Após renunciar à presidência da Bolívia no último domingo
(10/11), com o fracasso da vergonhosa manobra da convocação de novas eleições,
Evo Morales chegou nesta terça-feira (12/11) ao México, onde foi recebido pelo
chanceler, Marcelo Ebrard, que lhe concedeu asilo político em nome do governo
de centro esquerda, encabeçado por Andrés Manuel Lopez Obrador. Evo já tinha se
retirado da Capital La Paz, cercada por hordas fascistas lideradas pelo
fanático Luis Fernando Camacho e outros similares de extrema direita. Evo
tentou permanecer em um quarto mandato presidencial apoiando-se exclusivamente
nas instituições do Estado Burguês, e na própria confiança do Departamento de
Estado dos EUA que através da OEA sinalizou que aceitaria a decisão do
MAS (partido de Morales) em concorrer novamente a presidência, apesar da decisão
anterior contrária de um plebiscito nacional. Evo seguiu para as eleições de 20
de outubro convicto de que somente os “índices econômicos” positivos da Bolívia
lhe garantiriam um estrondoso triunfo eleitoral. O governo do MAS afirmava que
ao colocar mais de“três milhões de pessoas com acesso ao crédito e consumo”
seria o suficiente para entrar para história como o presidente mais longevo da
Bolívia, e num surto de ilusão com a “eterna gratidão” da burguesia por ter
potenciado seus negócios e lucros com a expansão mercantil do país. Ledo engano
reformista que custará muito sangue ao proletariado boliviano, “preço” muito
menor que “pagará” o próprio Evo e seu grupo que está asilado em total
segurança na capital mexicana. Desgraçadamente o MAS não soube abstrair as
lições do golpe no Brasil, onde a burguesia rentista apesar de ter lucrado
bilhões de dólares com os seguidos governos da Frente Popular, patrocinou uma
trama golpista assim que os primeiros sinais da economia capitalista começaram
a “patinar” como efeito da crise mundial. Ao elevar a condição de “prósperos
consumidores” pesados contingentes das chamadas classes “C” e “D”, os governos
da esquerda reformista pensavam contar com a “fidelidade política” destes
setores sociais, outro grande equívoco letal...ter acesso ao consumo e elevar
momentaneamente o padrão de vida não é o mesmo do que adquirir uma consciência
de classe ou mesmo na pior das hipóteses “progressista de esquerda”, muito pelo
contrário estes setores sociais ao verem ameaçador seus “novos hábitos” ao
limiar de uma recessão econômica se voltam de forma violenta exatamente contra
quem lhes promoveu o acesso ao consumo, no caso o governo da Frente Popular. Na
Bolívia a história se repete como tragédia, o governo do MAS acreditou que não
precisaria organizar os operários e camponeses de forma independente do Estado
Burguês para defender um novo mandato para Evo, bastaria a “gratidão do
mercado”, porém o golpe fascista veio a cavalo... e a classe operária estava
mais uma vez completamente desarmada, política e belicamente falando. Evo foi
“traído”, se é que possamos usar este termo nesta situação, por um motim
policial generalizado que começou a receber ordens diretas dos “Comitês Cívicos”
de Santa Cruz, logo na sequência o alto comando das Forças Armadas também
comunicou ao governo do MAS que não estava sob sua disciplina. Esta mudança
qualitativa na conjuntura, após quase um mês de conflitos e manifestações da
oposição em todo o país, configurou o desfecho final do Golpe de Estado, com a
bênção da OEA e da embaixada norte-americana, que postergaram até o último
momento o “abandono aos leões fascistas” do presidente retirante. Sem a mínima
disposição política de enfrentar o “golpe gorila” com os métodos de luta da
classe operária, Evo faz um deplorável pronunciamento de renúncia, implorando
aos chacais fascistas que respeitem a vida dos apoiadores do MAS, enquanto um
setor das massas mais combativo e consciente estava disposto em iniciar a resistência.
Fica claro que sem uma direção política que organize a luta consequente contra
os golpistas, a resistência acabará sufocada, já no México Evo faz um
demagógico chamado a um incerto “futuro eleitoral”, do qual estará vivo para
participar... enquanto a esquerda Trotskista (POR) afirma cinicamente que
“Camacho quer ocupar o vazio”, justamente cavalgando no mesmo movimento que
derrubou o governo do MAS, apoiado pelos Loristas acriticamente. A tarefa
imediata para as massas combativas do Altiplano é construir sua própria defesa
militar, diante das atrocidades golpistas que já estão ocorrendo. Evo covarde e
apologista da conciliação de classes, deve ser superado pela própria
experiência dramática da classe operária boliviana. Fascistas não serão absolvidos
no grande Tribunal da História revolucionária dos povos!