GUERRA HÍBRIDA: OS “ESTRAGOS” DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS NA
ECONOMIA CHINESA
O próximo ano marca o 100º aniversário da fundação do
Partido Comunista da China, o governo Xi Jinping preparou alguns planos muito
ambiciosos para celebrar a data, dobrar o PIB em relação a 2010, erradicar os
últimos resquícios de pobreza no campo e construir uma "sociedade
moderadamente próspera" para fins deste ano de 2020. Um desafio histórico
em uma sociedade que até 20 anos atrás era taxada pela mídia corporativa
internacional (e também pela esquerda reformista) como “super exploradora do proletariado”.
Porém a meta dependia de um crescimento econômico de 5,5% este ano, que agora
está completamente fora de alcance com a chegada da epidemia do coronavírus na
província de Hubei, paralisando a produção industrial de toda a China por
alguns meses. O objetivo do governo do PCC em elevar o padrão de vida dos 5,5
milhões de chineses que ainda vivem próximo da linha da pobreza será
impossível, pelo menos neste próximo período.
O “estrago”’econômico da China com a pandemia não pode ser
comparado ao ocorrido nos EUA, este país imperialista também castigado pelo
coronavírus baseia sua economia não mais na produção industrial, e sim na
especulação financeira baseada no monopólio que possui da circulação eletrônica
de dados mundiais, no sentido mais amplo do que isso possa significar. Por esta
razão o imperialismo ianque passou décadas transferindo grande parte do seu
parque industrial para Europa, e posteriormente a Ásia. Nestas regiões o
capital financeiro norte-americano “reconstruiu e construiu” economias inteiras,
como a Alemanha do pós-guerra ou a Coreia do Sul no processo forçado da
separação nacional. Entretanto também o gigante asiático, a China, tem as
digitais do capital ianque em seu agudo processo de expansão. Mas é nos EUA que
se concentra a maior parte da riqueza financeira (material e virtual) do
planeta, seu Banco Central (FED) funcionam como o “cofre” do mundo e o cassino
de Wall Street o “caixa das operações de lucro” de todas as empresas
transnacionais do planeta. Por isso não será nada ruim para os rentistas,
jogadores do cassino, que a pandemia consiga “quebrar” Estados e corporações
para depois salvá-los comprando suas dívidas, sob a forma de títulos, e ainda
mais com o dinheiro (trilhões de dólares)do “cofre planetário”.
Mas a economia chinesa não funciona assim, seu sistema
financeiro é completamente rudimentar frente ao do imperialismo, concentrada
basicamente em bancos públicos e sem a existência do grande “cassino de poker”.
Milhões de empregos que serão destruídos desde a quarentena representam um
enorme passo atrás para o desenvolvimento nacional chinês. Para o alto nível
desemprego será necessário acrescentar um enorme subsídio estatal, com a
inclusão de vários benefícios sociais, inexistentes no mundo capitalista
ocidental. Na melhor das hipóteses, a pretendida "sociedade de classe
média" chinesa terá que esperar. A recuperação econômica será lenta após a
pandemia debelada, e os trabalhadores também irão sofrer alguma consequência,
apesar do suporte estatal. Apesar de bom padrão de vida que disparou muito em
apenas 30 anos, a China continua sendo um país em desenvolvimento, em pleno
curso da restauração capitalista, ainda em fase de uma transição não
finalizada. Somente entre janeiro e fevereiro, com a quarentena e a paralisação
parcial da produção, a China acrescentou mais 20 milhões de desempregados,
segundo estatísticas oficiais, o que representará uma sobrecarga no déficit das
contas públicas do governo Xi Jinping.
A economia chinesa tem forte dependência das exportações, o
comércio internacional terá forte retração em suas portas e não há garantia de
que eles reabram muito próximo. O Nomura Bank prevê uma perda de 30 milhões de
empregos somente no setor de exportação na China, ou quase um terço da força de
trabalho do setor. Desemprego significa redução no consumo interno, outro dos
motores do crescimento chinês.Também a falta de liquidez está afetando
seriamente as médias empresas, o que irá favorecer os trustes internacionais
instalados na China, que tem acesso ao crédito financeiro fartamente ofertado
nos EUA. Outras pequenas empresas não
conseguiram sequer reabrir porque a quarentena não foi levantada em todas as
regiões, como em vários distritos inteiros no centro de Pequim. Para
acrescentar ao cenário, a retração econômica na China não começa com o
coronavírus. No ano passado, o primeiro-ministro Li Keqiang já admitia uma taxa
de desemprego de 5,5% nas grandes cidades, uma consequência da guerra comercial
desencadeada pelos Estados Unidos. Um dos piores equívocos cometidos pelo governo
do Partido Comunista da China foi subestimar o papel das pequenas e médias
empresas nacionais, privilegiando a associação com monopólios estrangeiros, o
que nesta crise da pandemia poderá significar o estrangulamento de setores da
produção, beneficiando desta forma a possibilidade de uma retomada do
protagonismo ianque no cenário econômico internacional.