus, sendo o país europeu que
mais teve sua população contaminada, até o momento 130 mil casos. O descompasso das contas do Estado, como
dívida pública, déficit primário e previdência social ameaça paralisar o país e
inclusive explodir a frágil unidade nacional. Sem a ajuda da União Europeia, a
dívida pública, que de acordo com os dados do último trimestre de 2019 é de
95,5%, subirá rapidamente para 140% do Produto Interno Bruto (PIB) até o final
deste ano, segundo o instituto europeu Bruegel, presidido pelo ex-presidente do
Banco Central Europeu (BCE) Jean-Claude Trichet. O colapso econômico será maior
que o da crise financeira de 2008, que causou uma escalada da dívida espanhola
que quase culminou no colapso da economia no final de 2011, quando a dívida
atingiu 69,5% do PIB. Diante dessa
situação, a desaceleração do consumo, a maior queda histórica no emprego e o
aumento nos gastos, somente a ajuda financeira da União Europeia será capaz
para evitar a falência e o default das contas. Porém os sinais de Bruxelas
apontam no sentido inverso. Provavelmente, o aumento do déficit deste ano será
o mais alto registrado em um único ano na história moderna. A Espanha é o segundo país da União Europeia
com um déficit maior em suas contas durante os anos de 2009 e 2018, apenas
atrás da Irlanda. Durante esse período, a Espanha consolidou, em média, uma
incompatibilidade em suas finanças públicas de 6,93% do PIB, segundo dados do
Banco Mundial. Os países vizinhos não
excedem 5,5%, como é o caso de Portugal.
Além disso, a Espanha desviou-se da meta de déficit estabelecida por
Bruxelas mais de seis vezes nesses anos. Para evitar sua intervenção, em 2012,
Madri teve que recorrer ao Mecanismo Europeu de Estabilidade (Mede). Agora, o Eurogrupo está estudando novamente
para usar essa medida para lançar ajuda aos países mais afetados pela crise,
como a Espanha. No entanto, o não cumprimento da trajetória de déficit nos
últimos anos diminui a credibilidade da Espanha para solicitar agora apoio
econômico e mutualização do risco de dívida soberana, reservado para países que
mantiveram contas sólidas e o rigor orçamentário exigido e exequível, como é o caso na Alemanha e na Holanda. O
Mede não é suficiente, como está agora equipado, para atender às solicitações
dos países europeus. Atualmente, possui
recursos próprios no valor de 410 bilhões de euros. A Espanha pretende obter um empréstimo de
cerca de 200 bilhões de euros. Dessa forma,
quase metade do mecanismo de estabilidade europeu teria que ir para a Espanha,
o que é muito pouco provável. Os gastos
públicos dispararam nas últimas três semanas em função da pandemia. Os custos
das medidas aprovadas pelo governo da Espanha para aliviar a crise já estão
próximos de 20 bilhões de euros. Apenas
as primeiras medidas envolveram custos de 17.427 bilhões de euros, 1,4% do
Produto Interno Bruto (PIB). O futuro próximo da crise capitalista na Espanha,
assim como da vizinha Itália, caminha para a desintegração da zona do euro, e
no caso do Estado Espanhol para a própria dissolução da unidade nacional. Cabe
ao proletariado forjar sua própria alternativa de reconstrução revolucionária.