segunda-feira, 29 de novembro de 2021

DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO: LUTAR PELA DESTRUIÇÃO DO ENCLAVE SIONISTA E EM DEFESA DE UMA PALESTINA SOVIÉTICA BASEADA EM CONSELHOS OPERÁRIOS E CAMPONESES! 

A recém-fundada Organizações das Nações Unidas, substituta da antiga Liga das Nações, através da iniciativa dos Estados Unidos, e com o apoio entusiástico da URSS, decretou em 29 de novembro de 1947 a divisão definitiva da Palestina entre um Estado judeu e outro árabe palestino. O stalinismo, após os acordos de Yalta, deixará o Oriente como uma área de influência do imperialismo ianque, além da consideração do sionismo, em sua versão trabalhista como um aliado político, com o qual desenvolverá uma frente popular em Israel. 

O velho partido comunista palestino logo mudará seu nome para israelense por considerar as massas árabes e palestinas como atrasadas e feudais. Antes mesmo da oficialização do Estado de Israel, as tropas do Irgun retomam os massacres aos palestinos, como a chacina da aldeia de "Deir Yassin". Era o prenúncio do terrorismo sionista que irá assolar o povo palestino até hoje. Exatamente no dia da proclamação oficial do Estado de Israel, 15 de maio de 1948, é declarada a Iª guerra aos países árabes. O novo exército de Israel, agora batizado "Tzahal", é abastecido belicamente pela Thecoslováquia (membro do Pacto de Varsóvia) e Estados Unidos. Conseguindo uma triunfal vitória, alarga, desta forma, em três vezes o seu território traçado inicialmente pela ONU. O Estado árabe palestino estipulado pelo plano de partilha não consegue sair do papel, já estava morto antes de nascer. Restando ao Egito à anexação da faixa de Gaza e à Jordânia a anexação da Cisjordânia. Um milhão e meio de palestinos deixam o agora chamado Estado de Israel, expulsos de suas terras sob o bombardeio da aviação sionista, espalham-se pelo Líbano, Egito, Jordânia, Síria. 600 mil palestinos permanecem no Estado sionista, sem nenhum direito civil, tratados como cidadãos de segunda categoria em seu antigo território nacional, servindo de mão de obra barata que irá mover a engrenagem capitalista do enclave militar de Israel.

Do velho Egito, surge um setor de jovens oficiais, sublevados contra a vergonhosa traição do Rei Faruk, que durante a guerra de 48 forneceu fuzis defeituosos ao seu exército. Tomam o poder liderados por Nasser. É o início do nacionalismo árabe que logo se espalha como um rastilho de pólvora pela Síria, Iraque e Líbano. Em 1956, Nasser declara a nacionalização do Canal de Suez, que estava sob o controle das grandes potências mundiais sendo o ponto econômico mais estratégico de todo Oriente Médio, aonde transitam dois terços do petróleo destinado à Europa. A reação do imperialismo é imediata, Inglaterra e França preparam a operação militar chamada "expedição de Suez". Cabe ao enclave de Israel, desempenhar seu papel de gendarme do imperialismo na região. Seus tanques e aviões bem mais sofisticados e em maior número que os da artilharia egípcia, logo em dois dias ocupam o deserto do Sinai até as margens do canal. Em seguida, passam o controle da região para as tropas da ONU, seguindo a orientação direta do imperialismo ianque.

Passados quase 11 anos da ocupação do Suez, novamente Nasser, agora apoiado por uma ajuda militar da URSS, que se vê obrigada a interferir no palco das operações militares do Oriente Médio, desta vez ao lado dos árabes, devido ao perigo de uma incursão militar imperialista no seu território oriental, retoma a bandeira do Suez, exigindo que tropas da ONU se retirem do Egito. É o motivo para que Israel entre em cena, com o sinal verde dos EUA. A aviação israelense ataca, e em uma manhã a guerra está ganha. Seus blindados são enviados para todos os fronts. Em seis dias, o Egito perde Gaza e o Sinai até o Suez. A Síria perde as colinas de Golan, também retomando da Jordânia a Cisjordânia anexada em 1948 e ocupa definitivamente o lado palestino da cidade de Jerusalém, conseguindo quadruplicar suas fronteiras iniciais. Sem uma ação direta das massas e devido ao forte poderio militar imperialista é imposta uma nova derrota para as burguesias árabes. Para o povo palestino é um desastre sem proporções, passando a habitar os territórios ocupados na condição de prisioneiros políticos. Segue-se uma luta de guerrilhas na região, a partir de bases militares palestinas instaladas no sul do Líbano, que se estende até hoje.

