Diz o provérbio popular: “os ratos são os primeiros a
abandonar o barco que afunda”, Moro quase desmentiu este provérbio ao ficar
atrás em alguns dias do ex-ministro Mandetta, que teve a primazia de pular fora
do governo falido, forçando sua demissão ao ficar do lado da Globo contra
Bolsonaro. Porém a saída do “queridinho” da mídia Mandetta, no meio do pico da
pandemia do Coronavírus, já apontava o curso da falência do governo
neofascista, que tem hoje um presidente “tutelado” pelo alto comando militar.
Não tardou muito outra crônica de uma demissão anunciada já há algum tempo, só
que desta vez, além de ser “queridinho
da mídia” desde a famigerada Lava Jato, Sérgio Moro era o principal fiador
político de Bolsonaro junto ao imperialismo ianque e também a setores da
burguesia nacional que ainda mantinham um cada vez mais um tênue vínculo com
Bolsonaro. Moro não decidiu sozinho sair do governo, o fez a contra gosto, e
sob uma orientação direta do Departamento de Estado dos EUA, que se orienta
abertamente pela substituição do presidente do Brasil pelo seu vice, o general
Mourão. O motivo da exigência da troca do comando da PF, foi apenas o estopim
de um longo processo para a decisão de Sérgio Moro, que tinha pleno
conhecimento do “default” de Bolsonaro, que com seu clã fascista tenta prolongar
ao máximo sua permanência no Planalto, entretanto uma “missão” a cada dia mais
impossível.
O móvel do “start” desta crise instalada no regime
bonapartista vigente, por mais paradoxal que possa parecer, não teve Brasília
como primeiro palco e sim Washington. Foi exatamente lá, que os falcões do
Pentágono, e observem que não estamos falando dos “palhaços” reacionários da
Casa Branca, orientaram o Alto Comando militar brasileiro a por um freio nos
desvarios do capitão presidente, em
função do que eles mesmos tinham feito com Trump nos EUA. Não é segredo para
ninguém que os conselheiros militares do Pentágono ditam orientações para as
FFAA de toda a América Latina, desde o período da Guerra Fria. Também não é
nenhuma informação secreta que Moro foi treinado pelo Departamento de Justiça
dos EUA para originar a Lava Jato e quebrar a sequência dos governo petistas,
ainda no período de Barack Obama, em 2013, na esteira da farsa do Lawfare do
“Mensalão”. É verdade que Moro, assim como Bolsonaro e Trump não tiveram a
informação privilegiada e antecipada da eclosão da pandemia, esta ficou
restrita ao próprio Pentágono e CIA, que se submetem aos CEO’s do Império e não
simplesmente ao gerente de plantão na Casa Branca. Moro e a corja da “República
de Curitiba” estabeleceram seu “primeiro treinamento” nos EUA com a gestão do
Partido Democrata, interrompida pela vitória de Trump em 2016, a partir daí a
brusca inflexão no rumo da alternativa
Bolsonaro, bancada pelo Tea Party Republicano. Moro e a Lava Jato
abandonaram a própria sorte os Tucanos, fazendo Alckmin amargar um vergonhoso
fiasco eleitoral, também correspondia a um distanciamento com os Democratas, a
República de Curitiba tinha novo amo, Trump, e uma nova tarefa: empossar
Bolsonaro.
Com uma aparente reeleição tranquila, Trump atravessou seus
três anos de mandato com níveis razoáveis de estabilidade econômica, e um
adversário no horizonte eleitoral considerado “fraco” do lado Democrata, Bernie
Sanders. Porém houve uma pandemia de crise capitalista e sanitária no meio do
Caminho, e as coisas complicaram muito para Trump e pior ainda para seu
afilhado, Jair Bolsonaro. A ruptura de Moro com o neofascista, e seu retorno ao
ninho Tucano&Globo (herói novamente), só pode ser compreendida a luz da
conjuntura internacional, e da nova correlação de forças estabelecida no
interior do imperialismo ianque, onde os Democratas avançam para retomar a
gerência da Casa Branca.
