sábado, 9 de maio de 2020

COVID-19 TEM OS MORADORES DA PERIFERIA COMO ALVO PREFERENCIAL... QUANDO A MORTE TEM UM “CARÁTER DE CLASSE”


O número de mortes por Covid-19 está aumentando nas periferias das grandes cidades do Brasil. As mortes avançam principalmente por regiões onde há favelas, cortiços e núcleos habitacionais. A mortalidade, por exemplo, é 10 vezes maior na periferia de São Paulo, em bairros com condições sociais miseráveis. Nas áreas com piores indicadores sociais, o risco de morrer por Covid-19 é maior para todas as faixas etárias acima de 30 anos. A maior diferença foi verificada na faixa etária de 40 a 44 anos: neste grupo, o risco de morrer por conta do coronavírus foi 10 vezes maior entre os moradores da área de exclusão do que aquele dos residentes na área “nobre”. A maior proporção de mortes em pessoas com mais de 60 anos, em relação ao total da população do distrito nesta faixa etária, foi verificada nos distritos periféricos de Campo Limpo, Parelheiros, Itaim Paulista e São Miguel Paulista, enquanto os distritos com menor proporção são Pinheiros, Vila Mariana e Santo Amaro, todos localizados em regiões nobres da cidade. A Brasilândia, na Zona Norte, é o bairro de São Paulo com o maior número de mortes confirmadas ou suspeitas por coronavírus e o Morumbi, na Zona Sul, é o local que concentra o maior número de casos confirmados da doença. O avanço das mortes na periferia, que têm menos casos confirmados, mostra que a mortalidade é maior nessas regiões. 

Estudos apontam também que os pretos moradores da cidade de São Paulo têm uma chance 62% maior de morrer por Covid-19 do que os brancos. Os pardos têm 23% mais risco. A projeção é que o estado tenha de 9 mil a 11 mil mortes e de 90 a 100 mil casos confirmados até o final de maio, caso a taxa de isolamento fique em cerca de 55%. Considerando o total que inclui casos confirmados e suspeitos que culminaram em morte, que é como a Prefeitura tem tratado seus dados, em 20 distritos há mais de 50 óbitos. Entre eles estão Brasilândia (zona norte), com 103; Capela do Socorro (zona sul), com 65 óbitos, Sapopemba (72) e Cidade Tiradentes (zona leste), 62. Nos últimos 15 dias, ocupação de UTIs e casos confirmados de Covid-19 aumentaram no estado enquanto isolamento social permaneceu abaixo do esperado. É nas franjas dessa megalópole que se concentram a maior parte das mortes de coronavírus de acordo com o mapa apresentado pela prefeitura. A testagem é menos rápida dependendo do seu CEP”, afirma Paulo Saldiva, patologista e professor da Faculdade de Medicina da USP e conclui “Por isso as suspeitas aparecem em maior quantidade nas periferias”. São muitos os fatores que compõem a vulnerabilidade e a imensa maioria deles está presente no cotidiano dos moradores das periferias. Quem mora longe, não só trabalha por mais horas, como também perde mais tempo no deslocamento, dorme menos, come errado, não se exercita. Só isso já cria uma vulnerabilidade intrínseca. É como se a pessoa perdesse o direito de adoecer. 

A capacidade de fazer o isolamento social na periferia é menor também, devido às condições de moradia. Henrique Deloste, líder comunitário e membro da Associação de Moradores na Brasilândia/Cachoerinha, região que lidera o número de óbitos, afirma que na comunidade, quem pode, está cumprindo o isolamento. “Você percebe que as pessoas querem cumprir [o isolamento], mas uma parte das pessoas que está saindo nas ruas está indo porque tem que trabalhar”. Em resumo, vulnerabilidades sanitárias e socioeconômicas atingem os explorados, colocando em ainda maior risco de vida. 

Esses dados expõe o “vírus mortal” que é o capitalismo! Somente a luta direta dos trabalhadores pode impor que se destine recursos estatais somente para a rede pública de saúde, estatizando os “shoppings” hospitais e fechando imediatamente as empresas de “planos e seguros” de saúde privada. Apenas com o fim da saúde privada, dos planos de saúde pagos e com a completa estatização de todo o setor (clínicas, laboratórios, hospitais e indústria farmacêutica) sob o controle dos organismos de poder dos trabalhadores, associada a uma nova concepção de medicina preventiva e humanizada pode atender as demandas da população explorada, contribuindo por uma vida com bem-estar físico e mental, condições impossíveis de serem alcançados pelo capitalismo doente e senil que arrasta a humanidade para a barbárie!