A essência de todos os conflitos militares travados na região reside na própria arena da luta de classes internacional, sendo a existência de Israel, um enclave militar artificialmente implantado no coração do Oriente, fundamental na repressão dos interesses do imperialismo mundial em uma região estratégica, pelas reservas petrolíferas, para o funcionamento da economia capitalista no planeta. É uma tarefa do conjunto do proletariado de todo mundo, inclusive o judeu, a destruição deste gendarme imperialista, no sentido de impulsionar enormemente a luta dos povos contra a exploração capitalista. O fim dos constantes massacres do povo palestino, assim como a realização da sua justa aspiração nacional para a constituição de uma verdadeira pátria, não passa, como já dissemos, pelos reacionários "acordos de paz" e a criação de um protetorado palestino sob as botas do Estado terrorista de Israel. Para os marxistas revolucionários, a caracterização de Israel como um enclave do imperialismo estabelecido contra a luta das massas árabes do Oriente Médio é fundamental para defendermos a sua destruição, como parte de um programa revolucionário para os trabalhadores palestinos.

A FORMAÇÃO DE ISRAEL COMO ENCLAVE DO IMPERIALISMO NO ORIENTE MÉDIO

Recuando um pouco na história da criação do Estado de Israel no território palestino, iremos compreender o real conteúdo desta operação, dirigida inicialmente pelo imperialismo inglês e finalizada pelo imperialismo ianque com o objetivo de estender definitivamente seu domínio sobre uma região estratégica, de vários ângulos: econômico, político e militar.

A maquiagem ideológica, que justificasse a criação de um país, a partir do quase nada, foi tomada emprestada ao movimento sionista pelo imperialismo britânico na primeira década deste século. O sionismo (referência à colina de Sion em Jerusalém) proclamava a necessidade de uma "regeneração" do povo judeu, que após a grande diáspora da Palestina, por volta do ano 70 da era cristã, teria se afastado de suas raízes produtivas, ligando-se exclusivamente as atividades comerciais e pecuniárias. Theodor Herzl, um dos fundadores do movimento, propõe "a conquista do trabalho pelo povo judeu" no retorno "à terra prometida" já em 1901. Sob o slogan "uma terra sem povo para um povo sem terra", os sionistas ‘esqueceram’ um ‘pequeno detalhe’, a existência de um milhão de palestinos que já habitavam aquela região há mais de 18 séculos!

O contexto histórico que marca a ascensão do sionismo é exatamente a profunda crise da economia capitalista, mergulhada em sua primeira grande guerra pela disputa de mercados, assistindo ao ressurgimento do nacionalismo exacerbado, colocando os judeus, particularmente os comerciantes e usurários em uma situação bastante delicada. Por outro lado, a vitória da revolução russa colocava objetivamente a possibilidade da absorção da cultura milenar do povo judeu em um patamar muito superior ao capitalismo, a construção solidária e multiétnica de uma nova ordem social, pondo um fim à discriminação nacional assassina que imperava na velha Rússia. O movimento sionista, que representa socialmente os interesses da grande e média burguesia judaica tenta responder a estas duas grandes questões - o colapso capitalista que elevava cada vez mais a segregação e o antissemitismo e, ao mesmo tempo, a necessidade de uma profunda demarcação com os revolucionários russos, que abriram a possibilidade de uma assimilação pela via do socialismo debutante justamente em um país largamente povoado por judeus.

Trotsky, desmascarando as tentativas de apresentação do sionismo, como um movimento de características comuns ao socialismo, o define como um instrumento que estava sendo utilizado pelo imperialismo inglês: "mas os fatos de cada dia nos mostram que o sionismo é incapaz de resolver a questão judaica. O conflito entre judeus e árabes na Palestina adquire um caráter cada vez mais trágico e ameaçador. Eu não acredito de forma alguma que a questão judaica possa ser resolvida nos quadros do capitalismo decadente sob o controle do imperialismo britânico" (León Trotsky, Sobre a Questão Judaica).

