A recém-fundada Organizações das Nações Unidas, substituta
da antiga Liga das Nações, através da iniciativa dos Estados Unidos, e com o
apoio entusiástico da URSS, decretou em 29 de novembro de 1947 a divisão
definitiva da Palestina entre um Estado judeu e outro árabe palestino. O
stalinismo, após os acordos de Yalta, deixará o Oriente como uma área de
influência do imperialismo ianque, além da consideração do sionismo, em sua
versão trabalhista como um aliado político, com o qual desenvolverá uma frente
popular em Israel. O velho partido comunista palestino logo mudará seu nome
para israelense por considerar as massas árabes e palestinas como atrasadas e
feudais. Antes mesmo da oficialização do Estado de Israel, as tropas do Irgun
retomam os massacres aos palestinos, como a chacina da aldeia de "Deir
Yassin". Era o prenúncio do terrorismo sionista que irá assolar o povo
palestino até hoje. Exatamente no dia da proclamação oficial do Estado de
Israel, 15 de maio de 1948, é declarada a Iª guerra aos países árabes. O novo
exército de Israel, agora batizado "Tzahal", é abastecido belicamente
pela Thecoslováquia (membro do Pacto de Varsóvia) e Estados Unidos. Conseguindo
uma triunfal vitória, alarga, desta forma, em três vezes o seu território
traçado inicialmente pela ONU. O Estado árabe palestino estipulado pelo plano de
partilha não consegue sair do papel, já estava morto antes de nascer. Restando
ao Egito à anexação da faixa de Gaza e à Jordânia a anexação da Cisjordânia. Um
milhão e meio de palestinos deixam o agora chamado Estado de Israel, expulsos
de suas terras sob o bombardeio da aviação sionista, espalham-se pelo Líbano,
Egito, Jordânia, Síria. 600 mil palestinos permanecem no Estado sionista, sem
nenhum direito civil, tratados como cidadãos de segunda categoria em seu antigo
território nacional, servindo de mão de obra barata que irá mover a engrenagem
capitalista do enclave militar de Israel.
Do velho Egito, surge um setor de jovens oficiais,
sublevados contra a vergonhosa traição do Rei Faruk, que durante a guerra de 48
forneceu fuzis defeituosos ao seu exército. Tomam o poder liderados por Nasser.
É o início do nacionalismo árabe que logo se espalha como um rastilho de
pólvora pela Síria, Iraque e Líbano. Em 1956, Nasser declara a nacionalização
do Canal de Suez, que estava sob o controle das grandes potências mundiais
sendo o ponto econômico mais estratégico de todo Oriente Médio, aonde transitam
dois terços do petróleo destinado à Europa. A reação do imperialismo é
imediata, Inglaterra e França preparam a operação militar chamada
"expedição de Suez". Cabe ao enclave de Israel, desempenhar seu papel
de gendarme do imperialismo na região. Seus tanques e aviões bem mais
sofisticados e em maior número que os da artilharia egípcia, logo em dois dias
ocupam o deserto do Sinai até as margens do canal. Em seguida, passam o
controle da região para as tropas da ONU, seguindo a orientação direta do
imperialismo ianque.
Passados quase 11 anos da ocupação do Suez, novamente
Nasser, agora apoiado por uma ajuda militar da URSS, que se vê obrigada a
interferir no palco das operações militares do Oriente Médio, desta vez ao lado
dos árabes, devido ao perigo de uma incursão militar imperialista no seu
território oriental, retoma a bandeira do Suez, exigindo que tropas da ONU se
retirem do Egito. É o motivo para que Israel entre em cena, com o sinal verde
dos EUA. A aviação israelense ataca, e em uma manhã a guerra está ganha. Seus
blindados são enviados para todos os fronts. Em seis dias, o Egito perde Gaza e
o Sinai até o Suez. A Síria perde as colinas de Golan, também retomando da
Jordânia a Cisjordânia anexada em 1948 e ocupa definitivamente o lado palestino
da cidade de Jerusalém, conseguindo quadruplicar suas fronteiras iniciais. Sem
uma ação direta das massas e devido ao forte poderio militar imperialista é
imposta uma nova derrota para as burguesias árabes. Para o povo palestino é um
desastre sem proporções, passando a habitar os territórios ocupados na condição
de prisioneiros políticos. Segue-se uma luta de guerrilhas na região, a partir
de bases militares palestinas instaladas no sul do Líbano, que se estende até
hoje.
A essência de todos os conflitos militares travados na
região reside na própria arena da luta de classes internacional, sendo a
existência de Israel, um enclave militar artificialmente implantado no coração
do Oriente, fundamental na repressão dos interesses do imperialismo mundial em
uma região estratégica, pelas reservas petrolíferas, para o funcionamento da
economia capitalista no planeta. É uma tarefa do conjunto do proletariado de
todo mundo, inclusive o judeu, a destruição deste gendarme imperialista, no
sentido de impulsionar enormemente a luta dos povos contra a exploração
capitalista. O fim dos constantes massacres do povo palestino, assim como a
realização da sua justa aspiração nacional para a constituição de uma
verdadeira pátria, não passa, como já dissemos, pelos reacionários
"acordos de paz" e a criação de um protetorado palestino sob as botas
do Estado terrorista de Israel. Para os marxistas revolucionários, a
caracterização de Israel como um enclave do imperialismo estabelecido contra a
luta das massas árabes do Oriente Médio é fundamental para defendermos a sua
destruição, como parte de um programa revolucionário para os trabalhadores
palestinos.
A FORMAÇÃO DE ISRAEL COMO ENCLAVE DO IMPERIALISMO NO ORIENTE
MÉDIO
Recuando um pouco na história da criação do Estado de Israel
no território palestino, iremos compreender o real conteúdo desta operação,
dirigida inicialmente pelo imperialismo inglês e finalizada pelo imperialismo
ianque com o objetivo de estender definitivamente seu domínio sobre uma região
estratégica, de vários ângulos: econômico, político e militar.
A maquiagem ideológica, que justificasse a criação de um
país, a partir do quase nada, foi tomada emprestada ao movimento sionista pelo
imperialismo britânico na primeira década deste século. O sionismo (referência
à colina de Sion em Jerusalém) proclamava a necessidade de uma
"regeneração" do povo judeu, que após a grande diáspora da Palestina,
por volta do ano 70 da era cristã, teria se afastado de suas raízes produtivas,
ligando-se exclusivamente as atividades comerciais e pecuniárias. Theodor
Herzl, um dos fundadores do movimento, propõe "a conquista do trabalho
pelo povo judeu" no retorno "à terra prometida" já em 1901. Sob
o slogan "uma terra sem povo para um povo sem terra", os sionistas
‘esqueceram’ um ‘pequeno detalhe’, a existência de um milhão de palestinos que
já habitavam aquela região há mais de 18 séculos!
