ANITA LEOCADIA, FILHA E HERDEIRA POLÍTICA DO LEGADO DE
PRESTES, FIEL A VELHA TRAJETÓRIA DE COLABORAÇÃO DE CLASSES DO “PARTIDÃO” DECLARA: VOTO EM LULA (PT) NO 1º TURNO
Anita Leocadia Prestes acaba de anunciar seu voto em Lula (PT), candidato da esquerda burguesa para presidente, justificando sua posição na necessidade de derrotar eleitoralmente o candidato da direita burguesa Jair Bolsonaro já no 1º turno. Ela declarou “Eleger Lula no primeiro turno e organizar, mobilizar e conscientizar os setores populares”. Para a geração dos militantes mais novos, cabe esclarecer que Anita, professora de história da UFRJ, não é apenas a filha e “cuidadora” do acervo pessoal e político do “Cavaleiro da Esperança”, como era mais conhecido o ex-secretário geral do PCB até 1980, data de sua ruptura com o "Partidão".
Quando Prestes volta do exílio e rompe com a orientação de Giocondo Dias, que a partir daí ascende ao controle do PCB, Anita assume a tarefa junto ao pai de organizar uma nova corrente de esquerda comunista no país, este agrupamento político que existiu durante uma década até 1990, nunca teve especificamente uma “sigla” (ficou conhecido por “Prestismo”) se extinguindo com a morte do “Cavaleiro da Esperança” naquele mesmo ano.
Prestes
teve muita dificuldade em traçar um caminho programático que fosse radicalmente
distinto do “Partidão”, embora tenha feito uma inflexão bem a esquerda das
teses reformistas levantadas por Giocondo Dias e Salomão Malina, que chegaram
até a defender uma "constituinte com João", em alusão ao general João
Figueiredo, presidente do regime militar até 1984.
Prestes na verdade nunca rompeu com a raiz programática do stalinismo, ou seja, a colaboração de classes, embora tivesse discordâncias com os "absurdos" políticos do PCB, como o seu seguidinho na época ao PMDB.
Coube a Anita Leocadia a tarefa de organizar e centralizar a nova
corrente comunista fundada pelo seu pai e que carecia de quadros partidários,
mais além da enorme influência política exercida por Prestes no movimento de
massas. Foi justamente por esta debilidade de quadros e pelo temor que a URSS
viesse a repreendê-lo, que Prestes sempre se recusou a por uma “sigla” em sua
organização, que ficava muito diluída no entrismo que seus militantes
praticavam no PDT de Brizola no Rio de Janeiro e no PT em outros estados do
país.
Com a morte de Prestes no início de 1990, sua corrente
política ficou pulverizada em vários grupos menores e até no PCB, que abrigou o
retorno de antigos prestistas, porém Anita "administrou" a diáspora
dos seguidores de Prestes, sem nunca optar por ingressar uma nova organização
comunista em particular, ficando com a missão de resguardar o legado histórico
do "Cavaleiro da Esperança", insígnia dada ao seu pai pelo escritor
Jorge Amado nos anos 40.
No último período Anita e o PCB vinham desenvolvendo um trabalho político comum, configurando um resgate da figura legendária de Prestes por parte da nova direção do partido, inclusive participando de seminários comemorativos dos 100 anos do "Partidão".
Como todos sabem o PCB lançou candidatura própria de Sofia Manzano para consumo interno mas irá votar na chapa petucanda burguesa de Lula-Alckmin no segundo turno, o que demonstra de fato a diluição dos "comunistas" na plataforma Social Democrata defendida pelo PT. Desgraçadamente atualmente o PCB envereda pelo mesmo caminho do PSOL, parece que não tirou as lições do período que quase levou a sua destruição enquanto um Partido Comunista.
Neste momento o PCB se "derrete" politicamente e vários de seus militantes, filiados e “amigos” anunciam que votarão em Lula já no 1º turno. Não são poucos os militantes do PCB que já declararam o voto em Lula no primeiro turno, mostrando que a demagogia oca da tal "Reconstrução Revolucionária" não está tão coesa e forte assim, parece mais uma miragem para o público interno.
A posição de Anita, que já foi membro do CC no exílio, filha e biógrafa de Luiz Carlos Prestes, bem como signatária das profundas críticas de Prestes ao Partido nos anos 80 e vinha se aproximando do atual PCB, tem um peso avassalador na tática eleitoral do PCB.
