terça-feira, 6 de outubro de 2020

“REVOLUÇÃO COLORIDA” NO QUIRGUISTÃO? PROTESTOS CONTRA RESULTADOS DAS ELEIÇÕES PARLAMENTARES ABREM CRISE NO REGIME POLÍTICO ALIADO DA RÚSSIA

Após violentos protestos na capital quirguiz Bishkek contra resultados das eleições parlamentares no país ocorridas no domingo (04.10), a Comissão Eleitoral Central do Quirguistão anulou o pleito. Pelos resultados preliminares, entraram no Parlamento da República do Quirguistão os partidos Birimdik (24,52% dos votos), Mekenim (23,89%) e Butun (7,11%), base do governo de Sooronbai Zheenbekov, aliado de Putin. Já outros partidos ligados a oposição participaram das eleições mas não alcançaram os 7% de votos necessários, afirmando que a disputa foi marcada por violações e fraudes. Quirguistão é um dos países-membros da União Econômica Eurasiática (UEE), integrada também por Rússia, Armênia, Bielorrússia e Cazaquistão, ou seja, da área política e militar sob a influência do Kremlin, tanto que há uma base militar russa no país.

Um incêndio estourou na chamada Casa Branca na capital do Quirguistão, Bishkek, que abriga o Parlamento e o gabinete do presidente do país, depois que o prédio foi ocupado por manifestantes na noite de segunda-feira. Milhares de pessoas foram às ruas de Bishkek na segunda-feira para protestar contra o resultado das eleições parlamentares de 4 de outubro. Exigiram novas eleições parlamentares e a anulação do resultado das anteriores, além de acusarem as autoridades do país de terem recorrido à corrupção eleitoral durante o período pré-eleitoral. Como resultado dos confrontos com a Polícia, até 590 pessoas ficaram feridas.

O atual presidente do Quirguistão, Sooronbai Zheenbekov, denunciou a tentativa de tomada do poder e instou a acabar com os distúrbios, porém deixou claro que havia ordenado não disparar contra os manifestantes. "Algumas forças políticas tentaram durante a noite tomar o poder de forma ilegal e violaram a ordem pública aproveitando como pretexto os resultados eleitorais", afirmou Zheenbekov

As formações Birimdik e Mekenim Quirguistão representaram quase metade do total de assentos. O Birimdik tem laços estreitos com a família do presidente do país, enquanto Mekenim está associado ao clã dos irmãos Matraímov, considerado um dos políticos burgueses mais influentes do Quirguistão. Os resultados finais das eleições estavam programados para serem anunciados antes de 24 de outubro, mas forma anulados pela Comissão Eleitoral depois dos protestos.

No território do Quirguistão está localizada uma base militar unificada russa. Ela consiste de quatro instalações: o aeródromo de Forças Coletivas de Reação Rápida da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) em Kant, a base naval de testes no lago Issyk-Kul, um centro de comunicações no povoado de Chaldovar e posto sísmico autônomo na cidade de Mailuu-Suu.


Lembremos que na época das “revoluções” made in CIA nas ex-repúblicas soviéticas, o PSTU publicou no Opinião Socialista nº 213 (abril/2005) um artigo intitulado “Leste Europeu: o gosto amargo do capitalismo”. O texto que abordava os acontecimentos no Quirguistão e em outros países que integravam a antiga URSS, como a Ucrânia e a Geórgia, afirmava que “Uma revolução acaba de abalar o Quirguistão. Recentemente ocorreram abalos também na Geórgia, Ucrânia, Polônia. A Rússia assiste a cada dia uma revolta em distintos setores da população. Mesmo com algumas diferenças entre si, esses fatos fazem parte do mesmo processo, e mostram que, ao contrário do que parece, já que a mídia esconde ou distorce tudo, o Leste Europeu vive uma situação avançada de ascenso das massas. Elas sentem o gosto amargo do capitalismo, cuja restauração caiu como um tsunami”. 


Como denunciamos naquele momento “Quase quinze anos após o início da contrarrevolução social aberta nestes países, que os reduziram à condição de semicolônias dos imperialismos europeu e ianque, a ofensiva da Casa Branca para pôr fim à influência da Rússia burguesa, através de regimes alinhados a Moscou sobre essas repúblicas satélites (Ucrânia, Geórgia, Quirguistão, etc.) é saudada como uma nova ‘revolução’ pela LIT, uma ‘situação avançada de ascenso das massas’” (O gosto amargo da restauração capitalista degustado pela LIT no Leste Europeu e na URSS, Jornal Luta Operária nº 107, Maio/2005). 

Em 2005 caracterizávamos o real conteúdo destas supostas revoluções: “O que está em curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas atrasados, é a segunda etapa da restauração capitalista. Nessa fase, Bush e o imperialismo europeu desejam impor títeres nos países que ainda estão sob a influência do Kremlin e mantêm relações políticas e econômicas privilegiadas com a Rússia. São manifestações como as ‘revoluções das rosas’ na Geórgia ou a ‘revolução laranja’ da Ucrânia, designações, inclusive batizadas por Condoleezza Rice, Secretária de Estado dos EUA e copiadas nada originalmente pela LIT, que buscam dar um verniz popular a esse processo de mudança de regime político em favor dos EUA e das potências capitalistas europeias”. (Idem). 