O contexto histórico que marca a ascensão do sionismo é
exatamente a profunda crise da economia capitalista, mergulhada em sua primeira
grande guerra pela disputa de mercados, assistindo ao ressurgimento do
nacionalismo exacerbado, colocando os judeus, particularmente os comerciantes e
usurários em uma situação bastante delicada. Por outro lado, a vitória da
revolução russa colocava objetivamente a possibilidade da absorção da cultura
milenar do povo judeu em um patamar muito superior ao capitalismo, a construção
solidária e multiétnica de uma nova ordem social, pondo um fim à discriminação
nacional assassina que imperava na velha Rússia. O movimento sionista, que
representa socialmente os interesses da grande e média burguesia judaica tenta
responder a estas duas grandes questões - o colapso capitalista que elevava
cada vez mais a segregação e o antissemitismo e, ao mesmo tempo, a necessidade
de uma profunda demarcação com os revolucionários russos, que abriram a
possibilidade de uma assimilação pela via do socialismo debutante justamente em
um país largamente povoado por judeus.
Trotsky, desmascarando as tentativas de apresentação do
sionismo, como um movimento de características comuns ao socialismo, o define
como um instrumento que estava sendo utilizado pelo imperialismo inglês:
"mas os fatos de cada dia nos mostram que o sionismo é incapaz de resolver
a questão judaica. O conflito entre judeus e árabes na Palestina adquire um
caráter cada vez mais trágico e ameaçador. Eu não acredito de forma alguma que
a questão judaica possa ser resolvida nos quadros do capitalismo decadente sob
o controle do imperialismo britânico" (León Trotsky, Sobre a Questão
Judaica).
A vitória da aliança franco-britânica sobre os alemães e
seus aliados, entre os quais a Turquia na Iª Guerra Mundial, torna o
imperialismo inglês o grande herdeiro do imenso e secular Império Otomano, que
engloba todo o Oriente Médio. Em 1917, com o objetivo de estabelecer uma
‘cabeceira de ponte’ na região, o governo inglês apoia a "construção do
lar nacional para o povo judeu" na Palestina, através da célebre declaração
de "Balfour". Toda a região é repartida entre Inglaterra e França,
através dos acordos secretos de "Sykes-Picot", denunciados
publicamente pelo partido bolchevique como a "partilha do covil sobre as
nações oprimidas". São desenhadas fronteiras, criados países
artificialmente como a Transjordânia (atual Jordânia) em 1921, tudo em função
dos interesses econômicos do imperialismo europeu.
Mas a Palestina é a única nação que permanecerá sem qualquer
rasgo de autonomia, ou seja, uma nação sem Estado, sem fronteiras nacionais,
ficando sob o mandato inglês, confiado pela Liga das Nações em 1922. A partir
daí o imperialismo britânico, através de magnatas do petróleo como o Barão de
Rotchild, começa a financiar a emigração massiva de judeus na Palestina, que antes
somavam apenas 25 mil, iniciando o processo de ocidentalização de um enclave,
no meio do Oriente, em uma região que despontava pela riqueza do ouro negro e
por sua localização estratégica do ponto de vista militar.
Com a ascensão do nazismo na Europa, em meados da década de
trinta, o povo judeu assiste a vigorosa reaparição do antissemitismo na sua
forma mais violenta. Por sua vez, a União Soviética, dirigida pela burocracia
stalinista, não mais representava uma alternativa de integração para o povo judeu.
Muito pelo contrário, sob o tacão termidoriano, os revolucionários assistem ao
renascimento do antissemitismo em uma forma que não deixava muito a dever aos
velhos pogrons tzaristas. A Oposição Unificada de Esquerda, formada por
Trotsky, Zinoviev e Bukarin, entre outros, era definida pelo stalinismo como
"união de judeus sujos vendidos a Gestapo". É neste marco que o
sionismo, antes visto com muita desconfiança pelos trabalhadores judeus que o
consideravam uma capitulação aos racistas, que preconizavam a expulsão dos
judeus da Europa, vai afirmar-se como um grande movimento nacional de alcance
de massas.
Na década de trinta, ocorre o grande fluxo migratório; em
1935, os judeus na Palestina já somavam quase 400 mil. A cidade de Haifa, a
beira do Mediterrâneo, mais parecia uma cidade completamente europeia, no meio
da cultura milenar do deserto. O objetivo imperialista inglês havia conseguido
consolidar-se a passos largos. Os judeus, financiados com aportes massivos de
capitais, formaram um verdadeiro Estado dentro do protetorado britânico na
Palestina, inclusive com a criação de um exército próprio, as milícias do Irgun
e Haganá encarregadas do extermínio de palestinos e árabes. Seu lema era
"cem mil vidas árabes não valem a unha de um judeu". O sionismo
transformou-se na reprodução do nazismo contra os povos árabes em seu próprio
território.
Neste mesmo ano, explode a grande revolta palestina, com a
deflagração de uma greve geral, que durou quase um ano. Somente em 37, o
governo inglês consegue uma trégua, em função da vergonhosa traição do alto
comitê árabe. Neste período, é enviada da Inglaterra a "Comissão
Peel", encarregada de investigar os conflitos na região, concluindo pela
primeira vez a necessidade da partilha da Palestina em dois Estados.
A iminente eclosão da II guerra mundial obriga a Inglaterra,
ameaçada diretamente pelo nazismo, a procurar o apoio dos países árabes contra
a Alemanha. Para atrair sua simpatia, em 1939, adota o chamado "livro
branco", limitando a entrada de judeus na Palestina. Tarde demais, o
imperialismo norte-americano, emergente no cenário mundial, abraça a causa
sionista, passando a fornecer armamento pesado às milícias sionistas que
ameaçam até o próprio exército inglês. Com a vitória dos aliados e o despontar
da hegemonia norte-americana só resta à Inglaterra sua retirada do cenário.
OLP DA RESISTÊNCIA ARMADA AO PACTO COM ISRAEL
A luta do povo palestino representa a vanguarda das massas
árabes contra o enclave de Israel, abrindo desta forma a perspectiva da
revolução proletária em todo o Oriente Médio. São, sem dúvida, as primeiras
vítimas do sionismo, que pretende sua eliminação física enquanto povo, mas
também são alvo da opressão das burguesias árabes que, ora os tem utilizado
como bucha de canhão na barganha com os sionistas ora como inimigos perigosos,
descarregando sem hesitação sobre estes violentos ataques.
