sábado, 13 de novembro de 2021

COP 26: COMO PINTAR DE VERDE OS INTERESSES DO CAPITAL FINANCEIRO

A COP26 foi um espetáculo divertido, imaginado para desviar a atenção do público do que aí se trama realmente. O GIEC, comitê de peritos climáticos do COP, não prevê o apocalipse para governos submissos, antes lhes fornece uma narrativa que permite justificar as suas ambições políticas. Os presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping, que são resolutamente hostis aos projetos financeiros dos COP, recusaram-se aparecer lá no preciso momento em que os grandes rentistas e banqueiros ali falavam na soma de 100 bilhões de dólares de investimentos.

As “Conferências das Nações Unidas sobre as alterações climáticas” são acompanhadas sempre por discursos apocalípticos. No entanto, nunca desembocam em compromissos mensuráveis e verificáveis. Apenas dão origem a promessas assinadas com grande pompa, mas sempre formuladas no condicional. A conferência que se desenrolou em Glasgow (Reino Unido), de 31/Outubro a 12/Novembro/2021, não escapou à regra. Ela começou com um vídeo espectacular de um dinossauro anunciando na tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas a possível extinção da espécie humana e prosseguiu com um discurso de abertura do reacionário Primeiro-Ministro britânico, Boris Johnson, sobre o que faria James Bond face ao desafio climático. Esta encenação continuou na rua com uma manifestação dirigida por Greta Thunberg, a menina mascote do “capitalismo verde”.

Os líderes burgueses que apelaram para a “salvação da humanidade” de um fim iminente são os mesmos que investem milhares de milhões de dólares em armas nucleares capazes de erradicar a vida humana do planeta em poucos minutos.O mínimo que se pode dizer é que esta Conferência é um entretenimento de qualidade oferecido aos espectadores do mundo inteiro, e com a devida legitimação da esquerda bidenista. Mas então, que realidade visa este circo mascarar? Para responder a esta questão, devemos primeiro afastar-nos de algumas certezas erradas sobre o “aquecimento global”. Equivocadamente nos fazem acreditar que o “aquecimento global” ameaça a sobrevivência da nossa espécie. O clima sempre teve mudanças, não de maneira linear mas por ciclos. A Terra já foi mais quente há sete séculos do que hoje. Por exemplo, na Europa os glaciares dos Alpes eram muito menores do que hoje e haviam camelos selvagens na Provença. Algumas das nossas costas estendiam-se mais pelo mar adentro do que hoje, mas outras, pelo contrário, eram mais recuadas, etc.

Tem se difundido que o aquecimento do clima na Europa corresponde à revolução industrial. É por isso que “acreditamos” que as mudanças climáticas, às quais assistimos, foram aceleradas pela produção industrial de gases com efeito de estufa, nos dois últimos séculos. É possível, mas concomitância não é causalidade. Existem outras hipóteses, entre as quais a do premiado geofísico sérvio Milutin Milanković a partir das variações da órbita terrestre (excentricidade, obliquidade e precessão dos equinócios).

Voltando às conferências das Nações Unidas, em 1988, os Primeiros-Ministros canadense e britânico, Brian Mulroney e Margaret Thatcher, convenceram os seus parceiros imperialistas (Estados Unidos, França, Alemanha e Itália) a financiar um Grupo Intergovernamental de Estudo sobre a Evolução do Clima (GIEC), sob os auspícios do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUE) e da Organização Meteorológica Mundial. Logo depois, a sra. Thatcher afirmou que “Os gases com efeito de estufa, o buraco na camada do ozono e as chuvas ácidas exigiam respostas intergovernamentais”. Este “belíssimo” discurso ecológico mascarava seus objetivos políticos.Tratava-se para a “Dama de Ferro” neoliberal, tal como o confirmam os seus conselheiros, de acabar com os sindicatos dos mineiros de carvão e promover uma nova revolução industrial, baseada no petróleo do Mar do Norte e na energia nuclear .

O GIEC não é de forma alguma uma academia erudita de climatologistas, mas tal como o seu nome indica um “grupo intergovernamental”. Nele não se discute climatologia, mas política climática. A grande maioria dos seus membros não são cientistas, mas diplomatas. Quanto aos peritos em climatologia que nele tomam parte, não estão lá como cientistas, mas como especialistas no seio de sua delegação governamental, quer dizer como funcionários. Todas as suas intervenções públicas são controladas pelo respectivo governo. É portanto grotesco falar de consenso “científico” para designar o consenso político que reina nesta assembleia. É nada compreender sobre o funcionamento das instituições burguesas intergovernamentais.

Contrariamente ao que pensa Greta Thunberg, o GIEC não prediz o apocalipse a “governos surdos”. Este organismo obedece-lhes fielmente e elabora com climatologistas uma retórica para justificar mudanças políticas que as pessoas comuns recusariam sem essa “legitimidade”. Os trabalhos do GIEC servem de base anualmente a uma “Conferência das Partes” (COP) signatárias da “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas” (CCNUCC). Assim decorre em Glasgow a 26ª edição (COP26). No seu primeiro relatório, em 1990, o GIEC considerava como “pouco provável” um aumento inequívoco do efeito de estufa “nas próximas décadas ou mais”. Mas aquilo que era a verdade em 1990 tornou-se a “heresia” em 2021.

As primeiras conferências foram consagradas ao trabalho de informação e sensibilização do público quanto à evolução do clima. Estava claro para todos que certas regiões se tornariam inabitáveis e que certas populações teriam que se mudar. Só com o passar do tempo é que se começou a dizer que as alterações seriam de uma tal amplitude que poderiam ameaçar a sobrevivência de toda a espécie humana. Esta mudança de discurso não se explica por uma súbita descoberta científica, que teria posto em causa uma verdade de um dia, mas pela evolução das necessidades do sistema global capitalista.

A sociedade capitalista de consumo está à beira do abismo, não se pode vender às pessoas o que elas já têm. Se as indústrias colapsam, os empregos desaparecem e os governos burgueses são derrubados. Há apenas uma solução para evitar isso: por exemplo, no final dos anos 90, a maior parte das sociedades ocidentais estava informatizada. Tornava-se impossível vender computadores. Propagou-se, assim, a farsa do século: o “bug do ano 2000”. Toda a informática iria “bugar” em 1 de Janeiro de 2000, à 00h00. Todos compraram então novos computadores e software. É claro que nenhum avião caiu, nenhum elevador parou, nenhum computador avariou. Mas Silicon Valley estava salva e agora ia-se investir em computadores para o grande público. Hoje a solução é a “transição energética”. Por exemplo, não se pode vender várias viaturas ao mesmo consumidor, mas pode-se trocar o seu carro a gasolina por um a eletricidade. É claro, a eletricidade é geralmente produzida com petróleo e exige baterias que, de momento, não são recicláveis. Em resumo, com a “transição energética” o planeta ficará ainda mais poluído do que antes. Mas com a COP26, os rentistas banqueiros em uma “causa nobre”, poderão emprestar dinheiro para “salvar a humanidade” e, de passagem, tornarem-se proprietários dos países cujos governos burgueses são apenas seus gerentes.