A vitória da aliança franco-britânica sobre os alemães e seus aliados, entre os quais a Turquia na Iª Guerra Mundial, torna o imperialismo inglês o grande herdeiro do imenso e secular Império Otomano, que engloba todo o Oriente Médio. Em 1917, com o objetivo de estabelecer uma ‘cabeceira de ponte’ na região, o governo inglês apoia a "construção do lar nacional para o povo judeu" na Palestina, através da célebre declaração de "Balfour". Toda a região é repartida entre Inglaterra e França, através dos acordos secretos de "Sykes-Picot", denunciados publicamente pelo partido bolchevique como a "partilha do covil sobre as nações oprimidas". São desenhadas fronteiras, criados países artificialmente como a Transjordânia (atual Jordânia) em 1921, tudo em função dos interesses econômicos do imperialismo europeu.

Mas a Palestina é a única nação que permanecerá sem qualquer rasgo de autonomia, ou seja, uma nação sem Estado, sem fronteiras nacionais, ficando sob o mandato inglês, confiado pela Liga das Nações em 1922. A partir daí o imperialismo britânico, através de magnatas do petróleo como o Barão de Rotchild, começa a financiar a emigração massiva de judeus na Palestina, que antes somavam apenas 25 mil, iniciando o processo de ocidentalização de um enclave, no meio do Oriente, em uma região que despontava pela riqueza do ouro negro e por sua localização estratégica do ponto de vista militar.

Com a ascensão do nazismo na Europa, em meados da década de trinta, o povo judeu assiste a vigorosa reaparição do antissemitismo na sua forma mais violenta. Por sua vez, a União Soviética, dirigida pela burocracia stalinista, não mais representava uma alternativa de integração para o povo judeu. Muito pelo contrário, sob o tacão termidoriano, os revolucionários assistem ao renascimento do antissemitismo em uma forma que não deixava muito a dever aos velhos pogrons tzaristas. A Oposição Unificada de Esquerda, formada por Trotsky, Zinoviev e Bukarin, entre outros, era definida pelo stalinismo como "união de judeus sujos vendidos a Gestapo". É neste marco que o sionismo, antes visto com muita desconfiança pelos trabalhadores judeus que o consideravam uma capitulação aos racistas, que preconizavam a expulsão dos judeus da Europa, vai afirmar-se como um grande movimento nacional de alcance de massas.

Na década de trinta, ocorre o grande fluxo migratório; em 1935, os judeus na Palestina já somavam quase 400 mil. A cidade de Haifa, a beira do Mediterrâneo, mais parecia uma cidade completamente europeia, no meio da cultura milenar do deserto. O objetivo imperialista inglês havia conseguido consolidar-se a passos largos. Os judeus, financiados com aportes massivos de capitais, formaram um verdadeiro Estado dentro do protetorado britânico na Palestina, inclusive com a criação de um exército próprio, as milícias do Irgun e Haganá encarregadas do extermínio de palestinos e árabes. Seu lema era "cem mil vidas árabes não valem a unha de um judeu". O sionismo transformou-se na reprodução do nazismo contra os povos árabes em seu próprio território.

Neste mesmo ano, explode a grande revolta palestina, com a deflagração de uma greve geral, que durou quase um ano. Somente em 37, o governo inglês consegue uma trégua, em função da vergonhosa traição do alto comitê árabe. Neste período, é enviada da Inglaterra a "Comissão Peel", encarregada de investigar os conflitos na região, concluindo pela primeira vez a necessidade da partilha da Palestina em dois Estados.

A iminente eclosão da II guerra mundial obriga a Inglaterra, ameaçada diretamente pelo nazismo, a procurar o apoio dos países árabes contra a Alemanha. Para atrair sua simpatia, em 1939, adota o chamado "livro branco", limitando a entrada de judeus na Palestina. Tarde demais, o imperialismo norte-americano, emergente no cenário mundial, abraça a causa sionista, passando a fornecer armamento pesado às milícias sionistas que ameaçam até o próprio exército inglês. Com a vitória dos aliados e o despontar da hegemonia norte-americana só resta à Inglaterra sua retirada do cenário.

OLP DA RESISTÊNCIA ARMADA AO PACTO COM ISRAEL

A luta do povo palestino representa a vanguarda das massas árabes contra o enclave de Israel, abrindo desta forma a perspectiva da revolução proletária em todo o Oriente Médio. São, sem dúvida, as primeiras vítimas do sionismo, que pretende sua eliminação física enquanto povo, mas também são alvo da opressão das burguesias árabes que, ora os tem utilizado como bucha de canhão na barganha com os sionistas ora como inimigos perigosos, descarregando sem hesitação sobre estes violentos ataques.