O próprio surgimento da OLP esteve condicionado à tentativa
das burguesias árabes de manipularem em seu benefício a luta dos palestinos.
Encarregado por Nasser em 1964 de estruturar a OLP, Ahmad Chukeiri, seu
primeiro presidente, não escreve em seu programa original a defesa de um Estado
Palestino, nem tampouco a destruição de Israel.
Com o fracasso da via nasserista, após a humilhante derrota
dos países árabes em 67, ganha corpo a organização militar palestina "Al
Fatah", a Vitória, surgida no final de 59, sob a direção de Yasser Arafat
e Abu Lyad que proclamava abertamente a necessidade da destruição de Israel,
colocando-se politicamente à margem da OLP oficial de Chukeiri.
É a "Al Fatah" que vai dirigir a resistência à
ocupação militar de Israel na faixa de Gaza. Durante três anos, o exército
sionista não consegue sufocar a rebelião popular instalada na região. Logo
depois, em 1968, na cidade jordaniana de Karameh, os fedayin, ou seja, os
guerrilheiros palestinos orientados pela "Al Fatah", conseguem
derrotar o exército sionista, criando pela primeira vez o símbolo da
resistência palestina vitoriosa.
No ano seguinte, Arafat assume a direção da OLP, que adota
em sua carta de constituição: "a destruição do enclave do imperialismo
como condição preliminar para a unidade dos povos árabes". A partir daí,
estrutura-se como um verdadeiro Estado Palestino sem território, criando
instituições como o Conselho Nacional Palestino, um verdadeiro parlamento com
representação das suas diversas facções sociais e políticas.
Para os revolucionários, uma caracterização correta da OLP
deve começar pela consideração de seu caráter de classe determinado pela adoção
de um programa político democrático-burguês, defensor da recomposição de uma
economia capitalista na Palestina, ainda que a representação social da
burguesia no interior da OLP fosse extremamente minoritária, em função da
expropriação forçada levada a cabo pelo sionismo em 48 e 67. Mas a questão
chave é determinar o campo de luta da classe operária mundial no enfrentamento
entre as massas palestinas e o enclave sionista de Israel subsidiado pelo
capital financeiro internacional. Nesse caso, não pode haver a menor hesitação
entre os revolucionários, estamos no campo militar da OLP, apesar da dinâmica
imposta por sua direção apontar, caso triunfasse sobre Israel, na instauração
de um regime democrático-burguês, extremamente instável em função do armamento
das massas palestinas. Trotsky definia assim uma posição justa diante da guerra
civil espanhola: "O partido comunista devia lavar as mãos frente ao
conflito entre monárquicos e republicanos burgueses? A defesa de semelhante
política seria um suicídio... Nestas condições a luta heroica dos operários
teve inevitavelmente que fortalecer o governo republicano, pelo menos
temporariamente. Só pode negar isto gente que não tem nada na cabeça e sustenta
a análise dos acontecimentos em frases banais." (León Trotsky, A revolução
espanhola e a tática dos comunistas).
A OLP protagonizará a maior oportunidade de encabeçar sua
‘revolução nacional’ na Jordânia, uma criação completamente artificial do
imperialismo britânico no antigo território palestino, entregue à oligarquia
beduína para que governasse sobre uma população composta majoritariamente por
palestinos. Em meados de 70, acusando o regime "derrotista", uma
alusão às constantes derrotas frente a Israel, do Rei Hussein de acatar a
resolução 242 da ONU, que reafirmava o direito à existência de Israel, a OLP
levanta a palavra de ordem de "todo poder à resistência" tomando o
controle das cidades do norte do país, assim como os subúrbios de Aman. O Rei
Hussein, com o apoio militar da Síria, lança seu exército contra os fedayin,
causando mais de 5.000 baixas nos combatentes palestinos que, em setembro, são
expulsos da Jordânia. A inferioridade militar e fundamentalmente a ausência de
uma estratégia proletária, são os fatores determinantes pela derrota da OLP,
que a partir de então privilegiará ações terroristas contra Israel
principalmente fora do Oriente Médio.
Refugiados no sul do Líbano, espalhados em acampamentos
próximos às principais cidades, os palestinos estabelecem uma importante
aliança com a resistência dos trabalhadores libaneses em luta contra o regime
títere do imperialismo francês. Estava mais uma vez colocada a possibilidade de
uma revolução, desta vez com características nitidamente proletárias, já que a
divisão social estabelecida no Líbano, rotulada pela imprensa mundial como
sendo entre cristãos versus mulçumanos, refletia na verdade diretamente a luta
entre explorados e exploradores.
Em função da ameaça da perda do controle no Líbano, o
imperialismo francês aciona seu enclave na região, que sob o comando
nazi-sionista Menahem Beguin desencadeia em junho de 82 uma operação militar de
invasão do Líbano, chamada cinicamente de "paz na Galileia". Agindo
em conjunto com os milicianos falangistas, o exército sionista massacra mais de
dois mil civis nos acampamentos palestinos de Sabra e Chatila. É apenas um
primeiro aviso de sua disposição em aniquilar a OLP. A burguesia árabe não
esboça a menor reação, e até colabora com a operação militar. Apesar de um
cerco impiedoso de dois meses sobre Beirute, fazendo lembrar o cerco nazista no
gueto de Varsóvia, as tropas da OLP conseguem uma retirada honrosa. Mesmo com o
estabelecimento da ocupação, o exército sionista não consegue atingir seus
objetivos, dizimar a OLP e assassinar Arafat. Ao contrário, pela primeira vez
em sua história, Israel é sacudida por manifestações gigantescas, com mais de
300 mil pessoas nas ruas exigindo o fim da política assassina do Likud,
impulsionadas pela oposição pequeno-burguesa pacifista. É neste momento que se
faz sentir a ausência de um partido revolucionário que chamasse a unificação
dos trabalhadores judeus e palestinos para derrotar o regime terrorista de
Israel.
A direção da OLP começa a dar os primeiros sinais de que
estaria disposta a aceitar uma negociação com Israel nos marcos dos acordos de
"Camp David", (produto da nova correlação de forças originada a
partir da guerra de Yon Kippur) firmados por Sadat e Beguin em 1978. Estes
estipulavam a aceitação de uma autonomia relativa nos territórios ocupados pelo
exército sionista além da devolução do Sinai ao Egito ocorrida de fato em 82.