Anita resolveu ser mais "honesta" intelectualmente que a atual direção nacional do PCB que apenas finge principismo mas vota de fato em Lula e aderiu a campanha burguesa do PT imediatamente, chamado o próprio PCB a retirar a candidatura protocolar de Sofia Manzano ao declarar “Diante da gravidade da situação atual, diante da ameaça da permanência de Bolsonaro na presidência seja através do voto seja via golpe de força – situação que seria uma tragédia nacional –, as forças progressistas e de esquerda têm a responsabilidade de considerar a retirada das candidaturas alternativas à presidência da República, unificando todos os esforços para garantir a eleição de Lula. Neste momento, os argumentos favoráveis à utilização da campanha durante o primeiro turno para fortalecer as posições de cada partido ou entidade política perdem validade frente ao perigo iminente que ameaça a soberania nacional e o futuro do Brasil com a continuidade de Bolsonaro no poder”.
Anita, segue mais "coerente" na fidelidade à velha trajetória de colaboração de classes do "Partidão" que logo logo irá se juntar ela no apoio a canditatura burguesa de Lula.
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DECLARAÇÃO DE ANITA LEOCADIA PRESTES
ELEGER LULA NO PRIMEIRO TURNO E ORGANIZAR, MOBILIZAR E CONSCIENTIZAR OS SETORES POPULARES
Vem se tornando cada vez mais indiscutível na opinião pública brasileira a ideia de que Lula poderá eleger-se presidente da República nas eleições presidenciais de outubro de 2022. As diversas pesquisas eleitorais têm confirmado essa tendência de maneira bastante evidente.
Diante do crescente desgaste de Bolsonaro e de seu governo, assim como da ausência de outros candidatos que possam sensibilizar setores ponderáveis do eleitorado, nos deparamos com uma situação plebiscitária: Bolsonaro versus Lula. Em outras palavras: obscurantismo, autoritarismo e/ou fascismo, privatização das empresas estatais, devastação da Amazônia, liquidação dos direitos trabalhistas versus progresso, democracia, reversão das privatizações, recuperação da Amazônia e retomada dos direitos trabalhistas.
No momento, dado o atual espectro de forças políticas do país, não existe alternativa real para os setores progressistas e de esquerda que não seja eleger Lula. Há quem considere possível, contudo, deixar essa decisão para o segundo turno das eleições, algo questionável quando se observa a intensificação das ameaças golpistas de Bolsonaro, a serem desfechadas no caso da iminência de um provável resultado eleitoral desfavorável à sua candidatura. Ameaças que têm contado com o aval mais ou menos explícito de setores militares, assim como da base social e política do bolsonarismo.
A presença de numerosas candidaturas presidenciais, privadas na atual conjuntura política de qualquer perspectiva realista de êxito, contribui para dificultar a vitória de Lula no primeiro turno e facilitar a atividade golpista de Bolsonaro e seus asseclas. Contribui para fortalecer os intentos bolsonaristas de torpedeamento da principal candidatura oposicionista, pois um intervalo de quatro semanas entre o primeiro e o segundo turnos (de 2 a 30 de outubro) poderá constituir uma oportunidade propícia à mobilização e à intensificação do desencadeamento de ações dirigidas contra o resultado das urnas. Seria uma oportunidade propicia à divulgação de mensagens de descrédito e de depreciação das urnas eletrônicas, uma oportunidade a mais oferecida a uma prática que já vem vigorando durante a governança bolsonarista.
Diante da gravidade da situação atual, diante da ameaça da permanência de Bolsonaro na presidência seja através do voto seja via golpe de força – situação que seria uma tragédia nacional –, as forças progressistas e de esquerda têm a responsabilidade de considerar a retirada das candidaturas alternativas à presidência da República, unificando todos os esforços para garantir a eleição de Lula. Neste momento, os argumentos favoráveis à utilização da campanha durante o primeiro turno para fortalecer as posições de cada partido ou entidade política perdem validade frente ao perigo iminente que ameaça a soberania nacional e o futuro do Brasil com a continuidade de Bolsonaro no poder.
Embora seja necessário, no momento, não poupar esforços para garantir a eleição de Lula, os setores de esquerda não devem alimentar ilusões quanto ao progressismo de seu futuro governo. Como é sabido, os governos do PT (Partido dos Trabalhadores) puseram em prática políticas derivadas da opção ideológica reformista desse partido, ou seja, da concepção hegemônica na sua direção, favorável à tentativa de implantar no Brasil um “estado do bem-estar social”, conforme o modelo da social-democracia europeia. Em outras palavras, uma concepção voltada para a reforma do capitalismo, excluída uma perspectiva de transição ao socialismo.