O próprio surgimento da OLP esteve condicionado à tentativa das burguesias árabes de manipularem em seu benefício a luta dos palestinos. Encarregado por Nasser em 1964 de estruturar a OLP, Ahmad Chukeiri, seu primeiro presidente, não escreve em seu programa original a defesa de um Estado Palestino, nem tampouco a destruição de Israel.

Com o fracasso da via nasserista, após a humilhante derrota dos países árabes em 67, ganha corpo a organização militar palestina "Al Fatah", a Vitória, surgida no final de 59, sob a direção de Yasser Arafat e Abu Lyad que proclamava abertamente a necessidade da destruição de Israel, colocando-se politicamente à margem da OLP oficial de Chukeiri.

É a "Al Fatah" que vai dirigir a resistência à ocupação militar de Israel na faixa de Gaza. Durante três anos, o exército sionista não consegue sufocar a rebelião popular instalada na região. Logo depois, em 1968, na cidade jordaniana de Karameh, os fedayin, ou seja, os guerrilheiros palestinos orientados pela "Al Fatah", conseguem derrotar o exército sionista, criando pela primeira vez o símbolo da resistência palestina vitoriosa.

No ano seguinte, Arafat assume a direção da OLP, que adota em sua carta de constituição: "a destruição do enclave do imperialismo como condição preliminar para a unidade dos povos árabes". A partir daí, estrutura-se como um verdadeiro Estado Palestino sem território, criando instituições como o Conselho Nacional Palestino, um verdadeiro parlamento com representação das suas diversas facções sociais e políticas.

Para os revolucionários, uma caracterização correta da OLP deve começar pela consideração de seu caráter de classe determinado pela adoção de um programa político democrático-burguês, defensor da recomposição de uma economia capitalista na Palestina, ainda que a representação social da burguesia no interior da OLP fosse extremamente minoritária, em função da expropriação forçada levada a cabo pelo sionismo em 48 e 67. Mas a questão chave é determinar o campo de luta da classe operária mundial no enfrentamento entre as massas palestinas e o enclave sionista de Israel subsidiado pelo capital financeiro internacional. Nesse caso, não pode haver a menor hesitação entre os revolucionários, estamos no campo militar da OLP, apesar da dinâmica imposta por sua direção apontar, caso triunfasse sobre Israel, na instauração de um regime democrático-burguês, extremamente instável em função do armamento das massas palestinas. Trotsky definia assim uma posição justa diante da guerra civil espanhola: "O partido comunista devia lavar as mãos frente ao conflito entre monárquicos e republicanos burgueses? A defesa de semelhante política seria um suicídio... Nestas condições a luta heroica dos operários teve inevitavelmente que fortalecer o governo republicano, pelo menos temporariamente. Só pode negar isto gente que não tem nada na cabeça e sustenta a análise dos acontecimentos em frases banais." (León Trotsky, A revolução espanhola e a tática dos comunistas).

A OLP protagonizará a maior oportunidade de encabeçar sua ‘revolução nacional’ na Jordânia, uma criação completamente artificial do imperialismo britânico no antigo território palestino, entregue à oligarquia beduína para que governasse sobre uma população composta majoritariamente por palestinos. Em meados de 70, acusando o regime "derrotista", uma alusão às constantes derrotas frente a Israel, do Rei Hussein de acatar a resolução 242 da ONU, que reafirmava o direito à existência de Israel, a OLP levanta a palavra de ordem de "todo poder à resistência" tomando o controle das cidades do norte do país, assim como os subúrbios de Aman. O Rei Hussein, com o apoio militar da Síria, lança seu exército contra os fedayin, causando mais de 5.000 baixas nos combatentes palestinos que, em setembro, são expulsos da Jordânia. A inferioridade militar e fundamentalmente a ausência de uma estratégia proletária, são os fatores determinantes pela derrota da OLP, que a partir de então privilegiará ações terroristas contra Israel principalmente fora do Oriente Médio.