Em dezembro de 87, jovens palestinos deflagram nos
territórios ocupados a "Intifada", revolução das pedras, tomando de
surpresa a própria OLP. Organizam-se greves e barricadas que enfrentam as
atrocidades do exército sionista, deixando um saldo de mil mortos só no
primeiro ano de combate. É neste contexto que surgirá a organização Hamas,
"resistência", questionando a linha de profunda adaptação trilhada
pela direção da OLP.
Utilizando-se da Intifada, apoiada apenas formalmente, como
arma de barganha internacional, a direção da OLP em assembleia do Conselho
Nacional Palestino, no ano de 88, decide por aceitar a resolução 242 da ONU,
admitindo oficialmente pela primeira vez o direito de existência de Israel.
Arafat inicia uma verdadeira cruzada pelo mundo, para vender a imagem de uma
nova OLP, aberta ao diálogo e à colaboração com o sionismo. É a expressão da
inconsequência política de uma direção pequeno-burguesa, carente de um programa
revolucionário que conduza as massas palestinas à vitória, adotando a linha
pendular entre o foquismo inconsistente e o oportunismo capitulador frente aos
genocidas sionistas.
Dando continuidade à sua nova política, denominada agora de
"compromisso", tomando emprestado o termo do eurocomunismo italiano,
ocorrem uma série de negociações secretas, entre a OLP e Israel que culminam
com a realização das conferências pela paz em Madri e Washington, onde
finalmente, Arafat e Rabin assinam o célebre "acordo de paz" que
normatiza a formação de uma "autoridade nacional palestina" sobre uma
pequena parte dos territórios ocupados em 67. A OLP, já totalmente fracionada,
passa a ser encarada por setores cada vez maiores do povo palestino como a
velha burguesia árabe com seus rompantes nacionalistas, mas sempre disposta a
um acordo podre com os sionistas, desde que seus interesses sejam preservados.
A VERDADEIRA NATUREZA DOS "ACORDOS DE PAZ"
A burguesia mundial e o sionismo apressaram-se em apresentar
os acordos entre Israel e a OLP como uma demonstração cabal da nova ordem
mundial, estabelecida com a queda do muro de Berlim. Os sionistas jactam-se de
abrirem mão de territórios como prova irrefutável de sua disposição de conviver
pacificamente com o povo árabe-palestino. Já a OLP, considera a "declaração
de princípios" firmada em Washington um primeiro passo no sentido da
constituição de um Estado nacional. Mas o que realmente têm em comum o sionismo
e a OLP, além da farta verborragia demagógica espalhada pelo mundo, é o temor
que a luta das massas palestinas evolua à uma situação revolucionária, fugindo
de seus respectivos controles. Qual é então a verdadeira natureza dos acordos
de paz e seu significado para a luta de classes mundial?
Para Israel, trata-se fundamentalmente de debelar dois problemas
vitais que ameaçam destroçar seu regime social, montado sobre o militarismo e a
espoliação sobre o povo palestino. Quais sejam, a profunda crise econômica que
atravessa e a necessidade de pôr fim a intifada que já dura quase seis anos sem
interrupção.
O colapso da economia israelense, evidenciado na incessante
queda dos índices da bolsa de valores e no profundo retrocesso de investimentos
imperialistas em seu parque industrial, é o produto da própria crise
capitalista internacional, em particular, do gigantesco déficit orçamentário
norte-americano, gerando uma considerável redução do afluxo de capitais.
Construído com enormes subsídios estatais do imperialismo ianque, o enclave de
Israel não sobrevive sem esta "ajuda" voltada para o armamentismo
como elemento propulsor de sua economia. Com a derrubada da URSS, os EUA
iniciam um processo de aproximação com as burguesias árabes. A instalação de
uma poderosa base militar na Arábia Saudita, durante a guerra do golfo e os
acordos de cooperação militar, firmados com a Síria e o Egito, causaram em
Israel a expectativa de um corte, ainda maior do que o já existente, nos
subsídios e investimentos dos EUA em sua economia voltada para guerra.
A celebração dos "acordos de paz" por parte de
Israel, significa a exigência para "distensionar" a região, abrindo,
desta forma, a possibilidade de atrair investimentos de outros blocos
imperialistas, como o Japão, por exemplo, além de facilitar a penetração de
produtos israelenses nas economias árabes, até então obstruída por sanções
destes, em razão da ocupação do exército sionista dos territórios palestinos.
A continuidade da Intifada que toma conta dos territórios
ocupados, apesar dos enormes recursos destinados à sua repressão pelas tropas
sionistas, são por outro lado, um dos motivos pelos quais Israel busca sua
"paz". O fechamento sistemático de suas fronteiras para a força de
trabalho palestina, bem mais barata e apta aos serviços mais pesados, em
virtude das constantes sublevações palestinas, além de inúmeras greves que
abarcam unitariamente trabalhadores árabes e palestinos residentes nas grandes
cidades israelenses, já deram um prejuízo de cerca de 80 bilhões de dólares só
nos últimos 5 anos.
A oposição estabelecida pelo Likud, ao contrário do que é
divulgado pela grande imprensa, não diz respeito ao conteúdo dos "acordos
de paz". Pelo contrário, foram eles mesmos que os iniciaram com Begin, mas
somente nos seus ritmos e garantias que devem ser dadas aos colonos judeus
situados em plena linha de fogo da "intifada".
Yasser Arafat e a OLP, manejando a justa aspiração do povo
palestino para conquistar sua pátria, esforça-se em demonstrar que a
instauração da ‘autoridade nacional palestina’ em algumas cidades da
Cisjordânia e na faixa de Gaza é apenas a primeira etapa para a construção de
um Estado soberano palestino. Nada mais falso e enganoso. Na verdade, a
tentativa de estabelecer um regime colaboracionista em uma pequena faixa dos
territórios ocupados pelos sionistas (representa cerca de 2% do território
confiscado dos palestinos pela ONU em 47) corresponde a uma estratégia dos
setores dominantes do povo palestino, altos comerciantes e banqueiros no
exílio, atraídos pelas promessas de investimento capitalistas na região, cerca
de 2 bilhões de dólares só dos EUA. A direção majoritária da OLP, apesar de
alguns focos de oposição como a FPLP de Geoges Habache, acabou por selar um
acordo renunciando a retomada dos territórios ocupados e pondo fim a todas as
ações militares contra Israel, significando a traição histórica da luta do povo
palestino pela destruição do enclave terrorista de Israel. A direção da OLP, ao
transformar-se em polícia de seu próprio povo, coloca-se neste momento no campo
militar de Israel para reprimir a intifada e todas as organizações políticas
que continuam a lutar pela vitória definitiva das massas palestinas.
