Todos que estão lendo agora esse artigo entraram em uma
farmácia lotada em meio à pandemia do Coronavírus. Caixas e caixas de remédios “preventivos”
ou “curativos” para gripes, febre, dores no corpo e afins... Máscaras com
preços decuplicados! As longas filas dão uma noção do negócio bilionário que a
indústria farmacêutica movimenta no mundo, cifras astronômicas que deram um salto gigantesco
em meio ao alastramento da peste viral. Sob o regime capitalista, a “Big
Pharma” é na verdade uma fábrica de doenças em busca de lucros sob a promessa (literalmente vendida) da cura, a saúde de toda
a humanidade está nas mãos de capitalistas miseráveis (seja na pesquisa, produção
ou no comércio), ela enxerga a pandemia com uma oportunidade única para seus
negócios. Depois de uma onda de fusões e aquisições sem precedentes, os 10
maiores grupos farmacêuticos dividem entre si mais de 70% do mercado mundial dos
remédios. A influência das companhias farmacêuticas é tamanha que elas não
conhecem “contra-poder” algum, nem mesmo do ponto de vista dos seus governos
burgueses. As empresas farmacêuticas
enxergam no Covid-19 uma oportunidade de negócios sem precedentes. A crise
global é um imenso sucesso para a indústria em termos de vendas e lucros, quanto
pior a pandemia, maior a expectativa de lucro. O capital se aproveita de toda e
qualquer situação para se reproduzir, se valorizar. Vida, morte, saúde ou
doença são vistas como detalhes de um grande negócio, como fonte lucro para a classe dominante. Dizem os CEO´s das grandes empresas que o
importante é aproveitar as oportunidades comerciais mesmo que isso signifique a morte de
milhares de pessoas, particularmente dos trabalhadores e do povo pobre. É o caso da atual
pandemia de Coronavírus. Enquanto milhões de pessoas não têm acesso a saúde pública
e convivem com a falta de leitos (principalmente UTI) para atender os doentes,
as empresas do ramo da saúde, grandes conglomerados capitalistas são
indiferentes ao desespero e às milhares de mortes em todo o mundo, lucram com a
crise pandêmica. A propriedade privada desses laboratórios é obstáculo central para debelar a pandemia. Somente
estatizando toda a indústria farmacêutica e tornando públicas todas as patentes
de medicamentos será plenamente possível garantir o acesso aos melhores
medicamentos de todas as doenças para cada necessitado. Na sociedade
capitalista divida em classes sociais o direito à vida se confronta com o lucro
e a propriedade privada dos meios de produção. Para os grandes capitalistas, o
lucro é o centro das suas preocupações. Para os Marxistas Revolucionários o
direito à vida dos trabalhadores é o centro de nossa luta. Esse direito pleno
somente poderá ser alcançado pela via da Revolução Socialista, quebrando todas
essas patentes e liquidando a propriedade privada!
Os recursos empregados pela indústria farmacêutica a
deixaram em uma posição bastante favorável na atual pandemia. Enquanto as
bolsas de valores despencaram, mais de 20 laboratórios que atualmente trabalham
no desenvolvimento de uma vacina e de outros produtos relativos ao novo vírus
SARS-CoV-2 foram poupados desse efeito. As ações da empresa de biotecnologia
Moderna, que começou há duas semanas a recrutar participantes para um ensaio
clínico de sua nova possível vacina contra o coronavírus, dispararam nesse
período. As ações da Eli Lilly, por exemplo, tiveram
considerável subida depois que a empresa anunciou que estava se juntando aos
esforços para desenvolver uma terapia para o novo coronavírus. A Gilead
Sciences, que está desenvolvendo um potencial tratamento, também está indo muito
bem. As ações da Gilead já estavam em alta desde a notícia de que seu
medicamento antiviral remdesivir, criado para o tratamento dos casos de Ebola,
estava sendo usado em pacientes com Covid-19. Isso deu um salto depois que o
Wall Street Journal noticiou que o medicamento teve um efeito positivo sobre um
pequeno número de passageiros infectados em um navio de cruzeiro, as ações
subiram ainda mais. Diversas empresas, incluindo Johnson & Johnson,
DiaSorin Molecular, e QIAGEN divulgaram que estão recebendo recursos do
Departamento de Saúde e Serviços Humanos por seus esforços em relação à
pandemia. O governo Trump instruiu as principais autoridades de saúde a tratar
todas as discussões relativas ao coronavírus como confidenciais, e excluiu os
funcionários sem credenciais de segurança das discussões sobre o assunto.
