O discurso de Lula na abertura do 7º Congresso Nacional do
PT foi um verdadeiro chamado a burguesia e, em particular a Famiglia Marinho,
para recompor o pacto de colaboração de classe rompido parcialmente com o golpe
institucional de 2016. O petista declarou
“Jamais ameacei e jamais ameaçaria cassar arbitrariamente uma concessão de TV,
mesmo sendo atacado sem direito de resposta e censurado como sou pelo
jornalismo da Globo. Entendo que democratizar a comunicação não é fechar uma
TV, é abrir muitas”. Essa afirmação condensa toda a estratégia de Lula para o
próximo período: reestabelecer os laços rompidos com a burguesia e o
imperialismo, sinalizando que não deseja radicalizar, pelo contrário, se
apresenta como um garante diante do quadro de instabilidade política e social
que atravessa o Brasil e o continente latino-americano. Esse tem sido o papel
que o maior dirigente petista vem apontando seguidamente desde que saiu da
prisão, a defesa do “Fica Bolsonaro”, o “diálogo” com o golpista neoliberal
Rodrigo Maia... tudo vai no sentido de demonstrar que o PT deseja voltar ao
Planalto em 2022 para amortecer a luta de classes. Como afirmamos, o mais
eficaz recurso da burguesia nacional para manter a “ordem social” e a
estabilidade do regime bonapartista vigente, ainda vem sendo a colaboração da
política de conciliação de classes da Frente Popular. A “camisa de força” que o
PT e a CUT impõe ao movimento de massas, espraiando as ilusões do “mundo
melhor” com a realização das eleições de 2022 e o possível retorno de Lula ao
Planalto, é a verdadeira barreira de contenção para que não “exploda” no Brasil
gigantescas mobilizações populares contra o “desmonte” e o “ajuste” que o
governo neofascista vem descarregando nos ombros do proletariado e da
juventude.
Para deixar a classe dominante seus objetivos
absolutamente claros Lula afirmou “Desde que foi criado, há quase 40 anos, o PT
disputou dentro da lei e pacificamente todas as eleições neste país. Quando
perdemos, aceitamos o resultado e fizemos oposição, como determinaram as urnas.
Quando vencemos, governamos com diálogo social, participação popular e respeito
às instituições”. Trata-se de um libelo a democracia burguesa e a negativa de
qualquer simpatia com a revolução social ou qualquer processo que sai dos marcos
da instuticionalidade capitalista. Essa é a essência do papel da Frente Popular
que Lula reafirma de olho em 2022.
Uma frase sintetiza a negação de se apoiar na mobilização
popular para questionar o regime político burguês e suas carcomidas
instituições com as FFAA. Lula pontua, polemizando com Bolsonaro que “Não fomos
nós que falamos em fechar o Congresso, muito menos o Supremo, com um cabo e um
soldado. Em nossos governos, as Forças Armadas foram respeitadas e os chefes
militares respeitaram as instituições, cumprindo estritamente o papel que a
Constituição lhes reserva. Nenhum general deu murro na mesa nem esbravejou
contra líderes políticos”. Como se observa trata-se de um chamado a recompor os
laços com os militares golpistas e o parlamento corrupto que golpeou o PT e
impôs as reformas neoliberais, em especial sinalizando para o “Centrão” com um
novo governo de coalização.
Não por acaso Lula atacou a Lava Jato mas preservou o covil
de bandidos togados do STF, afirmando “Com as armas da verdade e da lei,
continuarei lutando para que os tribunais reconheçam, agora, que fui condenado
por quem sequer poderia ter me julgado: um ex-juiz que atuou fora da lei,
grampeou advogados, mentiu ao país e aos tribunais, antes de desnudar seus
objetivos políticos. Lutarei para que seja anulada a sentença e me deem o
julgamento justo que não tive”. No sentido oposto, afirmamos que é um profundo
equívoco patrocinar ilusões no STF, ao contrário, é necessário denunciar o
caráter de classe da “Suprema Corte”, apontando que ela está a serviço da
classe dominante. Longe de embarcar na euforia de apostar na reversão do quadro
por dentro das instituições do regime, convocamos a vanguarda classista a
denunciar o STF como serviçal dos grandes grupos econômicos capitalistas,
alertando inclusive que os “ilustres” ministros desta instituição considerada o
sustentáculo “ético” do atual regime na verdade tomam suas decisões em função
das pugnas políticas existentes nas entranhas do poder republicano.
Por fim Lula “paz e amor” se coloca pessoalmente desde já a
serviço desse programa de colaboração de classes. Ele afirma “Hoje me coloco à
disposição do Brasil para contribuir nessa travessia para uma vida melhor, vida
em plenitude, especialmente para os que não podem ser abandonados pelo caminho. Sem ódio nem rancor, que nada constroem, mas
consciente de que o povo brasileiro quer retomar a construção de seu destino;
de que temos de fazer juntos um Brasil soberano, democrático, justo, em que
todos e todas tenham oportunidades iguais de crescer e sonhar”. Como Marxistas
Leninistas pontuamos que Lula sempre foi uma liderança contrarrevolucionária,
pregando políticas compensatórias para “suavizar” a crise capitalista que recai
sobre as costas dos trabalhadores. Em suas duas gerências estatais, beneficiadas
por um ciclo de expansão econômica mundial, tratou de induzir a acumulação de
capital aos rentistas, enquanto distribuía para o proletariado as “migalhas”
que sobravam no banquete financeiro da burguesia nacional. Quando a “festa” do
mercado acabou e “estourou” a bolha de crédito internacional, a classe
dominante tupiniquim deu as costas ao PT, patrocinou um golpe contra o governo
da Frente Popular e encarcerou o próprio Lula, cretinamente em nome da “ética
na política” brasileira.
O discurso de Lula na abertura do Congresso do PT reafirma
que Lula não quer (não pode) entender este “processo”, simplesmente porque é
refém programático da estratégia da Social Democracia e seu “ Welfare State”. A
LBI que defendeu intransigentemente a libertação de Lula das garras dos
bandidos da famigerada Lava Jato, reafirmamos que como uma corrente Trostskista
que estamos na linha de frente para combater a nefasta ilusão de “melhorar o
capitalismo com a adoção de políticas públicas” com apregoou Lula em seu discurso.
Estamos na trincheira da Revolução Socialista combatendo com nossas modestas
forças a plataforma de colaboração de classe que Lula defendeu e o PT reafirma
mais uma vez em seu 7º Congresso Nacional!