Como parte nevrálgica dos conflitos do Oriente Médio, e após
uma guerra civil que durou mais de uma década, o Líbano desde meados de
outubro, se vê sacudido por manifestações massivas pautadas por reivindicações
elementares (emprego, renda, serviços públicos etc..) que envolvem a esmagadora
maioria da população explorada. Os enormes protestos populares que levaram a
renúncia do decadente Primeiro Ministro Saad Harir, ungindo em um governo de falsa
“unidade nacional”, se inserem em uma situação explosiva na região marcada pela
guerra na Síria, onde o imperialismo e seu “porta avião” sionista, pretendiam
aniquilar o regime nacionalista burguês e desmembrar o país, para facilitar a
ofensiva do gerdame de Israel contra o povo palestino, avançando contra o Hezbolah.
O Líbano é estruturado politicamente por um “acordo”, que contempla um sistema
comunitário quase feudal e confessional (divisão por crenças religiosas e
etnias) criado ainda pelo regime colonial francês. Os libaneses são listados em
uma “comunidade” desde o nascimento, sendo as principais as comunidades xiitas,
sunitas, cristãs e drusas, cada uma delas dividida politicamente em vários
partidos que têm representação no governo central. Este “sistema” de partilha
do poder estatal está baseado na divisão do povo, e agora está sendo
questionado, em conjunto com as medidas econômicas neoliberais impostas pelo
FMI. O retirante governo Saad Harir adotou uma série de medidas contra as
conquistas sociais da classe trabalhadora, agravando as condições de vida da maioria
do povo, do qual 35% já vive abaixo da linha de pobreza. A faísca da explosão
popular foi a decisão de taxar as comunicações via internet pelo WhatsApp, foi
a gota d’água que fez transbordar o copo da revolta. Manifestações
multitudinárias rapidamente se espalharam por todo o país. Os dois primeiros
dias (17 e 18 de outubro) foram marcados pela repressão da polícia, do exército
e de diversas milícias políticas ligadas ao fundamentalismo islâmico, que
também integrava o governo central. Houve mortes e centenas de feridos, mas a
tentativa de responder pela brutal repressão foi submersa pela onda massiva das
manifestações e seu caráter unitário, com todos os componentes étnicos da
população. É importante ressaltar que os campos de refugiados palestinos, um
contingente considerável da população, demostraram seu total apoio político ao
movimento de massas. As manifestações foram majoritariamente compostas por
jovens de todos os setores marginalizados, estudantes, camponeses e
trabalhadores que vivem na precariedade ou mesmo o drama do desemprego. O
Hezbollah, que é a segunda maior força política do país e com força militar
própria, também tinha planejado organizar uma manifestação contra o sistema
bancário e sua total dependência dos organismos imperialistas da UE dos EUA.
Porém a vinculação de sua direção nacional com o autocrático regime
confessional vigente no país, o fez recuar e até mesmo conduziu setores
direitistas da organização a se enfrentar com o movimento de massas, um grave
erro que poderá ter consequências desastrosas na luta contra o inimigo
sionista. A saída revolucionária que se coloca para as massas libanesas não é
distinta da colocada para os palestinos e árabes de uma maneira geral: combater
pela unificação socialista de todo o proletariado, na perspectiva de por abaixo
os regimes burgueses reacionários, ligados ao capital financeiro, ao
imperialismo e seu braço armado sionista.