quarta-feira, 20 de outubro de 2021

CRISE NO GOVERNO DA CENTRO-ESQUERDA BURGUESA: PARTIDO PERÚ LIBRE AMEAÇA ROMPER COM PRESIDENTE CASTILLO, ACUSANDO-O DE GIRO À DIREITA E SUBMISSÃO AS ORDENS DO IMPERIALISMO

A primeira semana de outubro foi marcada no Peru pela renúncia forçada de Guido Bellido, que atuou como primeiro-ministro do gabinete do presidente Pedro Castillo. A decisão veio dois meses depois de ser nomeado para o cargo e um mês depois de ganhar um evasivo “voto de confiança” do Parlamento. Não se trata apenas de mais uma renúncia do gabinete, que desde seu início foi marcada por pressões dos grandes grupos econômicos locais e transacionais e a consequente instabilidade, mas sim um giro cada vez mais a direita que está determinando os rumos do governo da centro-esquerda burguesa como vem acompanhando o Blog da LBI enquanto a esquerda que saudou a vitória de Castillo segue absolutamente calada. O novo problema está localizado, desta vez, na bancada do Peru Libre, partido de Castillo, que tem o maior número de deputados, mas agora pode tirar o apoio ao novo gabinete, porque seus quadros principais foram retirados do anterior e já alguns porta-vozes negaram a possibilidade de lhe conceder um voto de confiança. A nota, divulgada pelo líder do partido Vladimir Cerrón, diz que “há uma virada política inegável do governo e de seu gabinete para a centro-direita”.

Para ver a magnitude do problema da renúncia de Bellido, é preciso levar em conta que a recém-nomeada Primeira-Ministra, Mirtha Vásquez, deve iniciar o mesmo caminho percorrido por seu antecessor há apenas um mês e, portanto, requer a necessária aprovação de um voto de confiança no Congresso. Desta forma, Vásquez terá que se concentrar nestes dias na busca de uma maioria parlamentar, então ele terá que negociar com partidos de centro como o Partido Púrpura, Juntos pelo Peru ou Ação Popular.

Para manter a governabilidade burguesa, Vásquez precisará abrir um diálogo com setores de centro-direita, ou seja, um arco político ligado diretamente ao imperialismo. Ela já foi presidente do Congresso em 2020, então pode deve se vincular à política tradicional da burguesia. 

Agora a bola está do lado de Vladimir Cerrón, presidente e dirigente do partido Peru Libre, pois se mantiver sua atitude hostil ao novo gabinete, o obrigará a recorrer a setores de centro-direita para obter os dois-terços necessário voto de confiança como uma governabilidade burguesa mínima. Mesmo que Castillo ganhe governança com essa virada, também pode perder muito: semeou dúvidas entre os setores com maior capacidade de mobilização para defender seu governo. Cerrón já comunicou que não apoiará o novo gabinete e abriu uma brecha com Castillo, acusando-o de se voltar para a centro-direita: “Há uma virada inegável do governo e de seu gabinete para a centro-direita”. No entanto, alguns membros desse partido decidiram participar do gabinete. É uma situação complexa que não acompanha apenas o Governo de Castillo.

Tudo aponta que Castillo se comportará como um novo Ollanta Humala, presidente que começou com uma abordagem mais à esquerda e acabou sob um governo direitista comprometido com o sistema capitalista . Castillo vem cedendo a passos largos, o discurso em torno da relação com as empresas transnacionais que exploram recursos em território peruano vem mudando.

A nova onda supostamente “progressista” na América Latina – com o triunfo de Alberto Fernández na Argentina, Andrés Manuel López Obrador no México e Luis Arce na Bolívia – chega muito mais fraca do que a experimentada no início do século. São governos que exigem muito mais acordos políticos com a governança global do capital financeiro, o próximo ser refém desse nova ordem mundial deve ser Lula no Brasil.