Nesse contexto, é preciso denunciar que os grandes
laboratórios dispõem de meios de coação para influenciar médicos e
pesquisadores. Submetida às regras das finanças, criaram uma assustadora rede
de monitoramente de prescrição pelos médios e vendas nas farmácias. Na Itália a
polícia descobriu um sistema informatizado que permitia aos laboratórios
acompanhar, por meio das farmácias, as receitas dos médicos do setor privado. Durante
sua investigação, a polícia descobriu um sistema informatizado elaborado,
denominado Giove (Júpiter) que permitia aos representantes comerciais acompanhar,
por meio das encomendas nas farmácias, as receitas dos médicos. 13 mil horas de
gravações telefônicas mostravam de modo bastante claro uma relação estreita
entre as receitas e o montante dos presentes recebidos pelos médicos:
“consultas” no Grande Prêmio de Monte Carlo ou no Caribe, pagamentos em espécie
de quantias de até 1.500 euros, etc. A Itália, caso isolado? Casos similares
apareceram nos Estados Unidos e na Alemanha…
Os laboratórios farmacêuticos estão no topo da valorização
no mercado de ações. Muitas dessas valorizações são mais por conta de
especulação do que propriamente pelo desenvolvimento de algumas pesquisas e
medicamentos. As ações do Laboratório Inovio Pharmaceuticals, por exemplo,
dobraram depois do anúncio de que vai iniciar testes clínicos para
desenvolvimento de uma vacina. Outras indústrias do setor farmacêutico com
valorização no mercado de ações são: a Moderna, Novavax, Regeneron
Pharmaceuticals, Top Glove (maior fabricante mundial de luvas médicas). Todas,
em comum, o aumento dos lucros com a pandemia. Os planos de saúde/seguro são
outros que lucram muito. A UnitedHealth (controladora da Amil no Brasil, detém
a maior fatia do mercado) teve lucro líquido de US$ 3,38 bilhões, só no
primeiro trimestre desse ano. A pesquisa e a produção de medicamentos voltadas ao
mercado, portanto, ao lucro, têm mais consequências problemáticas e atingem em
cheio a parcela mais pobre. Os chamados medicamentos sintéticos não são mais
atrativos, pois a taxa de lucro diminuiu (ao se tornar da rede pública a
patente), a ponto de muitos laboratórios deixarem de produzir. Um exemplo é a
penicilina, fundamental para o tratamento de inflamações e já até começa a
faltar na Saúde pública. Em contrapartida, grandes laboratórios ao direcionarem
suas pesquisas procuram medicamentos mais promissores financeiramente. As
chamadas “Terapias gênicas”, baseada na transformação celular, é um caso
típico. É um tipo de tratamento individualizado em que o sangue coletado do
paciente é modificado pelo laboratório e depois injetado naquele paciente. Segundo
o “insuspeito” presidente do Sindusfarma (sindicato patronal), foi lançado nos
Estados Unidos e na Suíça um medicamento que custa U$ 2,5 milhões de dólares,
voltado para tratar câncer e a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Dessa
forma, isso quer dizer que a cura somente estará disponível para milionários,
aos mais pobres restará a morte de milhares.
Nos EUA, por exemplo, os lobistas dos fabricantes de
produtos farmacêuticos conseguiram inserir para o setor grande parte dos
recursos de US$ 8,3 bilhões destinados para combate ao coronavírus, maximizando
seus lucros decorrentes através da transferência de somas diretas de recursos
do Estado para os caixas dos grandes laboratórios. O texto final do pacote de
incentivos não apenas omitiu as disposições que teriam limitado os direitos de
propriedade intelectual dos fabricantes de medicamentos, mas efetivamente
proibiu o governo norte-americano de tomar qualquer medida caso entenda que os
preços dos tratamentos e das vacinas desenvolvidos com recursos públicos
estejam altos demais.
A verdade é que lucrar em cima do investimento público
também é o padrão da indústria farmacêutica. Desde os anos 1930, os Institutos
Nacionais de Saúde, National Institutes of Health, ou NIH, dos EUA injetaram
mais de US$ 900 bilhões em pesquisas que os laboratórios usaram para patentear
medicamentos de marca, segundo os cálculos de Posner. Cada um dos medicamentos
aprovados entre 2010 e 2016 pela Administração Federal de Alimentos e
Medicamentos, a Food and Drug Administration, ou FDA, envolveu pesquisa científica
financiada com recursos públicos por meio dos NIH, segundo o grupo de defesa de
direitos Patients for Affordable Drugs [Pacientes pelos Medicamentos
Acessíveis]. Os contribuintes investiram mais de US$ 100 bilhões nessas
pesquisas. Dentre os medicamentos desenvolvidos com alguma medida de
financiamento público, e que se tornaram grande fonte de lucros para as
empresas privadas, estão o AZT, contra o HIV, e o tratamento contra o câncer
Kymriah, que a Novartis atualmente vende por US$ 475 mil. As empresas privadas obtêm
lucros exorbitantes de medicamentos produzidos com financiamento público. O
medicamento antiviral sofosbuvir, usado para tratar a Hepatite C, derivou de
pesquisa básica financiada pelos NIH. Esse medicamento é atualmente propriedade
do laboratório Gilead Sciences, que cobra mil dólares por comprimido, mais do
que muitas pessoas com Hepatite C conseguem pagar; o laboratório teve um lucro
de US$44 bilhões com esse medicamento durante seus primeiros três anos no
mercado.
Os lucros financiaram bônus gordos para os executivos dos
laboratórios e agressivas campanhas de marketing desses medicamentos. Eles
também foram usados para impulsionar ainda mais a lucratividade do setor
farmacêutico. Os laboratórios respondem por 63% do total dos lucros da assistência
de saúde nos EUA, em parte devido ao sucesso de seu lobby. Em 2019, a indústria
farmacêutica gastou US$ 295 milhões em lobby, mais do que qualquer outro setor
dos EUA. É quase o dobro do segundo colocado, o setor de eletrônicos, produção
e equipamentos, e bem mais que o dobro do que as empresas de óleo e gás
gastaram com lobby. O setor também investiu pesadamente em contribuições de
campanha para candidatos ao legislativo, tanto do partido Democrata quanto do
Republicano. Ao longo do processo das primárias democratas, Joe Biden tem sido
o principal destinatário de contribuições do setor farmacêutico e do setor de
assistência de saúde.
Somente com o fim da saúde privada, dos planos de saúde
pagos e com a completa estatização de todo o setor (clínicas, laboratórios,
hospitais e indústria farmacêutica) sob o controle dos organismos de poder dos
trabalhadores, associada a uma nova concepção de medicina preventiva e
humanizada pode atender as demandas da população explorada, contribuindo por
uma vida com bem-estar físico e mental, condições impossíveis de serem
alcançados pelo capitalismo doente e senil que arrasta a humanidade para a
barbárie!