BOLÍVIA URGENTE: SEGUNDO TURNO OU “SEGUNDO GOLPE”? ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS SERÃO DECIDIDAS PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA NO RETURNO
ELEITORAL, E AINDA SOB UM REGIME DE EXCEÇÃO
Neste domingo (18/10), pela primeira vez na história da Bolívia, as eleições presidenciais deverão ser definidas no segundo turno, modalidade institucional introduzida na Constituição aprovada em 2009 durante a presidência de Evo Morales. De acordo com o artigo 16 da Constituição Boliviana, haverá um segundo turno entre os dois candidatos mais votados se nenhuma fórmula obtiver 50% mais um dos votos válidos ou o mínimo de 40% com uma vantagem de pelo menos 10% sobre a segunda candidatura. Este mecanismo antidemocrático introduzido pelo próprio governo do MAS, agora poderá significar na prática um “segundo golpe de Estado” (Estelionato Eleitoral sob a tutela dos militares), depois de terem desferido o primeiro golpe militar/policial que derrubou Evo Morales em 2019. A fraude eleitoral que prepara o governo golpista é bem primária, porém bastante “efetiva”: três candidatos à presidência concentram quase a totalidade dos votos, o favorito Luis Arce Catacora, do MAS, lidera com 30,6 %, seguido de Carlos Mesa, ex-presidente de Bolivia, com 24,7%, e finalmente Luis Fernando Camacho da extrema-direita com 14,1%. Sendo assim, de acordo com as principais pesquisas divulgadas, Mesa, unificando centro e direita, poderá vencer no segundo turno com 44,1% dos votos, contra 36,9% de Luis Arce.
A nominação do neoliberal Luis Arce, como candidato presidencial do MAS, já corresponde a uma tremenda concessão ao regime golpista, que não aceitou registrar a indicação de uma liderança do campo popular e tão pouco do ex-presidente Evo Morales, que sequer pode disputar uma vaga no Senado. Arce foi ex-ministro da Economia do governo Morales, onde obteve um relativo saldo positivo na economia (venda de commodities para Europa) que o ajudou a manter um considerável peso eleitoral na indicação do MAS. Mas o “êxito” que Arce conseguiu realmente obter como Ministro do governo do MAS, foi graças a velha receita neoliberal de aproveitar a conjuntura econômica internacional favorável aos minérios bolivianos, vendidos sem valor agregado algum, para manter um certo fluxo de capital financeiro no país. Neste sentido, no interior do movimento operário paira sobre a figura de Arce, bem palatável aos golpistas e a Embaixada ianque na Bolívia, a desconfiança de que se transforme em um “Lenin Moreno”, atual presidente equatoriano apoiado nas eleições por Rafael Correa, mas que após a posse passou de malas e bagagens para o lado da reação de extrema direita.
A periférica Bolívia concentrou contradições capitalistas
desde a sua fundação, sobre a qual o governo de Frente Popular de colaboração
de classes encabeçado por Evo tentou colocar mediações (insolúveis) mas, sem
tocar nas próprias bases sociais do modo de produção capitalista, não conseguiu
alterar a realidade de pobreza da maioria da população camponesa, isto sem
falar que nunca teve um genuíno projeto socialista. No ano passado, durante o
processo político do golpe, ficou claro que o racismo das elites não foi
erradicado no seio da sociedade, como ficou demonstrado pelas manifestações
reacionárias contra o governo Morales. O MAS acabou traindo vergonhosamente a
luta contra o golpe, deixando os movimentos camponeses e cocaleiros
desarticulados e desarmados no confronto com a extrema direita.
Estas eleições, indicarão um ponto extremamente importante para os desdobramentos da conjuntura latino-americana, na seguinte questão: o regime golpista, apoiado pelos EUA, permitirá que o MAS governe novamente sob uma nova liderança neoliberal? A situação política na Bolívia é bastante tensa, as massas estão bastante radicalizadas e tudo caminha na direção de um novo golpe, desta vez na forma de um estelionato eleitoral, e com a provável passividade do MAS, o que também não seria algo novo na larga trajetória de traições da Frente Popular.