EM MEIO A GREVE DOS TRABALHADORES DE HOLLYWOOD: UMA MORTE
REAL E NADA ACIDENTAL ...
O renomado ator norte-americano Alec Baldwin disparou uma arma carregada com munição real contra Halyna Hutchins, a diretora de fotografia de seu filme “Rust” que ele produz e protagoniza, enquanto filmava uma cena da película. A jovem diretora de fotografia não resistiu ao ferimento, que também atingiu o diretor do filme, e veio a óbito quando se dirigia ao hospital mais próximo. Algumas versões indicam que a arma empunhada por Baldwin não havia sido devidamente checada e que teria sido usada com munição real durante os intervalos para a prática “tiro ao alvo” por membros da equipe de filmagem. Munição real foi encontrada no set de filmagem, algo proibido pelas normas de segurança. Outras versões referem-se à periculosidade da munição auxiliar. Tudo isso está sob investigação, mas não há dúvida de que o acidente fatal foi fruto de profunda negligência na área de produção da suposta “super produção” hollywoodiana.
O fato é que a antiga equipe profissional da produção
cinematográfica havia sido substituída por jovens trabalhadores não
sindicalizados, convocados após a saída dos experientes profissionais que
protestaram contra os ritmos extenuantes e, justamente a precariedade em termos
de segurança em que as filmagens ocorreram. Com US$ 7,5 milhões, “Rust” é um
filme de baixo orçamento para os altos padrões de Hoolywood. Assim como não é
correto caracterizar esse fato como um “acidente”, pois poderia ter sido
evitado sem negligência capitalista, não corresponde a vinculá-lo ao movimento
grevista dos trabalhadores do ramo audiovisual que atravessa os Estados Unidos.
Os trabalhadores de bastidores das séries, filmes, programas
de TV e streamings mais importantes do planeta não suportam mais as péssimas
condições de trabalho impostas por “impérios” como Disney, Netflix ou Columbia
Pictures. A direção do IATSE (Aliança Internacional
de Funcionários de Palco de Teatro), o maior sindicato neste setor, teve que
fazer eco da reivindicação generalizada dos trabalhadores e convocar uma
votação para que as bases decidissem por uma greve geral nacional, que resultou
em uma adesão histórica de 90 %, 60.000 membros votaram sim à paralisação. A direção do IATSE chegou a um acordo sobre
novos contratos coletivos com a poderosa AMPTP (Aliança de produtores de cinema
e televisão), levantando a greve no último minuto. Isso foi massivamente
repudiado pelas bases por dois motivos principais: porque estavam dispostos a
parar completamente a indústria e porque consideram que as novas condições de
trabalho são insuficientes. Por exemplo, a direção sindical apresentou a
negociação como uma grande vitória, mas os trabalhadores não vivem de ficção.
Os membros da base do IATSE agora devem votar se aceitam as
novas condições do acordo coletivo, mas as redes sociais já foram literalmente
ocupadas com milhares de trabalhadores convocando para votar “não”, iniciando
assim a greve. Após a morte de Hutchins, com certeza a revolta que os filiados
vêm demonstrando só vai aumentar. Como os acordos são diversos e alguns variam
de acordo com a região do país, ramo de trabalho e sindicato local, a direção
do IATSE está alongando as datas de votação, para tentar barrar a iniciativa
das bases. A greve, no entanto, parece
inevitável. O que aconteceu com Baldwin, levando a morte de uma trabalhadora da
indústria cinematográfica, é o exemplo perfeito de que, para os maiores
capitalistas do ramo de entretenimento do mundo, o lucro está acima da vida
humana.