Os "acordos de paz" estabeleceram a ‘devolução’ de
7 cidades na Cisjordânia e toda a faixa de Gaza. A cidade de Hebron, em razão
da presença de judeus, cerca de 500 em um total de 100.000 habitantes, ficará
sobre o controle misto entre a OLP e o exército sionista. A "autoridade
nacional palestina" não terá status de Estado, ficando proibida de
estabelecer bases militares nos territórios ‘desocupados’. O exército
Israelense continuará estacionado e com todo o domínio das zonas rurais que
rodeiam as cidades, além do controle de todos os acessos por terra e mar. A
maior cidade árabe-palestina da região, Jerusalém, permanecerá sob a ocupação
absoluta de Israel.
Será mantida a proibição de qualquer retorno de refugiados
palestinos, espalhados por todo o Oriente médio, que representam mais do dobro
da atual população dos territórios ‘devolvidos’. Nas cidades sob o controle da
OLP foi formada uma polícia palestina, tendo unicamente permissão para portar
equipamento militar de baixo impacto, encarregada da repressão a
"manifestações contrárias aos interesses de Israel". Sob nenhuma
hipótese esta polícia poderá deter cidadãos israelenses. Em casos onde a
polícia palestina não tenha condições de deter as revoltas populares, o
exército sionista tem total liberdade para a intervenção. Os "acordos de
paz" também não preveem a libertação de prisioneiros políticos acusados de
terem cometido "crime de morte" a qualquer cidadão israelense, como é
o caso da brasileira Lâmia Maruf, condenada à prisão perpétua nos cárceres
sionistas.
Falar de "autonomia" ou "autoridade"
palestina é no mínimo uma grotesca farsa reacionária. Nem o direito mais
elementar, como o do acesso às reservas hídricas, em uma região desértica, economicamente
agrária, onde a população palestina é até proibida de cavar poços de água para
consumo doméstico, foi permitido por Israel. O único rasgo cênico da
"autoridade palestina" é a instalação de um Conselho Nacional, uma
espécie de parlamento composto por 82 membros eleitos nas cidades sob o
controle da OLP. Acontece que Israel terá o direito de veto, sobre qualquer
decisão aprovada pelo ‘parlamento’ que venha ferir seus interesses.
Neste marco, a atual política do Estado sionista, batizada
como "pacifista" é muito semelhante a do Apartheid na África do Sul
em plena década de 50, quando criou os famosos "bantustões",
territórios chamados de "livres", entregues a tribos
colaboracionistas para que dessem cabo das revoltas do povo negro.
Com a completa desmoralização política da OLP, que passou ao
papel de "polícia sionista" nos territórios ocupados, chegando a
encarcerar vários ativistas contrários aos acordos de paz, as organizações que
reivindicam a destruição de Israel e a continuidade da intifada conheceram um
enorme crescimento em sua influência política, principalmente as de caráter
fundamentalista islâmico, ligadas às burguesias árabes ainda beligerantes com
Israel (Síria e Irã), como o Hamas, Jihad e Hezbollah, surgindo como uma
alternativa radicalizada à traição histórica cometida pela OLP.
A estratégia do Hamas e Jihad consiste em converter o
caráter da intifada a ações espetaculares de terrorismo contra alvos sionistas
espalhados no mundo inteiro. Agindo desta forma debilitam a sublevação das
massas palestinas, isolando-as cada vez mais dos métodos de mobilização
permanente, como as greves e marchas populares. Estas organizações apostam em
obter a ruptura dos acordos entre a OLP e o sionismo, não pela ação das
próprias massas insurgentes, mas por meio do fortalecimento parlamentar da
ultradireita israelense, o que significa objetivamente colaborar com a
preparação de um ataque ainda mais brutal e violento contra o povo palestino
nos moldes do perpetrado pelo Likud em Sabra e Chatila.
Somente a construção do partido revolucionário, seção da IV
Internacional, poderá dirigir o proletariado e as massas palestinas em uma luta
consequente contra o enclave sionista de Israel e as direções colaboracionistas
como a OLP. Esta é a tarefa fundamental de todos aqueles que se reclamam da
gloriosa luta do povo palestino, ao longo deste século. Deixar essa tarefa nas
mãos de direções teocráticas e simétricas ao sionismo na questão do racismo,
como o Hamas e o Jihad, significa cometer outra traição, da mesma envergadura
da cometida pela celebração do pacto OLP-sionismo.
A ESQUERDA TROTSKISTA (REVISIONISTA) E A QUESTÃO PALESTINA
As principais correntes que reivindicam de alguma forma o
legado da IV Internacional em sua grande maioria tem oscilado, ora entre a
capitulação ao nacionalismo árabe ora ao sionismo judeu. Uma das primeiras
resoluções da IV Internacional dirigida por Michel Pablo, após a partilha da
Palestina pela ONU, era marcada pela ausência de consignas revolucionárias
adotando a democracia burguesa como alternativa ao regime sionista de Israel,
ainda que denunciasse corretamente o confisco dos palestinos promovido pelo
imperialismo com apoio da URSS, colocada da seguinte forma:"Abaixo a
partilha da Palestina; Por uma Palestina árabe, unida e independente, com
plenos direitos para a minoria nacional judia; Fora do país os ‘mediadores’ e
‘observadores’ da ONU; Pela eleição de uma Assembleia constituinte com sufrágio
universal e secreto; Pela revolução agrária!"(Quarta Internacional, junho
de 48). Era muito compreensível que as burguesias nacionalistas árabes e
organizações como a OLP se mantivessem no marco de uma "Palestina laica e
democrática" como forma de contraporem-se, à sua maneira e segundo seus
interesses de classe, ao enclave do imperialismo no Oriente Médio. Mesmo
postando-se incondicionalmente no campo de luta do povo palestino oprimido pelo
imperialismo em sua justa aspiração nacional, ou seja, a conquista de uma pátria,
os revolucionários internacionalistas não podem abster-se de levantar em alto e
bom som que a forma mais consequente para lutar por uma pátria palestina passa
por derrotar o imperialismo em seu enclave com o método da revolução
socialista, e pela instauração de uma ditadura do proletariado na Palestina,
abrindo a perspectiva da formação de uma Federação Socialista das Repúblicas
Soviéticas Árabes.