Na realidade, uma perspectiva que fracassou no continente europeu e, dadas as gritantes desigualdades sociais que sempre marcaram a sociedade brasileira, era impossível de ser realizada em nosso país. Caminho este que revelaria sua total incapacidade de resistir ou se contrapor às sucessivas crises do sistema capitalista do qual o Brasil faz parte em posição dependente e subordinada.
A presença e o domínio do poder militar na vida nacional, assim como a manutenção da Lei de Segurança Nacional e do entulho da legislação fascista implantada no Brasil nos 21 anos de ditadura militar (1964 a 1985) perduraram durante os governos que a sucederam, inclusive nos governos do PT. Esses deram continuidade às políticas de corte neoliberal, associadas a medidas assistencialistas (bolsa-família, etc.) e nada fizeram para elevar o nível de organização e consciência política das massas trabalhadoras, não as prepararam para enfrentar a ofensiva do capital financeiro internacionalizado, que viria a partir de 2008 com a grave crise que abalou o sistema capitalista mundial.
Durante os governos petistas houve uma melhora das condições de vida da parcela mais desfavorecida da população brasileira, embora a miséria não tenha sido totalmente eliminada da vida nacional. As práticas assistencialistas favoreceram essa melhora que, entretanto, na ausência de um enraizamento significativo, foram rapidamente extintas durante os períodos Temer e Bolsonaro. Para tal desfecho contribuiu o fato de os governos Lula e Dilma terem mantido e incentivado, inclusive junto aos beneficiados pelo assistencialismo, as tradicionais práticas de troca de favores inerentes ao caudilhismo latino-americano, confirmando o conhecido receio das cúpulas dirigentes de um possível protagonismo das massas populares e de lideranças delas provenientes.
Se antes, nos sucessivos governos do PT, foram feitas significativas concessões às imposições do grande capital internacionalizado, na situação atual de grave crise sistêmica do capitalismo, Lula, uma vez eleito, será levado a ceder cada vez mais perante tais imposições, dada a reconhecida ausência, no presente momento político, de uma significativa pressão das massas populares e de suas entidades representativas.
Nos marcos do capitalismo, teremos o crescente agravamento das condições de vida dos trabalhadores e de setores expressivos da população brasileira. Nessas condições, poderão ocorrer explosões espontâneas de insatisfação popular que, na ausência de organização e direção política correta, irão contribuir para o aumento da repressão policial e para um crescente retrocesso político.
A única possibilidade de uma verdadeira emancipação social e de uma democracia inclusiva para a grande maioria do nosso povo está na luta pela transformação socialista da sociedade, ou seja, na via revolucionária que abra caminho para o socialismo. Se isso já era necessário antes, hoje se tornou indispensável, dada a crise do sistema capitalista, extremamente grave, e o crescimento brutal de todas suas contradições.
Para avançar por esse caminho, é necessário que as autênticas forças de esquerda, ou seja, as lideranças populares que não tenham abdicado da luta pela transformação socialista da sociedade, que não tenham aderido à perspectiva reformista de dar apenas uma melhorada no capitalismo, se convençam da urgência de voltar todos seus esforços para organizar, mobilizar e conscientizar os setores populares, em especial os trabalhadores, brutalmente explorados pelo capital.
Só a organização popular, acompanhada de um trabalho cotidiano de mobilização e conscientização, será capaz de garantir a consolidação e o avanço de um processo que contemple os genuínos interesses populares. Na hipótese da volta de um governo dito “progressista”, como espera-se que seja o de Lula, caso ele consiga se eleger, esta será uma tarefa necessária e, inclusive, indispensável, pois como é sabido o candidato do PT tem apelado em escala crescente a alianças espúrias com setores do grande capital nacional e internacional, o que poderá levar seu governo à subordinação inapelável aos interesses de tais setores. Sabemos que um governo “progressista” desse tipo estará sujeito a ser deposto, caso dê início a medidas que contemplem os interesses dos trabalhadores, na ausência de uma significativa sustentação das grandes massas populares. Para assegurar o apoio e a sustentação de amplos setores populares, estes precisam estar organizados, mobilizados e conscientes do seu papel transformador.
Anita Leocadia Prestes (21/06/2022)