EQUADOR URGENTE: POLÍCIA REPRIME DURAMENTE MOBILIZAÇÃO EM
TORNO DA ASSEMBLEIA NACIONAL EM QUITO
Manifestantes dos movimentos indígenas do Equador foram duramente reprimidos nesta quinta-feira pela Polícia nos arredores da Assembleia Nacional em Quito, no décimo primeiro dia de protestos contra o governo neoliberal de Guillermo Lasso. Há onze dias, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) realiza uma Greve Nacional com uma lista de reivindicações das comunidades. De acordo com a organização, várias pessoas foram afetadas pelo gás lacrimogêneo durante a "marcha pacífica" liderada por "mulheres e estudantes", que acontecia na capital do país. Milhares de lutadores tentaram entrar no prédio da Assembleia, cujo entorno era fortemente militarizado. A Polícia Nacional dispersou a mobilização com gás lacrimogêneo.
Gary Espinoza, dirigente da Federação Nacional das
Organizações Camponesas, Indígenas e Negras (Fenocin), afirmou que pretendia
entrar no prédio para pedir ao
presidente da Assembleia Nacional, Virgílio Saquicela, a aplicação do número 2
do artigo 130 da Constituição , para os legisladores "avaliarem
Lasso" e buscarem "uma solução política" para o conflito.
As manifestações foram convocadas inicialmente pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), a mais importante organização indígena do país dirigida pela esquerda indentitarista, após tentativas que não se concretizaram de diálogos entre ambos. Os protestos acontecem desde a segunda-feira (13/06), reivindicando o congelamento dos preços dos combustíveis, o controle estatal para evitar a escalada de preços, a anulação das privatizações e aplicação de moratórias sobre as dívidas dos camponeses e sobre as atividades de mineração.
Bloqueios de estradas e ocupação de instalações
petrolíferas, que paralisam a produção, foram constantes nos primeiros cinco
dias de protestos. Os manifestantes e forças de segurança entraram em confronto
em diversos momentos, deixando vários feridos e dezenas de detidos. O rentista
Lasso, pressionado pelas manifestações, anunciou medidas econômicas para tentar
conter a crise que foram consideradas insuficientes pelos manifestantes. Entre
elas está o aumento do auxílio pago a famílias de baixa renda, que passa de 50
para 55 dólares, o perdão de dívidas de até 3 mil dólares com o banco de
desenvolvimento e um subsídio destinado a pequenos e médios agricultores para o
fertilizante ureia.
Pouco antes do anúncio do estado de emergência , o líder indígena Leonidas Iza, presidente da Conaie, alertou que os protestos passariam a “outro nível”, caso o governo não dê respostas as exigências para superar a crise econômica. O dirigente reformista responsabilizou também o atual presidente pelas imposições do Fundo Monetário Internacional (FMI), como a flexibilização do trabalho e a eliminação dos subsídios.
Em 2019, uma onda de protestos no Equador devido ao preço dos combustíveis resultou em uma dezena de mortes e cerca de 1,5 mil feridos, um terço deles das forças de segurança. O estado de emergência terá duração de 30 dias e permite a mobilização das Forças Armadas para apoiar a Polícia Nacional na garantia da ordem interna, além de suspender o direito dos cidadãos de se reunirem e impor um toque de recolher noturno das 22h às 5h. O decreto determina também a restrição do “direito à liberdade”, permitindo que o governo exija de provedores que operam redes públicas de telecomunicações que suspendam ou diminuam a qualidade dos serviços.
O combativo movimento de massas do Equador está diante de um novo desafio frente a eclosão desta rebelião popular, romper politicamente com as velhas direções reformistas e identitárias, para que as multitudinárias manifestações não sejam derrotadas como nas vezes anteriores. É necessário para esta tarefa a construção de um verdadeiro partido revolucionário, que unifique em um só programa a luta da classe operária, camponeses e dos povos originários do Equador.