A crise política intensifica-se na Bolívia, mesmo após o
golpe de Estado que impôs a renúncia do presidente Evo Morales. A resistência
operária, popular e camponesa contra a ofensiva da extrema direita, se espalhou
pelo país, concentrando-se hoje na capital La Paz, sede do governo central. É
por isso que o imperialismo e seus títeres fascistas “forçaram a mão” para
empossar rapidamente a senadora, autoproclamada presidente, Jeanine Añez, uma
personagem sem grande expressão ou força política própria, oriunda da região
racista conhecida por “Meia Lua”, apoiada pelos bandos policiais, a cúpula do
exército e as hordas da extrema direita. Em sua primeira apresentação, na
varanda do palácio, o fanático reacionário Luis Fernando Camacho estava à sua
direita com uma bíblia na mão, representando as seitas pentecostais que tiveram
um papel determinante no golpe. Porém o governo “tampão” de Jeanine é um muito
frágil politicamente, um títere bancado às pressas pela embaixada
norte-americana, diante de uma disputa de poder entre as próprias frações
golpistas que ameaçava a governabilidade golpista. Añez só conseguiu efetivar a
manobra da autoproclamação porque a maioria dos parlamentares do MAS estava
ausente da esvaziada sessão do Congresso, grande parte da bancada masista
seguiu a covarde renúncia de Evo e Linera, deixando o caminho livre para esse
curso golpista e antidemocrático. Observando que mesmo sem uma direção política
que apontasse o caminho da resistência ao golpe, se avolumavam os protestos em
La Paz e El Alto contra Jeanine, forçando a renunciante presidenta do Senado,
Adriana Salvatierra, primeira na ordem sucessora na ausência do presidente e do
vice, a decidir voltar atrás e assumir novamente seu posto, seguida de outros
parlamentares do MAS, que com grande dificuldade por obstrução da polícia,
conseguiram a pouco adentrar na Câmara dos Deputados. Os manifestantes de El
Alto, no meio da desorientação provocada pela postura capituladora da direção
do MAS, chegaram a levantar a bandeira de que o general Williams Kaliman,
comandante das FFAA e o mesmo que exigiu a renúncia de Evo, assumisse a
presidência da república. Talvez este fato tenha levado a golpista Jeanine a
nomear outro comandante para as Forças Armadas, o general Orellana, elevando os
atritos no interior do bloco golpista. Añez prometeu convocar eleições
“democráticas” no tempo mais breve possível, mas não marcou sequer a data,
muito provavelmente nem esteja mais no posto usurpado nas próximas semanas, na
medida do agravamento da crise de governabilidade. A dupla de velhacos Trump e
Bolsonaro quer mascarar o golpe policial&militar com uma fachada
“constitucional”, sustentando a frágil senadora de “cabelos oxigenados” na
cadeira presidencial por mais tempo possível, o que esbarra no voraz apetite do
fascista Camacho, contido temporariamente diante do inimigo maior: o crescente
da resistência operária, popular e camponesa aos planos golpistas. Porém sem um
norte político e sem lideranças, a mobilização anti-golpe tende a se arrefecer,
sendo derrotada com métodos violentos de uma guerra civil. Evo e seu grupo
sinalizou do México que poderia voltar a Bolivia... "para pacificar o país".
Obviamente com este aceno busca um acordo político com as oligarquias e os EUA
no sentido de poder concorrer em novas eleições. O combativo movimento de
massas que espontaneamente demonstrou muita coragem no enfrentamento com a
reação golpista não pode esperar muito tempo, deve exigir o retorno imediato de
todos os dirigentes do MAS, prefeitos, governadores, parlamentares que renunciaram
covardemente e principalmente a volta de sua principal referência, o presidente
Evo Morales. Mas não para pactuarem um “acordo nacional” no sentido de estancar
a crise do regime burguês, e sim para derrotar os golpistas pela via da ação
direta da classe operária. Obviamente como Marxistas conhecemos muito bem a
impotência histórica do nacionalismo burguês em enfrentar a reação, Evo repetiu
simetricamente a “saga” de Peron em 55, Jango em 64 e Allende em 73, este
último pelo menos teve a “decência moral” do auto sacrifício. Porém é
necessário acelerar dramaticamente a perda das ilusões do proletariado na
camarilha dirigente do MAS, neste sentido de faz necessário, sem tergiversação
alguma como faz o arco revisionista (PTS, PO, LIT, UIT etc..), o chamado a
frente única com Evo, para combater o golpe de Estado patrocinado por Trump e
Bolsonaro.