A ótica do pablismo, no comando da IV Internacional, era de
contrapor um regime democrático-burguês palestino, portanto capitalista, ao
Estado racista, militarista e também capitalista de Israel, tentando passar a
ideia da defesa de um programa democrático, através da convocação de uma
constituinte, como uma justa reivindicação transitória. A "leitura"
revisionista do Programa de Transição dava seus primeiros sinais. Em maio de
1948, Israel declarava sua primeira guerra de anexação ao território palestino,
caberia aos revolucionários impulsionar prioritariamente não bandeiras
democráticas, o que até poderia ser correto em outra situação, mas adotar um
programa que potenciasse o povo palestino, em plena guerra civil, de uma
estratégia para a tomada do poder, por meio de uma insurreição popular armada
nas principais cidades de Israel, ainda naquele período habitadas
majoritariamente por trabalhadores palestinos e árabes. Foi a falta de uma
estratégia e de um partido revolucionário no seio das massas palestinas que,
sob a liderança de um antigo colaborador dos nazistas, Mufit de Jerusalém,
Aminal-Hussein, ficaram subordinadas a impotência das burguesias árabes diante
da ofensiva militar de Israel, levando à retumbante derrota de 1948. Quanto a
menção da defesa de uma "revolução agrária" em plena etapa de
decomposição capitalista, só pode ser concebida, no mínimo, como parte
integrante da revolução socialista, que para a IV "pablista" não
estava, nem de longe, colocada naquela região.
Os herdeiros mais ligados ao espólio do pablismo, reunidos
no Secretariado Unificado, ao longo de sua existência, sempre trataram de
legitimar a existência de Israel, sob os jargões do pacifismo pequeno-burguês.
No mais recente conflito militar da região, a guerra do golfo, quando o Iraque
era covardemente bombardeado pelo imperialismo ianque, murmuram o slogam da
"paz", igualando uma nação oprimida ao agressor imperialista,
justificando essa política criminosa em nome do caráter autoritário do regime
de Sadam Hussein no Iraque. Trotsky definiu assim a posição dos revolucionários
diante de uma guerra dessas características:"Em uma guerra entre uma
república democrática imperialista civilizada e uma monarquia bárbara e
atrasada de um país colonial, os socialistas devem estar inteiramente do lado
do país oprimido, apesar de ser monárquico, e contra o país opressor, por mais
democrático que seja" (León Trotsky, História da Revolução Russa, tomo 2).
A derrota do Iraque, apoiado pelo povo palestino, significou um grande avanço
da penetração imperialista em todo o Oriente Médio. Para o SU, o mais
importante segue sendo a "democracia" e a "pacificação" de
todos os conflitos do Oriente Médio. Não é nenhuma surpresa que estejam na
linha de frente do apoio aos "acordos de paz" com o sionismo,
convertendo-se na cauda política da OLP.
Os morenistas, agrupados na cambaleante LIT, caracterizam-se
pelas enormes capitulações às direções nacionalistas e pequeno-burguesas dos
povos árabes, o que, aliás, não é um privilégio de sua política somente para
esta região. Para Nahuel Moreno, até as manifestações racistas da burguesia
árabe são progressivas, chegando, ele mesmo a afirmar: "Hoje o racismo
árabe é progressivo, destrói o Estado sionista" (Correio Internacional, nº
28). Até é possível afirmar que o nacionalismo árabe pode ser uma expressão
"progressiva", ainda que muito limitadamente, quando se enfrenta com
o imperialismo ou seu enclave sionista de Israel. Esta posição é completamente
oposta a apoiar as expressões mais reacionárias das velhas classes dominantes
do Oriente Médio, ou seja, o racismo e o fundamentalismo islâmico, que embotam
a consciência das massas em luta, impedindo a unidade dos trabalhadores judeus
e palestinos, para enfraquecer, desde o seu interior, o Estado de Israel.
A LIT assume, como seu, o programa de fundação da OLP,
defendendo que "o estabelecimento de um Estado Palestino, laico,
democrático, e não racista, poderá extirpar do Oriente Médio, a opressão,
destruição e a guerra" (Correio internacional, nº 52). Uma coisa é nos
colocarmos do mesmo lado militar da OLP (evidentemente, antes de sua
capitulação ao sionismo) ou de qualquer outra organização que lute contra o
enclave imperialista de Israel e, nesse sentido, os revolucionários não impõem
nenhuma condição, política ou programática para estarem deste lado da
barricada. O que não significa de nenhuma forma que devam rebaixar ou mesmo
anular seu programa em favor da plataforma democrático-burguesa das direções
nacionalistas ou pequeno-burguesas do povo palestino.
O capitalismo em sua atual fase de decadência imperialista,
concentra em uma única etapa, uma série de questões do seu desenvolvimento
histórico. A resolução de uma pendência nacional milenar, como no caso da
palestina, esbarra com os estreitos limites do capitalismo dependente na
região. É tarefa dos revolucionários a incorporação das reivindicações
nacionais, não a um programa burguês, como faz a LIT, e sim à dinâmica geral da
revolução socialista. O Programa de Transição, analisando a tarefa dos
trotskistas nos países atrasados, define da seguinte forma suas
responsabilidades: "Os países coloniais e semicoloniais são, por sua
própria natureza, países atrasados, mas esses países são parte de um mundo
dominado pelo imperialismo... Do mesmo modo são determinados os esforços
políticos do proletariado dos países atrasados: a luta pelas tarefas mais
elementares da independência nacional e da democracia burguesa é combinada com
a luta socialista contra o imperialismo mundial." (Programa de Transição -
Os países atrasados e o programa de reivindicações transitórias, León Trotsky)
A falência, comprovada historicamente, do conjunto das
variantes nacionalistas e pequeno-burguesas (nasserismo, OLP), fizeram crescer
enormemente movimentos antissionistas de caráter fundamentalista islâmico,
reafirmando mais do que nunca a necessidade em construir um partido que aspire
elevar-se à condição de direção revolucionária das massas palestinas. A
maturação de um programa que inscreva a defesa de uma Palestina Soviética,
baseada em conselhos de operários e camponeses palestinos e judeus é a única
forma de soldar a aliança dos trabalhadores por cima das nacionalidades no
marco de um regime socialista que elimine a propriedade privada dos meios de
produção.
A capitulação dos morenistas ao programa democrático-burguês
significa, em última instância, uma traição ao próprio povo palestino, já que a
realização de sua pátria, não virá pelas mãos do capitalismo putrefato, incapaz
de satisfazer as reivindicações mais elementares dos povos oprimidos.
