REVOLUÇÃO E CONTRARREVOLUÇÃO NA AMÉRICA LATINA
Atravessamos dias convulsivos na América Latina, tendo como
palco principal a Bolívia e o Chile. Um Golpe de Estado derrubou Evo Morales,
deixando um rastro de sangue pelos fuzis das FFAA enquanto no Chile
mobilizações diárias questionam a gestão do direitista Piñera, que busca com o
apoio da oposição burguesa convocar uma “reforma constituinte trucha”. Ladeando
esses países irmãos, tivemos recentemente um levante popular traído no Equador pelas
direções reformistas (CONAIE e Rafael Correa) além de eleições na Argentina que
levaram de novo a centro-esquerda burguesa à Casa Rosada. No Brasil, o neofascista
Bolsonaro segue firme na sua agenda neoliberal enquanto Lula faz caravanas em defesa
da conciliação de classes, esperando o circo eleitoral de 2022 em busca de
reestabelecer o “pacto social” com a burguesia. Nesse contexto de intensa luta
de classes, fica evidente que a ausência de uma Partido Leninista com autoridade
e peso de massas tem impedido que as revoltas populares assumam o caráter de
revoluções socialistas e, ao mesmo tempo, possibilitado que as direções frente
populistas (MAS, PT, Frente Ampla no Uruguay, Kirchinerismo) desgraçadamente
por sua covardia política e traição abram caminho para o avanço da reação
burguesa. Vimos esse quadro claramente na Bolívia, onde o Evo Morales fugiu
para o México, deixando as massas sem uma direção política para resistir ao
golpe genocida, ainda que estas venham protagonizando heroicamente uma luta
para derrotar o novo governo títere do imperialismo ianque.
Na Bolívia, enquanto desfere a repressão, os golpistas
estabelecem negociações secretas com a direção do MAS. Do México, Evo Morales lançou
um comunicado afirmando: “Nuestro pueblo pide paz y concertación. Reitero mi
convocatoria al diálogo de alto nivel con mediadores para pacificar nuestra
querida Bolivia y preservar la vida y la democracia.”. O “entendimento” para
uma nova eleição que sequer tenha a participação de Morales foi anunciado como
parte de um possível acordo podre. Com essa orientação, o MAS pretende usar a
crescente mobilização ao golpe, não para derrotá-lo, mas para negociar uma
eventual participação eleitoral no futuro. Desgraçadamente, não existe uma
direção revolucionária a altura na Bolívia, o POR (Lora) se colocou ao lado das
manifestações reacionárias e seus ataques ao MAS, após o golpe ao governo Evo,
expresso no Jornal Masas mais se parecem um panfleto que se confunde com as
diabrites da extrema-direita golpista. As acusações do POR a Evo em nada se
diferenciam das provocações da farsante Jeanine e sua anturragem policial
reacionária. Ao contrário desses revisionistas canalhas que enlameiam a
bandeira da IV Internacional é preciso lutar na trincheira real de luta das
massas contra o golpe assassino! Para acelerar a perda das ilusões do
proletariado na camarilha dirigente do MAS faz-se necessário chamar a frente
única com o MAS, a COB, as juntas vicinais e a Federação mineira para combater
o golpe de Estado patrocinado por Trump/Bolsonaro. Esse chamado deve ser
voltado em particular a base do MAS no sentido dela se opor e romper o acordo
traidor que vem sendo costurado por seus dirigentes. Nesse sentido a tarefa
imediata para as massas combativas do Altiplano é construir sua própria defesa
militar, diante das atrocidades que estão ocorrendo, forjando organismos de
poder operário e popular!
Entrando no debate sobre o Chile, diante do ascenso em
curso, a política do PS, PC e da CUT tem sido reivindicar eleições antecipadas
ou mesmo a convocação de uma Assembleia Constituinte com Piñera, ou seja, um
processo completamente controlado pelas cambaleantes instituições do regime político
burguês. Esta orientação é uma completa traição a heroica luta dos
trabalhadores e do povo oprimido que exige a derrubada do facínora e a
superação do parlamento como “árbitro” da crise. O que está colocado é
construir os cordões operários rumo a um governo revolucionário dos explorados!
Nessa senda, a convocatória de uma Constituinte somente tem um caráter
progressivo e de ruptura com a ordem burguesa se impulsionada por um novo poder
operário na cabeça do novo Estado para elaborar uma Constituição Socialista que
sente as bases políticas, econômicas e jurídicas de um novo regime sobre os
escombros das velhas instituições capitalistas (justiça, FFAA, parlamento). A
bandeira de “Constituinte” no abstrato está unindo toda a esquerda, desde o PC
stalinista, passando por grupos mais à esquerda do Chile como o PC (AP) e o MIR,
além do revisionista do Trotskismo (LIT, PTS, PO). Eles defendem a convocação
de uma “Assembleia Constituinte” no Chile sem deixar claro que quem deve
convocar a Constituinte é um novo governo revolucionário parido diretamente das
manifestações em curso e não o moribundo Piñera, o que consistiria em uma
manobra para recompor o regime burguês em crise e não para colocá-lo abaixo.
Para vencer nesse momento crucial os setores mais conscientes da vanguarda
devem avançar na construção de organismo de poder dos trabalhadores, com
comitês de autodefesa armados que tenham como estratégia a revolução proletária
que aniquile de forma revolucionária as instituições apodrecidas do regime
político e particularmente as FFAA! Faz-se necessário, criar as condições para
que os trabalhadores tomem o poder político e econômico, assim como os meios de
comunicação e os bancos, tarefa que depende da construção dos cordões operários
para edificarem um Governo Revolucionário, o que não passa pelo circo burguês
das eleições antecipadas como apregoa a Frente Popular!
No Brasil, o mais eficaz recurso da burguesia nacional para
manter a “ordem social” e a estabilidade do regime bonapartista vigente, ainda
vem sendo a colaboração da política de conciliação de classes da Frente
Popular. A “camisa de força” que o PT e a CUT impõe ao movimento de massas,
espraiando as ilusões do “mundo melhor” com a realização das eleições de 2022 e
o possível retorno de Lula ao Planalto, é a verdadeira barreira de contenção
para que não “exploda” no Brasil gigantescas mobilizações populares contra o
“desmonte” e o “ajuste” que o governo
neofascista vem descarregando nos ombros do proletariado e da juventude.
Como nos ensinou Lenin sobre a intervenção revolucionária em
cada momento da luta de classes: “Trata-se, isto sim, do dever mais
incontestável e essencial de todos os socialistas: o dever de revelar às massas
a existência de cada situação revolucionária ou não, de explicar-lhes sua
amplitude e profundidade, de vitórias ou grandes derrotas, para despertar a
consciência e energia revolucionária do proletariado, de ajudá-lo a passar
coeso em cada momento da luta de classes”. Na Bolívia, Chile, Brasil e no
conjunto da América Latina marcado por um quadro de Revolução e
Contrarrevolução no continente, para levar adiante a vitória definitiva contra
a ofensiva do capital imperialista, e não apenas ficar “girando a roleta”
permanentemente entre o neofascismo e a social democracia, é necessário a
construção do partido da revolução socialista!