Enquanto a burguesia e a elite palaciana usam e abusam de
cocaína de alta qualidade em suas mansões e festas vips, com direito a bandeja
de prata e “carreiras” de celebridades globais e “autoridades” usando o pó da
“alegria”, obviamente sem nunca serem incomodados pela polícia, parceira e
distribuidora da “farinha” pura, os consumidores do crack (mistura de
pasta-base de cocaína com bicarbonato de sódio), pobres em geral, estão sendo
alvo de uma verdadeira operação de guerra nas ruas das metrópoles brasileiras.
A Prefeitura e o Governo de São Paulo tentam nesses dias de Pandemia “limpar” a
região conhecida como Cracolândia da presença miserável dos usuários de crack,
quando se sabe que se trata de população que já é ultra-vulnerável: 9,5% têm
tuberculose, 6,3% têm HIV e quase 10%, sífilis. Na semana passada cerca de 160
seres humanos paupérrimos, muitos idosos, vários não-dependentes químicos,
foram tangidos como animais para dentro de três ônibus e despachados para a
baixada do Glicério, na várzea do rio Tamanduateí. A ideia é que com a
dispersão em várias áreas do centro paulista, essa gente pobre, desempregada e
marginalizada, que já chegou no fundo do poço da barbárie capitalista, seja
literalmente eliminada fisicamente pela Pandemia, para não falar dos grupos de
extermínio formados por agentes da repressão a soldo dos empresários.
Obviamente, não existe tratamento médico público para os viciados em crack,
como de fato não há assistência médica nem para a população trabalhadora em
geral, já que os hospitais públicos e o SUS são verdadeiras máquinas de
produzir cadáveres. Da mesma forma que o consumo do tipo de droga é seletivo,
tem seu corte de classe social, a assistência aos dependentes também o é:
clínicas de luxo para os vips e a classe média que pode pagar, repressão e
morte para os pobres.
Acabar com o constrangedor desfile dos usuários de drogas
envoltos em cobertores imundos, sempre em busca das pedras de crack, tem sido
uma obsessão de vários prefeitos e governadores do PSDB em São Paulo. O
governador João Doria Jr, ainda na condição de prefeito da cidade, protagonizou
em 2017 cena desastrada que por pouco não se transformou em tragédia. Deu-se
que, para posar de destemido adversário do crack, Doria ordenou a derrubada de
casas na região. Quase matou por soterramento três pessoas que moravam em uma
delas e que ficaram feridas. Trata-se do sonho tucano de restaurar um pouco que
seja do brilho quatrocentão do antigo bairro dos Campos Elíseos, onde viveu boa
parte da elite paulistana até meados no século passado, e que é o território
onde hoje se situa a Cracolândia. Nesse caso, o bairro tentará esquecer seus
dias de miséria e dará lugar a novíssimas torres de prédios, que farão a festa
das empreiteiras, incorporadoras e bancos. Doria e Covas poderão usar a imagem
daquelas ruas (antes, com o comércio de drogas a céu aberto, e depois,
“limpinhas”) em suas propagandas eleitorais, que os apresentará como
“vencedores”. A venda e o consumo de crack, entretanto, continuarão com antes.
Só terão mudado de endereço.
Para os Marxistas Revolucionários, o fato de parcelas cada vez
mais amplas da população consumirem drogas é um sintoma do estágio de barbárie
social a que chegou o capitalismo. De um lado a alienação completa de uma
classe dominante bestializada, que arrasta consigo para o atoleiro um amplo
setor da classe média que já não tem qualquer referência ideológica e cultural
progressiva depois de 30 anos do fim da URSS. Do outro, as camadas populares,
sem emprego e marginalizadas, são presas fáceis do consumo de drogas baratas
como o crack e o oxi (mistura de pasta-base de cocaína, querosene e cal
virgem), que causa rápida dependência e morte em poucos meses, ainda mais em
tempo de pandemia de Coronavírus.
Enquanto a esquerda pequeno-burguesa trata de dar ares
“progressivos” ao consumo de droga, particularmente da maconha no interior do
movimento estudantil, nós da LBI não somos a favor de que a juventude e o povo
pobre recorra ao uso de entorpecentes da consciência, além de falsas
“euforias”, o que só aprofunda a sua alienação e desagregação social, sendo
alvo fácil da ofensiva política, cultural e ideológica da burguesia, para não
falar de sua repressão direta através do aparato estatal. Somos absolutamente
contra a criminalização do uso de drogas e a repressão de seus usuários pelo
Estado burguês, justamente o que vem ocorrendo no centro de São Paulo neste
momento.
A própria sociedade capitalista vive um profundo processo de
decomposição moral e espiritual, havendo uma demanda crescente do uso de
cocaína para seus “cidadãos” sobreviverem em uma euforia artificial que
amortize a barbárie imposta pela divisão das classes sociais que gera uma
realidade cada vez mais agressiva, superficial e deprimente. Prova disso é que
os EUA, o coração do monstro imperialista, é o país onde há o maior consumo do
“pó” no planeta terra, porque sua classe dominante cada vez mais fútil e alienada
vive dopada, enquanto as amplas parcelas do povo pobre, através do crack,
sobrevive sem perspectiva futura na “meca do consumo”, esperando o fim da
própria existência física. O “remédio” para esse mal que assola a humanidade
reside na luta pela destruição do modo de produção capitalista e pela abolição
da propriedade privada pela via da construção do socialismo, que será capaz de
dar os passos concretos necessários para libertar o povo de suas amarras
econômicas, políticas, culturais e espirituais.