O programa “Fantástico” da Globo colocou no ar neste
domingo (24/05) uma entrevista exclusiva com o ex-ministro Sérgio Moro, mudando
um pouco o “tom” com que vinha tratando o ex-ministro até agora. Na primeira
parte da entrevista a jornalista Poliana Abritta seguiu um roteiro “previsível”
dando espaço para Moro justificar a defesa de sua “tese” em relação a tentativa
do presidente Jair Bolsonaro interferir no comando da PF para proteger seus
familiares no Rio de Janeiro. Neste bloco Moro repete a narrativa, sem muito
“brilhantismo”, de que não caberia a ele “sentenciar” se Bolsonaro cometeu
crime ou não. Em um segundo momento, Moro aumentou seus ataques a Bolsonaro
quando o acusou indiretamente de estar fazendo “corpo mole” no suposto combate
a corrupção, utilizando a imagem do ex-juiz símbolo da Lava Jato, como um
disfarce para acobertar acordos com políticos corruptos do Centrão.“Me desculpe
aqui os seguidores do presidente, se essa é uma verdade inconveniente, mas essa
agenda da área de corrupção não teve um impulso por parte do presidente da
República para que nós implementássemos”, afirmou Moro. Entretanto a entrevista
começa a mudar o rumo, quando Poliana começa a “apertar” Moro, a jornalista
insistiu sobre o silêncio dele durante a reunião ministerial de 22 de abril,
que teve a gravação divulgada. No encontro de cerca de duas horas, o então
ministro falou apenas alguns minutos. “Eu não sou o presidente da reunião. Eu
não tava confortável. Eu me sentia incomodado em vários momentos. Eu estava no
governo e tinha limitações do que podia externar publicamente”, respondeu,
depois de alguma insistência de Poliana. Porém o salto de qualidade da
entrevista ocorreu no final quando Abritta destacou que Moro ficou 16 meses no
governo, insinuando sua cumplicidade com as atrocidades de Bolsonaro. Diante de
um Moro incomodado, como se a Globo estivesse quebrando o protocolo de um
roteiro “morno”, o ex-juiz disse que aceitou ser ministro por entender que
“tinha uma missão e que não se
arrepende”. A leitura política tanto da entrevista com Moro em seu conjunto,
como do planejado “aperto” dado pela Globo, caminha na direção de cobrar uma
posição de oposição mais firme, como de uma ruptura definitiva e sem vacilações
com o bolsonarismo. Na pergunta final sobre seu futuro político, Moro pela
primeira vez não negou uma possível candidatura, embora tenha deixado todas as
variantes ainda abertas... A famiglia Marinho busca uma liderança para a
oposição burguesa, de sua mais absoluta confiança, para ocupar o vazio político
deixado pela falência prematura da Frente Popular em plena pandemia do
coronavírus.