terça-feira, 19 de novembro de 2019

POLÊMICA SOBRE STÁLIN: OS STALINOFÓBICOS QUE SE “ACHAM GRANDES INTELECTUAIS TROTSKISTAS”...


A figura histórica de Josef Vissariónovitch Djugashvili, mais conhecido no movimento comunista internacional sob o codinome de Stálin, requer um rigoroso balanço marxista de sua trajetória como um dos dirigentes da Revolução Russa, assim como de sua condução como Chefe do antigo Estado Operário da URSS. Não se trata de reproduzir simplesmente sua biografia política tendo como parâmetro a Secretaria de Comunicação do Departamento de Estado dos EUA, como desgraçadamente fazem uma plêiade imensa de “intelectuais” que se dizem Trotskistas. A “peste teórica” da stalinofobia vem servindo há várias décadas como instrumento aberto da contrarrevolução, sendo utilizada pelo imperialismo ianque para atacar não só os Estados Operários, mas também o conjunto de conquistas sociais históricas do proletariado em todas as partes do planeta. As duas principais vertentes que hoje debatem o chamado “legado” de Stalin, ou seja, os stalinofóbicos e os stalinofílicos, não servem como instrumento para a revolução socialista e nada tem a ver com a gigantesca herança teórica deixada por Leon Trotsky, em obras como a Revolução Traída, Stalin e Em Defesa do Marxismo, para citar só algumas elaborações magistrais. 


Os que pensam ser grandes “intelectuais trotskistas” espalhando panfletos da Casa Branca sobre Stalin, “o sanguinário assassino”, sequer conhecem as posições do “velho” sobre o caráter dual do stalinismo, seu papel na contrarrevolução que sedimentou as bases para a burocratização da URSS, destruiu a III Internacional fundada por Lenin, porém estabeleceu ao mesmo tempo um limite de contenção para a expansão imperialista em todo o mundo. Estes “senhores intelectuais”, em conjunto com uma gama de correntes revisionistas do Programa de Transição, não podem se diferenciar das vulgares calúnias imperialistas lançadas contra Stalin, simplesmente porque são correia de transmissão dos EUA no movimento operário mundial, com o “presidente cowboy” Ronald Reagan saudaram a destruição reacionária da URSS como sendo uma verdadeira “Revolução Democrática” e seguindo a mesma trilha política ajudaram a OTAN a derrubar “outro ditador sanguinário” na Líbia, levando na bagagem desta “ação revolucionária” a devastação inteira de um país e seu povo, que hoje vive a “barbárie democrática” imposta por Barack Obama. Não é minimamente justo perder muito tempo com esta escória “intelectual trotskista”, porque não podem ser sequer considerados como parte do movimento global anti-imperialista, posto que estão na mesma trincheira dos EUA na China, Venezuela, Síria, Irã, Coréia do Norte e uma longa lista de intervenções da CIA contra os povos. Quanto aos saudosos stalinistas crônicos, não conseguem se desvencilhar do passado de colaboração de classes, esperando apenas por um aceno da burguesia mundial para celebrarem novamente um “Acordo de Paz”, mesmo que na próxima esquina da história o imperialismo os golpeie violentamente, sem nenhuma gratidão política pelos “serviços prestados”.