No Brasil, o esgotamento do modelo ultraneoliberal, que sob
a batuta do rentista Paulo Guedes, após a aprovação da (contra)reforma da
Previdência exigida pelo mercado, não apresentou nenhum plano viável para
reaquecer a economia, em recessão profunda há 6 anos consecutivos, começou a
deslocar todo um setor da burguesia nacional para a oposição ao governo
Bolsonaro. Este processo de ruptura no seio do próprio campo neoliberal ficou
bem claro quando a famiglia Marinho começou a defender o impeachment de
Bolsonaro e induzir a promoção do general vice Mourão. A reaproximação entre a Globo
e Moro, começou a ser costurada, na mesma sequência onde também se tentava
fincar uma “cunha” entre Paulo Guedes e Bolsonaro. A perda de qualquer relação
com os caciques do Parlamento (Centrão) e com seu próprio partido (PSL) indicava
que Bolsonaro se dirigia na senda de um novo golpe, ou melhor, de um auto golpe
mas não contra o “inimigo do comunismo” como ocorreu em 64, e sim em uma ação
do tipo “Jânio Quadros” tentada em 1961
para concentrar os poderes presidenciais e abolir o peso institucional do Congresso
e STF. Os movimentos de Bolsonaro partiram todos nesta direção, reforçando o
entorno de ministros generais no seu gabinete, o que contraditoriamente revelou
sua profunda fraqueza política. Com as “mãos vazias” em formato de conquistas
econômicas para oferecer as massas, Bolsonaro fez de suas encenações teatrais
patéticas de extrema direita o único elemento para empolgar sua base na defesa
de um “golpe militar”, porém estas ações inócuas acabaram por produzir efeito
contrário, o de irritar o Alto Comando militar, além de colocar a esquerda
reformista em pânico covarde, prevendo um golpe militar a cada “arroto
fascista” que Bolsonaro dava na porta do Planalto.
Mas a gota d’água do default veio mesmo com a pandemia,
Bolsonaro revelou ao país que não governava mais, suas “ordens” de massificar o
vírus (efeito manada) não foram seguidas por governadores e sequer pelo seu
ex-Ministro da Saúde, que recomendaram o isolamento social (quarentena parcial).
A junta militar, dirigida pelo general Braga Neto, teria assumido as rédeas do
governo central, deixando a cargo de Bolsonaro realizar suas apresentações
circenses diárias, com a devida “autocrítica” no dia seguinte é claro. Moro
sentia que os ministros do STF estavam buscando um pretexto legal para iniciar
o processo de afastamento de Bolsonaro, com o apoio é claro do Centrão e
governadores Tucanos, como João Doria, o novo “anticristo” da direita. O pedido
para investigar deputados bolsonaristas, partiu do próprio Procurador Geral da
República, acatado pelo togado supremo Alexandre Moraes. Neste cenário, seria
uma tremenda burrice seguir ordens de um presidente que sequer governa
plenamente, Moro aproveitou a provocação de Bolsonaro querendo mudar o comando
da PF, e pediu para sair... por cima... Está inaugurado o calendário do
impeachment de Bolsonaro, que ainda terá nos próximos capítulos da renúncia de
Paulo Guedes e a desavença final com Mourão. A esquerda reformista que relutava
em defender o Fora Bolsonaro, com a intensidade da crise resolveu abraçar o
pedido de uma CPI e posterior impeachment regimental no Congresso. É a mesma
política desenhada pelo Pentágono no Brasil e seus acólitos nacionais, como a
Globo. Todavia as eleições presidenciais norte-americanas estão previstas
somente para novembro, e no meio deste curso tem um “planeta quarentena” no
meio, antes disto Bolsonaro não tira sua bunda do Planalto, e a renúncia é
praticamente descartada neste momento. Com o movimento de massas paralisado e
amedrontado pela histeria do Coronavírus, não haverá mobilização alguma pela
derrubada de Bolsonaro, mais além dos panelaços, a esquerda seguirá na linha do
“sangramento” até 2022, acrescida agora da demagogia do impeachment e de uma
ridícula CPI no Congresso para apurar se Bolsonaro é realmente culpado ou não
do atual desastre nacional. Com um pouco mais de “sorte “, a esquerda
reformista acabará mesmo conseguindo encurtar os prazos e assim empossar Mourão
ainda em 2021...