Refugiados no sul do Líbano, espalhados em acampamentos próximos às principais cidades, os palestinos estabelecem uma importante aliança com a resistência dos trabalhadores libaneses em luta contra o regime títere do imperialismo francês. Estava mais uma vez colocada a possibilidade de uma revolução, desta vez com características nitidamente proletárias, já que a divisão social estabelecida no Líbano, rotulada pela imprensa mundial como sendo entre cristãos versus mulçumanos, refletia na verdade diretamente a luta entre explorados e exploradores.

Em função da ameaça da perda do controle no Líbano, o imperialismo francês aciona seu enclave na região, que sob o comando nazi-sionista Menahem Beguin desencadeia em junho de 82 uma operação militar de invasão do Líbano, chamada cinicamente de "paz na Galileia". Agindo em conjunto com os milicianos falangistas, o exército sionista massacra mais de dois mil civis nos acampamentos palestinos de Sabra e Chatila. É apenas um primeiro aviso de sua disposição em aniquilar a OLP. A burguesia árabe não esboça a menor reação, e até colabora com a operação militar. Apesar de um cerco impiedoso de dois meses sobre Beirute, fazendo lembrar o cerco nazista no gueto de Varsóvia, as tropas da OLP conseguem uma retirada honrosa. Mesmo com o estabelecimento da ocupação, o exército sionista não consegue atingir seus objetivos, dizimar a OLP e assassinar Arafat. Ao contrário, pela primeira vez em sua história, Israel é sacudida por manifestações gigantescas, com mais de 300 mil pessoas nas ruas exigindo o fim da política assassina do Likud, impulsionadas pela oposição pequeno-burguesa pacifista. É neste momento que se faz sentir a ausência de um partido revolucionário que chamasse a unificação dos trabalhadores judeus e palestinos para derrotar o regime terrorista de Israel.

A direção da OLP começa a dar os primeiros sinais de que estaria disposta a aceitar uma negociação com Israel nos marcos dos acordos de "Camp David", (produto da nova correlação de forças originada a partir da guerra de Yon Kippur) firmados por Sadat e Beguin em 1978. Estes estipulavam a aceitação de uma autonomia relativa nos territórios ocupados pelo exército sionista além da devolução do Sinai ao Egito ocorrida de fato em 82.

Em dezembro de 87, jovens palestinos deflagram nos territórios ocupados a "Intifada", revolução das pedras, tomando de surpresa a própria OLP. Organizam-se greves e barricadas que enfrentam as atrocidades do exército sionista, deixando um saldo de mil mortos só no primeiro ano de combate. É neste contexto que surgirá a organização Hamas, "resistência", questionando a linha de profunda adaptação trilhada pela direção da OLP.

Utilizando-se da Intifada, apoiada apenas formalmente, como arma de barganha internacional, a direção da OLP em assembleia do Conselho Nacional Palestino, no ano de 88, decide por aceitar a resolução 242 da ONU, admitindo oficialmente pela primeira vez o direito de existência de Israel. Arafat inicia uma verdadeira cruzada pelo mundo, para vender a imagem de uma nova OLP, aberta ao diálogo e à colaboração com o sionismo. É a expressão da inconsequência política de uma direção pequeno-burguesa, carente de um programa revolucionário que conduza as massas palestinas à vitória, adotando a linha pendular entre o foquismo inconsistente e o oportunismo capitulador frente aos genocidas sionistas.

Dando continuidade à sua nova política, denominada agora de "compromisso", tomando emprestado o termo do eurocomunismo italiano, ocorrem uma série de negociações secretas, entre a OLP e Israel que culminam com a realização das conferências pela paz em Madri e Washington, onde finalmente, Arafat e Rabin assinam o célebre "acordo de paz" que normatiza a formação de uma "autoridade nacional palestina" sobre uma pequena parte dos territórios ocupados em 67. A OLP, já totalmente fracionada, passa a ser encarada por setores cada vez maiores do povo palestino como a velha burguesia árabe com seus rompantes nacionalistas, mas sempre disposta a um acordo podre com os sionistas, desde que seus interesses sejam preservados.

