DO OUTRO LADO DAS FILAS DO “AUXÍLIO EMERGENCIAL”:
CAIXA SUPEREXPLORA BANCÁRIOS E TERCEIRIZADOS... SINDICATOS
PARALISADOS DIANTE ASSÉDIOS E ATAQUES EM MEIO A PANDEMIA!
O pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 pelo governo neofascista Bolsonaro tem feito milhares de pessoas dormirem em filas diante de
agências da Caixa Econômica Federal (CEF) para conseguir sacar o benefício. Trata-se
de um verdadeiro genocídio contra o povo trabalhador, que agora com a segunda
parcela só tem acesso ao “dinheiro virtual” que apenas será liberado em espécie a
partir de 30 de maio. Até esta data, são permitidos apenas pagamentos de contas
pelo aplicativo Caixa Tem. Porém quem está do outro lado da porta-giratória, os
bancários e terceirizados, também tem seus limites testados todos os dias. Companheiros
economiários e seus colegas ultra-precarizados relatam cansaço, tensão e medo por conta da jornada de até 14
horas diárias, da demora no recebimento de equipamentos de proteção individual
(EPIs) e das ameaças da direção privatista da CEF, orquestrada pelo famigerado
Pedro Guimarães. Por exemplo, em meio à pandemia do Coronavírus que já deixou
mais de 21 mil mortos no Brasil e 6 mil no Estado de São Paulo, o canalha
afirmou que as agências da Caixa permanecerão abertas de segunda a sábado,
inclusive feriados, para pagamento do Auxílio Emergencial, independentemente da
antecipação dos feriados em São Paulo. A ampliação da contratação de empregados
pela Caixa e a incorporação do terceirizados é uma luta permanente do movimento operário. Mas com a disseminação
do coronavírus no país, esta demanda se tornou ainda mais urgente. O banco é o
único responsável por pagar o auxílio-emergencial do governo, mas perdeu milhares
de empregados ao longo dos últimos anos. Em 2014, a Caixa tinha 101.484
empregados. Porém, sucessivos planos de demissão voluntária levaram o maior
banco público do país a contar com apenas 84.066 trabalhadores em dezembro de
2019. Por sua vez, a direção da Caixa não ouve os empregados e, sob orientação
de governos privatistas (Temer, Bolsonaro) e até mesmo das gestões petistas,
vem desmontando o banco. É urgente que se adote medidas como a descentralização do
pagamento do auxílio emergencial, agendamento e geração de senhas para evitar
aglomeração nas agências e a realização de parcerias com outros bancos públicos
(BB, Basa, BNB) e os Correios, a fim de diluir as aglomerações geradas pelos
pagamentos do auxílio emergencial, além de mais contratações para a Caixa e o fim do assédio moral.
Muitos economiários contam que inicialmente o banco liberou
verba para que as próprias agências comprassem máscaras e álcool em gel para os
funcionários. Mas, como os itens estavam em falta no mercado, muitos continuaram
a trabalhar sem proteção. Apenas no início de abril a CEF mandou entregar em
cada agência os EPIs e, em seguida, instalar divisórias de acrílico nos caixas.
Apesar disso segue a extensa jornada e do pouco tempo que os empregados têm
para comer: “Temos trabalhado cerca de 14 horas por dia e tirado apenas 15
minutos para almoçar, porque não tem quem supra aquele atendimento. A Caixa já
tinha um quadro insuficiente de funcionários. Agora, com vários afastados, é
pior” denuncia um companheiro. Até os gerentes em “off” relatam que estão exaustos.
Por serem os responsáveis por abrir e fechar a agência, eles chegam às 6h30 e
saem após as 20h. Isso porque, às 14h, todo trabalhador que está na fila recebe
uma senha, e o expediente só acaba após o último atendimento.
O diretor do Sindicato dos Bancários do Rio, José Ferreira,
conta que, para evitar as longas jornadas, tentou negociar com o governo e a
Federação Nacional de Bancos (Fenaban) para que o pagamento fosse distribuído
entre instituições privadas e públicas, sem sucesso. Outra demanda era fechar
agências para desinfecção, caso um bancário fosse diagnosticado com Covid-19: “Isso
tem sido feito. A equipe inteira entra em quarentena, e uma outra assume”.
O BLOG da LBI colheu alguns relatos de companheiros que
preferiram não se identificar para contarem suas rotinas devido ao clima de
perseguição pela direção privatista da CEF. Publicamos trechos abaixo: “Várias pessoas que
fizeram o cadastro não tem acesso à internet, além do aplicativo Caixa Tem ser
muito lento e cheio de falhas. Ou, então, não sabem ou não tem tempo como
acompanhar o lento andamento da solicitação online. Aí vai todo mundo para a
fila e sobra para o bancário, que está na linha de frente, explicar como
funciona o aplicativo ou se a pessoa tem direito ou não”.