Stalin ascendeu a Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética com a morte de Lênin, depois de derrotar e posteriormente eliminar os dirigentes bolcheviques que resistiram a sua ascensão política. Trotsky escreveu uma biografia política dedicada a Stálin analisando detalhadamente esse processo. Sua morte anunciada oficialmente na época como produto de um derrame cerebral fez parte, na verdade, de uma feroz luta interna no interior do PCUS, a partir da deflagração da própria sucessão de Stalin em função de sua precária saúde e idade relativamente avançada, 73 anos. Os meses de janeiro e fevereiro daquele rigoroso inverno de 53 foram marcados por intensas movimentações nos bastidores do partido, culminando com o anúncio da descoberta do chamado “complô dos médicos” onde fora relatado que catedráticos da Universidade de Moscou seriam membros de uma organização de espionagem britânica empenhados em assassinar as mais altas lideranças soviéticas. Estava dada a senha para um novo processo de expurgos no politburo, onde Stalin pretendia “depurar” a lista de seus mais prováveis sucessores. Mas, o temido Lavrentiy Beria, comissário do povo para assuntos internos, teria agido mais rápido e de forma “preventiva”. Beria, temendo a nova purga stalinista que certamente o atingiria, tratou de envenenar o “Guia Genial dos Povos” e, por ironia da história, com veneno para matar ratos, como ficou comprovado somente em 2003 por uma equipe de legistas e historiadores russos absolutamente isenta. Segundo o grande historiador Isaac Deutscher, a absurda preparação de mais um “julgamento espetáculo” por Stalin às vésperas de sua morte, correspondia a sua já deteriorada condição ideológica comunista (se mostrava cada vez mais simpático às ideias de Mussolini) e, por consequência, em mudanças no caráter do regime soviético. Como afirmou Trotsky, a burocracia atua como uma casta que defende “até a morte” seus próprios privilégios materiais (que só podem sobreviver sobre as bases sociais do Estado operário), e nada mais coerente que diante da ameaça de Stalin de solapar os fundamentos do Estado soviético os próprios stalinistas dessem cabo de seu “chefe”. A verdade é que o homem de aço (Koba), elogiado por Lenin pela sua determinação incorruptível, vivia seus piores momentos no início da década de 50, após quase ter levado a derrota da URSS na Segunda Guerra mundial com a assinatura do pacto de cooperação com a Alemanha nazista, mais conhecido como “Pacto Ribbentrop-Molotov”. Pressionado pelas potências imperialistas consideradas “amigas” após a assinatura dos acordos de cooperação e não agressão de Yalta (1945), na Crimeia às margens do Mar Negro, Stalin leva às últimas consequências sua política contrarrevolucionária de coexistência pacífica com a burguesia mundial, debilitando assim sua própria liderança no movimento comunista internacional. Revoluções no mundo capitalista ocidental são “afogadas” pela URSS (França, Itália e Grécia) em nome do respeito às “zonas de influência”, neste período surge até o conceito do “socialismo só em meio país”, como no Vietnã e Coreia. Na China, rompendo a orientação de Stalin em dissolver o Partido Comunista no movimento nacionalista burguês, se insurge Mao Tsé-Tung, assumindo assim a direção política de um novo viés da esquerda revolucionária, que anos depois se repetiria em Cuba. Com todos seus graves erros de estratégia e traições ao legado teórico leninista, desgraçadamente a vertente revisionista do trotsquismo (seguida de toda intelectualidade pequeno-burguesa) insiste em identificar o “fenômeno histórico” do Stalinismo como sendo sinônimo de “ausência de democracia” e “provocador de calúnias”. Com este binômio, que com certeza é um elemento acessório da praxis stalinista, os revisionistas tentam enquadrar os marxistas revolucionários que denunciam seu programa de colaboração política permanente com o imperialismo, este sim um legítimo tributo à continuação da estratégia stalinista da colaboração de classes e subordinação ao “grande amo do norte”.

A tentativa de apresentar a figura de Stalin como o “grande demônio”, muito pior do que qualquer ditador fascista não é propriamente uma “novidade”. O próprio Trotsky no final dos anos 30 teve que combater esta posição liquidacionista no seio da seção norte-americana da IV Internacional, o SWP, representada pela fração antidefensista de Shachtman e Burnham. Para este setor do “velho” SWP que deu origem ao revisionismo atual, Stalin era igual a Hitler, um “ditador sanguinário”, esta caracterização impediria, portanto, a possibilidade de se estabelecer qualquer política de frente única com o Stalinismo na defesa das bases sociais do Estado operário soviético. No seu livro “Em defesa do marxismo”, Trotsky elaborou um artigo, “De um simples arranhão ao perigo de uma gangrena”, onde desconstrói na gênese a stalinofobia, tanto praticada pelos revisionistas da atualidade. Para Trotsky: “Stalin derrubado pelos trabalhadores significava a revolução, mas Stalin derrubado pelos imperialistas representava a contrarrevolução”. Não por coincidência, os dirigentes revisionistas do SWP acabaram seus dias de vida como colaboradores diretos do imperialismo norte-americano, inclusive a serviço das suas intervenções militares para “salvar a democracia”.

Os revisionistas contemporâneos, e seus amigos “intelectuais trotskistas”, não em poucas oportunidades se perfilaram no campo do imperialismo em nome da “luta contra o autoritarismo Stalinista”. O processo contrarrevolucionário que destruiu as conquistas sociais do Estado operário soviético, e na sequência de todo Leste europeu, contou com o apoio frenético de organizações revisionistas como a LIT e “similares” Morenistas. Para estes canalhas que enlameiam a referência do genuíno Trotsquismo, a defesa das “liberdades democráticas” formais estava acima da luta para conservar as bases da economia socializada da URSS. Também não tem a menor vergonha política de saírem na defesa de agentes da contrarrevolução aberta em Cuba.

Hoje, os Bolcheviques-Leninistas reafirmam todas as denúncias das traições da colaboração de classes que levaram ao fim da III Internacional e ao enfraquecimento das bases sociais do Estado soviético, alimentando a ofensiva da contrarrevolução interna, comandada na época pelo arrivista bêbado Boris Yeltsin. Muito mais além das falsificações e da política de extermínio dos quadros da “oposição de esquerda”, como Trotsky e Zinoviev entre tantos dirigentes comunistas da revolução de outubro, o grande “crime” de Stalin se concentra na adoção da estratégia do “socialismo em só país” (ou até meio) e na política de colaboração de classes com a burguesia mundial. A linha do “reformismo” como “tática” oficial dos partidos comunistas stalinizados em todo o mundo, tomada por empréstimo da velha social democracia, contaminou o conjunto da esquerda reformista, “derivando” até para um revisionismo “trotsquista intelectualizado”, tão simpático às democracias imperialistas e seus “recursos” nada democráticos...