domingo, 31 de outubro de 2021

DEPOIS DA “CHUVA DE DINHEIRO” DO FED NA PANDEMIA: EUA DESACELERARA PIB PARA MENOS DE 0,5% NO TERCEIRO TRIMESTRE 

Em um resultado que analistas classificaram de “ruim, mas não tão ruim quanto poderia ter sido”, a economia dos EUA desacelerou de 6,7% ‘anualizados’ para 2,0%, do segundo para o terceiro trimestre, como anunciado pelo Bureau de Análise Econômica (BEA, na sigla em inglês) do Departamento do Comércio. Um resultado raquítico, que indica que, depois de cair em flecha (-31,2%) sob a pandemia, e subir em flecha (+ 33,8%) com a recuperação, a economia dos EUA marcha de volta para aquele patamar irrisório de 2% ao ano com que tem se arrastado há mais de uma década, fruto da financeirização, monopolização e perda de produtividade de sua indústria nacional.

A propósito, os ‘6,7%’ do segundo trimestre parecem coisa melhor, só porque a base de comparação é o fundo do poço, no auge da pandemia nos EUA no 2º trimestre de 2020. A que se somou a prestidigitação que é a “anualização” à americana: a variação do PIB real de um trimestre multiplicada por quatro, como se fosse repetida em quatro trimestres (1 ano). Assim, quando a comparação é a que a maioria dos países fazem, inclusive o Brasil, os 2% indicam um índice real de cerca 0,5% em relação ao trimestre anterior.

Segundo o insuspeito BEA, a desaceleração do PIB no terceiro trimestre foi puxada pela freada nos gastos do consumidor, que desabou de 12,0% para 1,6% (tudo ‘anualizado’, como explicado).A explicação é que confluíram fatores como escassez/gargalos de transporte (problemas nas cadeias de suprimentos e, portanto, prateleiras e vitrines vazias) e preços em alta, aliados ao recrudescimento da pandemia essencialmente entre os vacinados.O que levou em algumas regiões a atrasos na reabertura de estabelecimentos e reintrodução de restrições e ainda atingiu os gastos com bens e serviços.

Em consequência a renda pessoal real disponível diminuiu 5,6% anualizada, com o taxa de poupança caindo para 8,9%, de 10,5%.Assim, a taxa de poupança voltou ao seu nível pré-pandemia, deixando muito menos espaço para as famílias proletárias aumentarem seus gastos. Só em setembro, a renda pessoal real diminuiu 1,6%, o segundo mês de queda. A contribuição dos investimentos fixos para esse resultado, no trimestre julho-setembro, foi um quarto da que houve no anterior. Nos bens duráveis, a contribuição do consumo de veículos/peças para o crescimento geral do PIB foi a segunda pior desde 1980. Com os microchips em falta nas fábricas, os estoques nas concessionárias de automóveis entraram em colapso e as vendas de veículos novos despencaram. A produção de veículos motorizados caiu 8,3% no trimestre, a primeira queda trimestral desde os últimos três meses de 2020. A falta de chips ameaça durar não apenas no próximo ano, mas ir até 2023, segundo a Ford. Pelo lado do comércio exterior, o déficit comercial piorou drasticamente, com o saldo (exportações menos importações) indo a US$ 67 bilhões no período (5,4%). Exportações aumentam o PIB e importações o diminuem.

Há a questão dos salários, em um momento em que se estima em mais de cinco milhões os trabalhadores que não voltaram à força de trabalho pós-pandemia, o que vem forçando empresas a concederem pequenos reajustes e mais benefícios.Os salários aumentaram 1,5% no terceiro trimestre, informou o Departamento do Trabalho, contra alta de 0,9% no trimestre anterior. Esse aumento está à frente da alta de 1,2% da inflação no período. Já o valor dos benefícios aumentou 0,9% no trimestre julho-setembro, mais que o dobro dos três meses anteriores. É essa situação que explica que o mês de outubro tenha passado a ser chamado por importantes setores dos trabalhadores norte-americanos de ‘Striketober’, o Outubro das Greves, com mais de cem mil trabalhadores, de variados setores, tendo ido à greve, ou ameaçado fazer, para obter acordos mais favoráveis. Em empresas de porte, como a John Deere (tratores e máquinas agrícolas), que não sabiam o que era uma greve há mais de duas décadas, os trabalhadores cruzaram os braços.

Houve muito mais estímulo estatal durante a recessão pandêmica, incluindo o pacote de apoio financeiro de US $ 2 trilhões do então presidente Donald Trump em março de 2020 e os US $ 1,9 trilhão em ajuda de Joe Biden de março. Mas agora a “chuva de dinheiro” jogada pelo “helicóptero” do FED para o resgate das grandes corporações parece estar com os dias contados, diante da recessão crônica e estrutural da economia imperialista. É o prenúncio claro que a Casa Branca tem que defender os interesses econômicos das corporações ianques  pelo mundo, para recompor a taxa de lucro perdida nos EUA, através de novas guerras e pandemias, hoje os dois principais motores da economia capitalista, em etapa de sua crise terminal.