“Quando começou essa operação, eu trabalhava das 9h às 16h,
sem parar para comer nem para ir ao banheiro. E só piorou. Foram pedindo para
chegar cada vez mais cedo. Agora, tenho que chegar às 7h para tentar reduzir a
fila. Percebo que a maioria das pessoas não deveria estar lá, mas está porque
não consegue usar o aplicativo ou não entende como utilizá-lo. E controlar essa
fila de várias pessoas nervosas é muito complicado. E não é nossa função evitar
essa aglomeração.. Outro problema é juntarem a liberação do auxílio com outros
pagamentos. Tenho atendido muitos casos de FGTS, por demissão”.
“Nós estamos em uma situação muito complicada, porque quem
está na fila não entende que nós, bancários, não temos culpa de o cadastro não
ter sido aprovado ou da lentidão na análise. Outro dia, invadiram a sala de
atendimento com um pedaço de madeira. Também já aconteceram agressões: vi um
colega ser pego pela camisa porque não liberou um pagamento para uma pessoa que
estava sem documento de identificação. Não podemos ser massacrados dessa forma.
Também temos família e estamos fazendo nosso melhor para ajudar essas pessoas.
Além disso, estamos com muito medo. Não sabemos se vamos pegar coronavírus hoje
ou amanhã. Já perdemos colegas, e há alguns no hospital. Apesar de usarmos
máscaras, a agência é um local fechado. A estafa mental é absurda”.
“Estamos trabalhando com um número reduzido de funcionários
porque as pessoas do grupo de risco foram poupadas. Além disso, algumas pessoas
ficaram doentes. Primeiro, fechavam a agência que teve algum caso de Covid-19.
Agora, estão chamando os gerentes-gerais porque não ganhamos hora extra. A
jornada de trabalho é exaustiva, às vezes de 12 horas. O normal era
trabalharmos oito horas. Fazemos o nosso melhor, mas parece que ninguém vê
isso. Chegamos a atender mil pessoas por dia na agência. Além disso,
trabalhamos com medo do vírus e da violência”.
Lembramos que no começo deste ano (janeiro) trabalhadores
bancários comemoram os 159 anos da fundação Caixa Econômica Federal. Porém a
comemoração real é a da luta em defesa do banco 100% estatal e sob o controle
dos economiários. O governo neofascista Bolsonaro iniciou o processo de
privatização da Caixa Econômica Federal através do fatiamento do banco e a
venda de suas subsidiárias. Inclusive a CEF comunicou, através da Caixa
Seguridade Participações, que o conselho diretor aprovou a contratação de um
grupo de bancos, chefiado pelo Morgan Stanley, para formatar a venda de ações
(IPOs) do setor de seguros da Caixa. A abertura de capital da Caixa Seguridade foi
programada para ocorrer em abril deste ano. “Em 2020, teremos foco total na
abertura de capital da Caixa Seguridade e da Caixa Cartões. O da Caixa
Seguridade será um laboratório para os demais”, afirmou cinicamente o atual
presidente da Caixa, Pedro Guimarães, em recente entrevista ao Broadcast do
jornal Estadão. Mesmo tentando justificar que “a Caixa é um banco social e que,
portanto, a questão da seguridade é muito importante”, o privatista neoliberal
segue preparando a sua venda. O desmonte do setor de seguridade da Caixa afetará
a rentabilidade do banco público e reduzirá sua capacidade de financiamento.
O mesmo Pedro Guimarães, que agora está vendendo a Caixa,
participou do processo de privatização do BB Seguridade, do Banco do Brasil, em
2013, o estafeta dos rentistas também participou do processo de privatização do
Banespa. Nas atividades que antecederam a privatização do Banespa ocorreram
fraudes grosseiras no balanço do banco público de São Paulo.
Por fim, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo
Financeiro Contraf-CUT, assessorada pela Comissão Executiva dos Empregados
(CEE), se limitou a enviar um ofício ao presidente da Caixa questionando a
razão pela qual a Caixa está abrandando o protocolo de atuação de gestores e
empregados durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Lutemos pela inclusão no Saúde Caixa dos quase
dois mil empregados que continuam sem plano de saúde. Após inúmeros pedidos, a
Caixa continua negligenciando os trabalhadores e deixando sem a cobertura de um
plano de saúde, principalmente nesse período de pandemia
Desgraçadamente, os sindicatos dos bancários a nível
nacional não organizam uma verdadeira ação direta de resistência à entrega da
CEF ao capital financeiro e o ataque às condições de vida dos trabalhadores da
Caixa. É necessário preparar uma nova direção política combativa para o
enfrentamento com o desmonte das empresas estatais promovida pela escória
neofascista de Bolsonaro, Guedes e Pedro Guimarães!
MOVIMENTO DE OPOSIÇÃO BANCÁRIA - MOB