Sem a menor sombra de dúvidas, foi o Altamirismo quem mais
operou zigue-zagues no que tange à questão palestina e ao Estado de Israel. A
finada TQI (Tendência Quarta Internacionalista), uma composição sem princípios
entre o Partido Obrero e o POR de Guillermo Lora, chegou a estabelecer um
pequeno núcleo de militantes no Oriente Médio, chamado de Liga Operária Palestina,
LOP. Durante este período, adotaram posições muito próximas do morenismo,
quando afirmavam: "a única saída histórica viável é uma república
democrática na Palestina baseada na destruição do Estado sionista" (Causa
Operária, nº 76).
A inconsistência política da TQI, logo a fez explodir,
arrastando a LOP para o desaparecimento enquanto organização trotskista na
Palestina. Altamira e seu Partido Obrero começaram também a mudar de posições,
enxergando o sionismo com outros olhos...
Com a ascensão dos grupos islâmicos como direção política da
chamada "causa palestina", protagonizando atentados terroristas no
mundo inteiro, e em particular alguns na Argentina, o Partido Obrero vê que seu
apoio à destruição do Estado de Israel, poderia afetar suas tão sonhadas
pretensões eleitorais (Altamira é eterno candidato do PO seja qual for a
eleição). Quando do brutal atentado à AMIA (Associação de Ajuda Mútua aos
Judeus) em Buenos Aires, o PO não só compareceu, como também convocou,
entusiasticamente, em conjunto com a embaixada israelense e os sionistas
portenhos, uma caminhada em apoio ao Estado de Israel, exigindo por parte do
governo Menem medidas repressivas enérgicas contra os possíveis responsáveis
pelo atentado, ou seja, ativistas vinculados de alguma forma a organizações que
lutam contra o enclave terrorista de Israel.
Longe de ser uma calúnia ou um exagero de nossa parte é o
próprio PO que reivindica sua atitude:"O Partido Obrero foi a única
corrente de esquerda que não só participou do ato contra o atentado, mas também
chamou a fazê-lo com antecipação....No dia 20, garantimos a mobilização do
nosso partido no ato, destacando a consigna: ‘a autêntica solidariedade é fazer
justiça’, por sua relação com a consigna histórica ‘ justiça e castigo para
todos os culpados" (Prensa Obrera, nº 424). Parece inacreditável, mas o PO
e Altamira exigem que Menem "faça justiça" e o criticam pela lentidão
como age no caso. Seria possível acreditar que alguém que se diga
"revolucionário" pode confiar ao Estado burguês e seus tribunais a
tarefa de "fazer justiça" contra organizações ou militantes que se
utilizam do método equivocado do terrorismo, como forma de luta política?
Parece que Menem ouviu os reclamos do PO, utilizando o atentado da AMIA para
criar a Super-Secretaria de Segurança, um organismo voltado à repressão do
movimento operário e popular argentino.
A posição assumida pelo Partido Obrero no caso AMIA, gerou o
repúdio da vanguarda de esquerda na Argentina, o que lhe obrigou a uma série de
retificações teóricas em seu arsenal programático. Segundo Altamira, o Estado
sionista de Israel não seria mais um enclave do imperialismo na região,
passando agora à condição de semicolônia oprimida, da mesma forma que os outros
países do Oriente Médio. Em polêmica com o MAS, vejamos qual é a afirmação do
PO sobre o caráter do Estado de Israel: "Que Israel é um Estado terrorista
como afirma o MAS, no Solidariedade Socialista nº 479, é uma afirmação justa,
mas dentro de determinadas condições." (Prensa Obrera, nº 426) para depois
concluir: "O Estado de Israel é uma nação artificialmente criada por um
acordo internacional entre o imperialismo norte-americano e a burocracia russa,
que nasceu como uma semicolônia ianque... É também o caso do Líbano que até
1975 foi uma colônia do imperialismo francês."(idem)
É o caso mais espetacular de mudança de posição que se tem
conhecimento no movimento trotskista dos últimos 50 anos. Israel passa a ser
considerada como uma semicolônia do imperialismo ianque, igual ao Líbano ou
outros países oprimidos. Desta forma, o conflito palestino versus Estado
sionista torna-se um conflito de iguais. "Pena" que os palestinos não
tenham recebido mais de 500 bilhões de dólares em ajuda financeira e militar do
imperialismo ianque, sem falar das armas nucleares estacionadas em território
israelense apontadas para as cabeças de todos os povos árabes. Quais seriam as
"determinadas condições" que o Estado de Israel, após exterminar mais
de cem mil palestinos e árabes em todas suas beligerâncias pela região,
deixaria de ser terrorista? Cabe ao próprio PO responder aos combatentes
palestinos que impunham a resistência heróica da intifada
Existem ainda alguns setores revolucionários e
verdadeiramente internacionalistas do movimento trotskista, que a partir de uma
crítica correta aos "acordos de paz", considerados como incapazes em
"eliminar o massacre palestino", sacam conclusões equivocadas diante
do embate real entre o povo palestino e suas organizações com o enclave
terrorista a serviço do imperialismo ianque. Acreditam que "apoiar a
substituição do Estado de Israel por um Estado burguês palestino é equivalente
à ideia de atirar judeus ao mar". Se dermos consequência a afirmações
desse tipo, concluiremos que a posição que o proletariado deveria tomar diante
de todas as guerras sionistas contra os povos árabes, assim como da intifada
dirigida hoje majoritariamente por organizações fundamentalistas islâmicas,
seria a posição do derrotismo, ou seja, a derrota de ambos os lados em todos
esses conflitos. Embora defendam a "necessidade de destruir o Estado
racista de Israel não "enxergam" de que ponto concreto poderemos
aplastar o Estado de Israel. Se é bem verdade que as burguesias e monarquias
árabes já mostraram-se completamente impotentes, do ponto de vista político e
militar para derrotar Israel, de modo algum significa que entre o enfrentamento
de uma nação oprimida e outra montada como máquina de guerra do imperialismo na
região podemos assumir a neutralidade ou o derrotismo. A intifada, hoje, é a
ponta de lança para o povo palestino derrotar o sionismo. Renunciar nosso lado
nessa trincheira, em nome do caráter reacionário do Hamas ou do Jihad é
colocar-se objetivamente, independentemente das proclamações contra Israel, de
malas e bagagens no campo militar do sionismo e seu regime assassino. O apoio
dos revolucionários à legítima reivindicação da pátria palestina, que só poderá
realizar-se plenamente sobre os escombros de Israel, é incondicional e
independente da sua direção política, por mais reacionária e teocrática que
esta seja.
