terça-feira, 19 de outubro de 2021

02 ANOS DA REBELIÃO POPULAR NO CHILE: GOVERNO PIÑERA REPRIME MANIFESTAÇÃO DEIXANDO 02 MORTOS ENQUANTO ESQUERDA BURGUESA SÓ TEM OLHOS PARA ELEIÇÕES E O PACTO SOCIAL EM TORNO DA NOVA CONSTITUIÇÃO

A comemoração por organizações e movimentos sociais chilenos do segundo aniversário da revolta social que começou em 18 de outubro de 2019, terminou em episódios de violência, que resultaram em duas mortes e cerca de 450 detidos, que o partido governante usou para responsabilizar os candidatos da esquerda burguesa à Presidência. Por outro lado, o líder da Frente Ampla agora usa o capital político obtido criticando a política de alianças do PC, tentando estender a coalizão "Eu Aprovo com Dignidade" aos partidos da antiga “Concertación” de Bachelet. Com a vitória obtida Boric já “experimenta” antecipadamente a faixa presidencial, e se olha no espelho, imaginando que seu futuro governo terá o apoio não só da burguesia chilena, mas do próprio imperialismo ianque, por ser o melhor representante em seu país da Nova Ordem Mundial do capital financeiro.

Duas pessoas perderam a vida em bairros da periferia de Santiago, a capital, uma em decorrência do disparo de arma de fogo na tentativa de saque de um estabelecimento comercial e outra enquanto andava de motocicleta e se enredou em um cabo de aço.

A concentração mais massiva na segunda-feira ocorreu na central Plaza Italia, rebatizada de Plaza Dignidad, em Santiago do Chile, com cerca de 10.000 pessoas, segundo dados fornecidos pelas autoridades policiais, a maioria das quais manifestou-se pacificamente, com canções e música.

O governo de Sebastián Piñera, em meio a escândalos de corrupção, responsabilizou diretamente vários líderes políticos de esquerda, incluindo os candidatos presidenciais Yasna Provosote e Gabriel Boric, pelos episódios de violência e atos de vandalismo.

A eclosão social começou no Chile no final de 2019 como uma reclamação sobre o aumento do preço do metrô, mas ao longo dos meses se tornou a crise social mais grave desde o fim da tirania de Augusto Pinochet (1973-1990) com marchas massivas por um modelo econômico mais justo e mais direitos sociais.

Organizações sociais denunciaram que as mais de trinta mortes nos protestos de 2019 e os milhares de feridos e mutilados na época não receberam a reparação ou justiça que merecem pela ação do Estado chileno por meio de seus órgãos repressivos.

Como resultado dos protestos, foi acionado um processo constituinte, cuja Convenção Constitucional teve início nesta segunda-feira, com a redação da nova Carta Magna do Chile.

As eleições primárias para a próxima disputa presidencial no Chile, que ocorrerão no final deste ano de 2021, deram a vitória aos candidatos menos esperados. No campo da esquerda reformista, Gabriel Boric da Frente Ampla triunfou na disputa interna contra o antigo Partido Comunista. Na eleição interna do reformismo (coalizão “Aprovo com dignidade”), o derrotado foi Daniel Jadue do velho stalinismo. Jadue recentemente triunfou nas eleições municipais da Recoleta (distrito eleitoral) e todas as pesquisas já o apontavam como candidato da "esquerda" pelo PC em aliança com a FA. Não só isso, as pesquisas o apontaram como vencedor nas eleições presidenciais finais de novembro. Enquanto Jadue do PC teve 692.862 votos, Gabriel Boric da FA triunfou com 1.058.027.

É evidente que esta eleição interna conduziu o PC a uma acachapante derrota devido à sua longa história de colaboração com o regime burguês. Os stalinistas controlam a CUT (Central Unica de Trabajadores) há décadas e o fazem como mais uma burocracia sindical traidora, sua política é a de colaborar com a burguesia chilena dita “progressista” para manter em pé o Estado capitalista. Nas grandes lutas e greves dos trabalhadores (como as históricas mobilizações contra a previdência privada) o PC tinha uma política aberta de desmobilização das massas.

O PC até integrou organicamente o segundo governo neoliberal Social-Democrata de Bachelet, entre 2014 e 2018, como parte da “Nueva Mayoría”. O PC chileno, como a antiga “Concertación”, é a expressão mais plena do que Margaret Thatcher expressou na época da hegemonia neoliberal sobre a “esquerda” Social-Democrata: “O verdadeiro triunfo é que nossos adversários adotaram minhas idéias”.

No entanto, Gabriel Boric e sua Frente Ampla estão muito longe de serem melhores do que a política de colaboração de classes do PC.Eles começaram a capitular muito antes de terem sua influência eleitoral “inflada” neste momento. A trajetória política de Boric é bastante parecida com a de Pablo Iglesias na Espanha, ou a de Guilherme Boulos no Brasil. Estas lideranças emergiram como uma crítica mais "radicalizada" da velha "esquerda" burguesa clássica, enquanto atacavam o programa político da esquerda Marxista Revolucionária.

A trajetória política de Boric é consistente em um único ponto, o de sempre fazer o jogo do grande capital para ganhar influência na mídia corporativa. Quando o aos presos políticos da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (guerrilha que enfrentou o pinochetismo nos últimos anos), passaram a reclamar publicamente sua liberdade, Gabriel declarou cinicamente que, caso vencesse a eleição, os presos políticos não teriam direito a nenhum tipo de perdão.