LULA COMPLETA 75 ANOS: DIRIGENTE DO PT É A PERSONIFICAÇÃO DA POLÍTICA DE COLABORAÇÃO DE CLASSES QUE A BURGUESIA RECORRE PARA ESTABILIZAR O REGIME POLÍTICO
Lula integrou pela primeira vez a diretoria do sindicato dos
metalúrgicos do ABC, em 1972, pelas mãos de um pelego interventor nomeado pela
ditadura, o presidente da entidade Paulo Vidal. Posteriormente quando Lula
assume a presidência do sindicato dos metalúrgicos em uma gestão de
continuidade, não aceita a presença das correntes que ele considerava
“comunistas radicais” (como a CS e OSI) no interior das assembleias e plenárias
da categoria. Somente quando “explode” uma dinâmica política superior dos
metalúrgicos, na primeira greve de 1978, Lula flexiona politicamente à esquerda
passando a criticar o que classificou de “autoritarismo militar” vigente no
Brasil.
Não é nenhum segredo que a própria ideia de formação do PT, no final de 1979, partiu de uma reunião entre Lula e o então chefe da Casa Civil, o ministro Golbery do Couto e Silva. O objetivo político do artífice da “Abertura” lenta e gradual do regime militar era organizar um grande partido trabalhista de “esquerda” no país, sem nenhum vínculo com o movimento comunista internacional, para de uma “tacada” só debilitar o velho trabalhismo nacionalista de Brizola e a tradicional oposição democrático burguesa (MDB).
A
esquerda mais classista (OSI) inicialmente reagiu às manobras de Lula e
Golbery, caracterizando o PT como um “partido de apoio a ditadura militar”.
Porém a dinâmica de ferro da luta de classes é bem superior à lógica das
manobras pessoais e o próprio movimento operário nacional abraçou politicamente
o PT em 1980, na inexistência de um outro partido independente do proletariado
(os PCs e o MR-8 continuavam atrelados à oposição burguesa). A partir daí a
esquerda Trotsquista ingressou no PT, “emprestando” um certo caráter
“socialista” ao partido, embora programaticamente nunca tenha ultrapassado os
limites da social democracia, na defesa da propriedade privada dos meios de
produção.
O PT há muito tempo deixou de concentrar alguma característica política ou programática da esquerda operária, configura-se atualmente como uma organização democrática da esquerda burguesa com forte influência sobre o movimento social de conjunto. Lula é a expressão maior desta configuração partidária do PT, continua sendo a maior liderança do movimento de massa no país, ao mesmo tempo que representa os interesses econômicos de setores da grande burguesia nacional, como mineradoras, siderúrgicas e empreiteiras por exemplo. São frações das classes dominantes diretamente ligadas à infraestrutura do Estado nacional e com fortes fricções na disputa de mercado com trustes imperialistas. Também alas do segmento financeiro têm fortes vínculos com o PT, como é o caso do banco Bradesco beneficiado pelo governo em sua disputa de liderança com o grupo Itaú.
O BNDES, sob o controle do governo petista durante 13 anos, fomentou diversos setores da burguesia nacional, inclusive o agronegócio, estas "holdings" tem retribuído com bastante "generosidade" a várias personalidades do PT, direta ou indiretamente...
Aos 75 anos, Lula fez recentemente um chamado público à
classe dominante para concretizar um grande acordo político baseado na
conciliação entre as classes sociais. O PT seria o principal fiador do pacto
por controlar a CUT e o movimento operário e popular, tendo como cláusula
pétrea desse “contrato” a harmonia das relações entre proletários e
capitalistas para estabilizar o regime político burguês e garantir que a
economia volte a crescer, uma equação político-econômica que segundo Lula
“beneficiaria todos os brasileiros”.
Mesmo com todos estes elementos "contraditórios",
Lula e o PT não perderam sua capacidade de liderança política da esquerda
brasileira (embora muito abalada), na realidade o partido é a síntese de uma
esquerda "aburguesada" que vem se deslocando cada vez mais da relação
com a vanguarda mais consciente e classista do movimento dos trabalhadores.
Neste sentido o intenso desgaste do PT no interior dos setores
"medianos" da população é um elemento muito bem aproveitado pelas
forças reacionárias e conservadoras.
Neste momento, Lula propõe que os capitalistas deixem de apoiar o governo neoliberal de Bolsonaro e apresenta seu nome para ser novamente o gerente do comitê de negócios da burguesia em 2022. Não por acaso, o petista fala de “unir todos os brasileiros para vivermos em harmonia” e apresenta o “voto” como o instrumento político para celebrar o pacto social.
Esta é a síntese da ditadura do capital travestida em democracia, uma
formulação que os reformistas não se cansam de repetir! O chamado à “reconstrução
nacional” passaria necessariamente por um governo de centro-esquerda burguesa
como as gestões passadas da Frente Popular. Essa utopia do “Brasil de todos,
para todos” não passa de demagogia pré-eleitoral para demonstrar que o PT se
compromete a respeitar o calendário eleitoral e se manter como guardião da
democracia burguesa.
Por isso o petista fala que o alicerce desse contrato social
é o Estado de direito burguês, ou seja, a manutenção das instituições da
república capitalista que se assenta sobre a miséria e a exploração dos
trabalhadores. Não por acaso, Lula encobre que os interesses sociais imediatos
e históricos entre o proletariado e capitalistas são irreconciliáveis como nos
explicou Marx, uma tese revolucionária que a esquerda reformista e até grupos
que se dizem trotskistas satélites do PT tentam esconder com todo o malabarismo
político, lançado em nome da necessidade de “derrotar a direita” nas urnas.
Ainda que não tenha surgido no Brasil uma alternativa
revolucionária de massas a direção política do PT e Lula, é necessário
organizar molecularmente uma via de independência de classe resgatando para o
proletariado os valores da moral operária e seu programa genuinamente
comunista.