Os catastrofistas que na década de 90 festejaram o fim da URSS e a queda do Muro de Berlim como uma “vitória das massas” são os mesmos que agora veem revoluções em cada esquina para justificar sua política que profetizou o fim do capitalismo em decorrência do crash de 2008. Como nada do que prognosticaram se concretizou, vendem forçosamente cada crise política burguesa como “insurreições de massas” ou mesmo “revoluções”, como fizeram também no Oriente Médio e no Norte da África. A realidade, porém, mais uma vez, desmente nossos alucinados pseudotrotskistas. 

O que ocorreu nas antigas repúblicas soviéticas foi na verdade uma troca de gestores a frente do Estado burguês, que se apoiam no descontentamento popular para conseguir alcançar seus objetivos políticos. Essa permuta ocorre devido à disputa de influência entre a Rússia e os EUA.

O PCO, por sua vez, que hoje cinicamente se apresenta como defensista e critica a política pró-imperialista do PSTU, festejou a queda da URSS ao lado dos revisionistas do trotskismo. Não por acaso, quando estouraram as manifestações pró-ocidentais entre 2004/2005 nas ex-repúblicas soviéticas da Ucrânia, Geórgia e Quirguistão, apresentou-as como “revoluções”. 

Para os “esquecidos” do PCO relembremos suas palavras sobre a “Revolução das Tulipas” no Quirguistão em 2005, que ao lado da “revolução laranja” na Ucrânia visava operar a transição para regimes mais alinhados com a Casa Branca e que se afastavam da influência russa! Segundo o PCO, “A verdadeira revolução que se levantou no Quirguistão põe uma cunha nas rachaduras do plano do imperialismo para reverter o fracasso da campanha no Iraque e no Afeganistão. O quadro é o mais negativo possível para o imperialismo norte-americano: milícias estão sendo formadas nos bairros, os manifestantes enfrentam a polícia armados e o governo se dissolveu após fechar as fronteiras e o aeroporto de Manas. É, em toda sua extensão, um pesadelo para o imperialismo norte-americano e o prenúncio do aprofundamento da crise internacional. A boa notícia é: este ‘pesadelo’ está se tornando realidade” (sítio PCO, 08/04/2010). 

O mais grave, como no caso do Quirquistão, é que em seus delírios chegam a apresentar os dirigentes da oposição burguesa como adversários do imperialismo. O PCO declarava na época que a “Revolução no Quirguistão: Um golpe decisivo contra os aliados do imperialismo norte-americano na Ásia Central” (idem). Como se pode ver, o “surto” defensista do PCO é uma cortina de fumaça para encobrir suas posições pró-imperialistas, tão nefastas quanto às da LIT/PSTU.

Longe do que pregava o PCO, os atuais opositores não passam de velhos aliados do imperialismo e inclusive ex-apoiadores da pretensa “revolução laranja”. Como se constata, trata-se de mais uma falsa “revolução” voltada a acomodar os interesses capitalistas na antiga república soviética, cujo governo atual não conseguiu servir a dois senhores e os novos gestores estão a vender seus serviços para quem melhor pagar. Para as massas, que lutaram tanto antes como agora contra a miséria capitalista, produto da restauração capitalista na URSS, cabe construir uma alternativa política independente dos dois bandos burgueses em disputa. 

Esta tarefa é algo bem distante da política dos revisionistas do trotskismo que tanto em 2004 como nos dias atuais saúdam as falsas revoluções patrocinadas pelas quadrilhas burguesas que, apesar dos conflitos conjunturais, têm o único objetivo de rapinar o país e torná-lo um apêndice militar a serviço de seus interesses capitalistas na região.

Está colocado para o proletariado mundial e, particularmente, para os trabalhadores das ex-repúblicas soviéticas rechaçarem as investidas da UE, dos EUA e de seus agentes. Apesar de não depositarmos qualquer confiança no governo burguês do Quirguistão e de seu aliado Putin, cuja conduta está voltada a defender os interesses da nascente burguesia russa, as fricções com a Casa Branca objetivamente representam um obstáculo à expansão guerreirista da OTAN na região. 

Nesse sentido, os revolucionários devem denunciar as manifestações dos grupos pró-imperialistas e seu caráter contrarrevolucionário, voltado a fazer no Quirguistão e na própria Rússia uma “transição democrática” conservadora aos moldes da que vem sendo operada no Oriente Médio. 

Nos opomos pelo vértice à política dos grupos revisionistas como a LIT, que depois de saudarem a farsesca “revolução árabe” agora apoiam as manifestações da direita na Bielorússia assim como festejaram no passado as “revoluções das cores” na Ucrânia, Geórgia, Quirguistão. Tais “revoluções” nada mais eram que a segunda etapa da restauração capitalista em curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas atrasados semicoloniais, quando o imperialismo ianque e europeu impuseram títeres nos governos que ainda estavam sob a influência do Kremlin e mantinham relações políticas e econômicas privilegiadas com a Rússia. Agora, o Quirguistão ao lado da Bielorússia são novamente a bola da vez da reacionária ofensiva do imperialismo, que tomou grande impulso com a derrubada do regime Kadaffi pela OTAN, tendo Sooronbai Zheenbekov como o “adversário” indesejado a ser removido do governo! 

Somente genuínos trotskistas que não se deixaram levar pelo canto de sereia “humanitário” imperialista, que se mantêm firmes na luta para que os povos oprimidos assumam o controle dos recursos energéticos do planeta, pela expulsão dos abutres multinacionais e expropriação do conjunto das burguesias mafiosas, terão autoridade suficiente perante as massas ucranianas, georgianas, ossetas e russas para conduzir a luta estratégica por uma Federação de repúblicas socialistas e soviéticas livres, fundadas por novas revoluções bolcheviques.