A VERDADEIRA NATUREZA DOS "ACORDOS DE PAZ"

A burguesia mundial e o sionismo apressaram-se em apresentar os acordos entre Israel e a OLP como uma demonstração cabal da nova ordem mundial, estabelecida com a queda do muro de Berlim. Os sionistas jactam-se de abrirem mão de territórios como prova irrefutável de sua disposição de conviver pacificamente com o povo árabe-palestino. Já a OLP, considera a "declaração de princípios" firmada em Washington um primeiro passo no sentido da constituição de um Estado nacional. Mas o que realmente têm em comum o sionismo e a OLP, além da farta verborragia demagógica espalhada pelo mundo, é o temor que a luta das massas palestinas evolua à uma situação revolucionária, fugindo de seus respectivos controles. Qual é então a verdadeira natureza dos acordos de paz e seu significado para a luta de classes mundial?

Para Israel, trata-se fundamentalmente de debelar dois problemas vitais que ameaçam destroçar seu regime social, montado sobre o militarismo e a espoliação sobre o povo palestino. Quais sejam, a profunda crise econômica que atravessa e a necessidade de pôr fim a intifada que já dura quase seis anos sem interrupção.

O colapso da economia israelense, evidenciado na incessante queda dos índices da bolsa de valores e no profundo retrocesso de investimentos imperialistas em seu parque industrial, é o produto da própria crise capitalista internacional, em particular, do gigantesco déficit orçamentário norte-americano, gerando uma considerável redução do afluxo de capitais. Construído com enormes subsídios estatais do imperialismo ianque, o enclave de Israel não sobrevive sem esta "ajuda" voltada para o armamentismo como elemento propulsor de sua economia. Com a derrubada da URSS, os EUA iniciam um processo de aproximação com as burguesias árabes. A instalação de uma poderosa base militar na Arábia Saudita, durante a guerra do golfo e os acordos de cooperação militar, firmados com a Síria e o Egito, causaram em Israel a expectativa de um corte, ainda maior do que o já existente, nos subsídios e investimentos dos EUA em sua economia voltada para guerra.

A celebração dos "acordos de paz" por parte de Israel, significa a exigência para "distensionar" a região, abrindo, desta forma, a possibilidade de atrair investimentos de outros blocos imperialistas, como o Japão, por exemplo, além de facilitar a penetração de produtos israelenses nas economias árabes, até então obstruída por sanções destes, em razão da ocupação do exército sionista dos territórios palestinos.

A continuidade da Intifada que toma conta dos territórios ocupados, apesar dos enormes recursos destinados à sua repressão pelas tropas sionistas, são por outro lado, um dos motivos pelos quais Israel busca sua "paz". O fechamento sistemático de suas fronteiras para a força de trabalho palestina, bem mais barata e apta aos serviços mais pesados, em virtude das constantes sublevações palestinas, além de inúmeras greves que abarcam unitariamente trabalhadores árabes e palestinos residentes nas grandes cidades israelenses, já deram um prejuízo de cerca de 80 bilhões de dólares só nos últimos 5 anos.

A oposição estabelecida pelo Likud, ao contrário do que é divulgado pela grande imprensa, não diz respeito ao conteúdo dos "acordos de paz". Pelo contrário, foram eles mesmos que os iniciaram com Begin, mas somente nos seus ritmos e garantias que devem ser dadas aos colonos judeus situados em plena linha de fogo da "intifada".

Yasser Arafat e a OLP, manejando a justa aspiração do povo palestino para conquistar sua pátria, esforça-se em demonstrar que a instauração da ‘autoridade nacional palestina’ em algumas cidades da Cisjordânia e na faixa de Gaza é apenas a primeira etapa para a construção de um Estado soberano palestino. Nada mais falso e enganoso. Na verdade, a tentativa de estabelecer um regime colaboracionista em uma pequena faixa dos territórios ocupados pelos sionistas (representa cerca de 2% do território confiscado dos palestinos pela ONU em 47) corresponde a uma estratégia dos setores dominantes do povo palestino, altos comerciantes e banqueiros no exílio, atraídos pelas promessas de investimento capitalistas na região, cerca de 2 bilhões de dólares só dos EUA. A direção majoritária da OLP, apesar de alguns focos de oposição como a FPLP de Geoges Habache, acabou por selar um acordo renunciando a retomada dos territórios ocupados e pondo fim a todas as ações militares contra Israel, significando a traição histórica da luta do povo palestino pela destruição do enclave terrorista de Israel. A direção da OLP, ao transformar-se em polícia de seu próprio povo, coloca-se neste momento no campo militar de Israel para reprimir a intifada e todas as organizações políticas que continuam a lutar pela vitória definitiva das massas palestinas.