Ficando à margem da luta concreta do povo palestino,
idealizando a "pureza" de uma revolução, sem mediações táticas como a
formação de frentes únicas de ação como fez Lênin para aplastar Kornilov e a
partir de abstrações como "Estado operário do Oriente Médio", sem nenhuma
referência à luta da nacionalidade oprimida, o partido revolucionário jamais
poderá credenciar-se como uma verdadeira direção de massas que se reserva o
direito de lutar com métodos próprios da classe operária (greves,
insurreições), mas a partir do mesmo campo militar da guerra contra o gendarme
imperialista de Israel.
A vitória do povo palestino, mesmo na hipótese de uma
direção burguesa, sobre Israel, significaria um enorme impulso em todas as
lutas proletárias do planeta contra o imperialismo e, em particular, a
antessala da revolução socialista no próprio Oriente Médio.
POR UMA PALESTINA SOVIÉTICA BASEADA EM CONSELHOS DE
OPERÁRIOS E CAMPONESES PALESTINOS E JUDEUS
A "devolução" de algumas cidades nos territórios
ocupados pelo exército israelense para as mãos da OLP, a converteu
definitivamente em agência policial sionista do seu próprio povo. Já são
frequentes os enfrentamentos entre a OLP e os ativistas da intifada, resultando
no encarceramento de várias lideranças do Hamas e Jirad. A completa falência
política da estratégia pequeno-burguesa da OLP evidencia enormemente a
necessidade da construção imediata de um partido operário revolucionário no
seio das massas palestinas, cuja primeira tarefa passa por uma profunda
delimitação programática com todas as variantes nacionalistas,
pequeno-burguesas e teocráticas.
A questão determinante no atual momento, é saber qual será o
destino da intifada, ou seja, como transformá-la em um ponto de apoio na
derrota do gendarme imperialista de Israel, o que passa obrigatoriamente por
sua capacidade em galvanizar um amplo movimento de massas, combinando greves
operárias, marchas populares, ações militares, tendo como objetivo a sublevação
das grandes cidades árabes e israelenses e a conquista do poder.
Para que isto se torne uma possibilidade real, dois
elementos são chaves. O primeiro, a saber, é a edificação da unidade entre os
trabalhadores palestinos dos territórios ocupados com os trabalhadores árabes,
palestinos e judeus das grandes metrópoles israelenses como Jerusalém, Haifa e
Tel Aviv. Os operários judeus mais pauperizados são, na sua grande maioria, de
origem sefaradim (árabes), pouco integrados ao regime econômico sionista, ao
contrário da aristocracia arquenazim (judeus de origem europeia) ou os colonos nazi-sionistas
dos assentamentos agrícolas. Esta unidade deve ser construída sob a base de
organizações operárias comuns, opostas pelo vértice à estrutura sindical
oficial, dominada pela burocracia do partido trabalhista. Sem a efetiva aliança
entre o proletariado árabe, palestino e judeu, tendo como eixo comum, a
demolição do regime capitalista e racista de Israel, a intifada pode estar
definitivamente condenada a ações isoladas, ainda que de brava resistência, mas
que nunca apontarão suas armas no coração do monstro.
O segundo elemento, diz respeito à denúncia política
sistemática das direções fundamentalistas islâmicas ou frente-populistas
guerrilheiras (FPLP), que hoje dirigem a intifada, em função da capitulação
histórica da OLP. Estes grupos, cada vez mais isolados das ações de massas,
compreendem a luta contra Israel única e exclusivamente do ponto de vista de
ações militares, servindo de barganha para as burguesias árabes (Síria, Irã,
Iraque) negociarem em melhores condições acordos territoriais com o Estado de
Israel, o que coloca a possibilidade de a qualquer momento também aceitarem
algum acordo podre como fez a OLP. Seu objetivo em proclamar uma república
fundamentalista da Palestina, é completamente reacionário do ponto de vista dos
interesses históricos do proletariado, o socialismo, debilitando profundamente
a unidade dos trabalhadores de todo o Oriente Médio, independentemente da raça
ou credo religioso. Vale enfatizar, porém, que apesar da necessidade do
estabelecimento de uma vigorosa delimitação com estas organizações, os
revolucionários as combatem a partir do ângulo da inutilidade de suas ações
para a revolução proletária, e nunca ao lado do Estado sionista, nem tampouco
do imperialismo mundial. Condenamos energicamente a repressão descarregada por
qualquer Estado burguês, seja os EUA ou Argentina, sobre os ativistas destas
organizações, mais ainda, entre os constantes enfrentamentos do enclave
sionista e o Hamas, estamos no campo militar deste último, subordinados à
disciplina do nosso próprio programa e estratégia.
As ilusões que poderiam ser despertadas com a farsa dos
acordos de paz, sobre os setores da população mais castigados e céticos por
longos anos de sofrimento, se desfizeram antes mesmo de alcançarem alguma
envergadura. A humilhação permanente dos sionistas sobre a malfadada
"autoridade nacional palestina" tem contribuído em muito para isso. A
tensão revolucionária que permeia a Palestina ocupada não conseguiu ser
quebrada nem pela violenta reação militar, tampouco pelo pacto OLP-sionismo.
Está aberta toda uma etapa, marcada pela resistência e grandes lutas que
rapidamente porão abaixo o acordo traidor, colocando como centro a conquista de
um verdadeiro Estado nacional.
A única alternativa que poderá dar uma resolução cabal à legítima
reivindicação nacional do povo palestino, assim como livrar as massas e
trabalhadores da região de seus gigantescos sofrimentos ao longo de vários
séculos, é a defesa de uma Palestina Soviética baseada em conselhos de
operários e camponeses palestinos e judeus. A expropriação do grande capital
sionista, alimentado em décadas pelo imperialismo ianque, impossível de ser
conquistada sem a destruição do Estado de Israel, garantirá a reconstrução da
Palestina sob novas bases, trazendo para seu povo o progresso e a paz tão
almejada durante mais de 70 anos de guerra de rapinagem imperialista na região.
O fracasso completo do chamado pan-arabismo claudicante em relação a Israel,
revelou a impossibilidade em selar a unidade dos povos orientais sob a batuta do
nacionalismo e do capitalismo tardio, dependente do imperialismo mundial. O
máximo aonde as burguesias árabes chegaram foi na formação de um cartel
petrolífero, a OPEP, preocupada em cuidar de seus próprios interesses às costas
das necessidades mais elementares das massas exploradas. A verdadeira unidade
de todos os povos milenares que habitam esta região, só será possível no marco
de uma Federação Soviética das Repúblicas Socialistas Árabes. Cabe ao partido
mundial da revolução proletária, a IV Internacional, conduzir essa tarefa até a
vitória final.