Os "acordos de paz" estabeleceram a ‘devolução’ de 7 cidades na Cisjordânia e toda a faixa de Gaza. A cidade de Hebron, em razão da presença de judeus, cerca de 500 em um total de 100.000 habitantes, ficará sobre o controle misto entre a OLP e o exército sionista. A "autoridade nacional palestina" não terá status de Estado, ficando proibida de estabelecer bases militares nos territórios ‘desocupados’. O exército Israelense continuará estacionado e com todo o domínio das zonas rurais que rodeiam as cidades, além do controle de todos os acessos por terra e mar. A maior cidade árabe-palestina da região, Jerusalém, permanecerá sob a ocupação absoluta de Israel.

Será mantida a proibição de qualquer retorno de refugiados palestinos, espalhados por todo o Oriente médio, que representam mais do dobro da atual população dos territórios ‘devolvidos’. Nas cidades sob o controle da OLP foi formada uma polícia palestina, tendo unicamente permissão para portar equipamento militar de baixo impacto, encarregada da repressão a "manifestações contrárias aos interesses de Israel". Sob nenhuma hipótese esta polícia poderá deter cidadãos israelenses. Em casos onde a polícia palestina não tenha condições de deter as revoltas populares, o exército sionista tem total liberdade para a intervenção. Os "acordos de paz" também não preveem a libertação de prisioneiros políticos acusados de terem cometido "crime de morte" a qualquer cidadão israelense, como é o caso da brasileira Lâmia Maruf, condenada à prisão perpétua nos cárceres sionistas.

Falar de "autonomia" ou "autoridade" palestina é no mínimo uma grotesca farsa reacionária. Nem o direito mais elementar, como o do acesso às reservas hídricas, em uma região desértica, economicamente agrária, onde a população palestina é até proibida de cavar poços de água para consumo doméstico, foi permitido por Israel. O único rasgo cênico da "autoridade palestina" é a instalação de um Conselho Nacional, uma espécie de parlamento composto por 82 membros eleitos nas cidades sob o controle da OLP. Acontece que Israel terá o direito de veto, sobre qualquer decisão aprovada pelo ‘parlamento’ que venha ferir seus interesses.

Neste marco, a atual política do Estado sionista, batizada como "pacifista" é muito semelhante a do Apartheid na África do Sul em plena década de 50, quando criou os famosos "bantustões", territórios chamados de "livres", entregues a tribos colaboracionistas para que dessem cabo das revoltas do povo negro.

Com a completa desmoralização política da OLP, que passou ao papel de "polícia sionista" nos territórios ocupados, chegando a encarcerar vários ativistas contrários aos acordos de paz, as organizações que reivindicam a destruição de Israel e a continuidade da intifada conheceram um enorme crescimento em sua influência política, principalmente as de caráter fundamentalista islâmico, ligadas às burguesias árabes ainda beligerantes com Israel (Síria e Irã), como o Hamas, Jihad e Hezbollah, surgindo como uma alternativa radicalizada à traição histórica cometida pela OLP.

A estratégia do Hamas e Jihad consiste em converter o caráter da intifada a ações espetaculares de terrorismo contra alvos sionistas espalhados no mundo inteiro. Agindo desta forma debilitam a sublevação das massas palestinas, isolando-as cada vez mais dos métodos de mobilização permanente, como as greves e marchas populares. Estas organizações apostam em obter a ruptura dos acordos entre a OLP e o sionismo, não pela ação das próprias massas insurgentes, mas por meio do fortalecimento parlamentar da ultradireita israelense, o que significa objetivamente colaborar com a preparação de um ataque ainda mais brutal e violento contra o povo palestino nos moldes do perpetrado pelo Likud em Sabra e Chatila.

Somente a construção do partido revolucionário, seção da IV Internacional, poderá dirigir o proletariado e as massas palestinas em uma luta consequente contra o enclave sionista de Israel e as direções colaboracionistas como a OLP. 

Esta é a tarefa fundamental de todos aqueles que se reclamam da gloriosa luta do povo palestino, ao longo deste século. Deixar essa tarefa nas mãos de direções teocráticas e simétricas ao sionismo na questão do racismo, como o Hamas e o Jihad, significa cometer outra traição, da mesma envergadura da cometida pela celebração do pacto OLP-sionismo.