LAURA RICHARDSON DO COMANDO MILITAR SUL DECLARA OS REAIS OBJETIVOS DOS EUA NA AMÉRICA LATINA: QUEREMOS CONTROLAR TODAS AS RIQUEZAS DA REGIÃO...
Nos últimos meses, a comandante do Comando Sul do Estados Unidos (Southcom), Laura Richardson, visitou diversos países latino-americanos, dentre eles Brasil, Colômbia e Argentina. No vídeo acima ela declarou quais os verdadeiros objetivos dos EUA na região... Nas visitas, a comandante ianque se reuniu com chefes de Estado e altos mandos das Forças Armadas reacionárias locais para discutir a “cooperação” militar entre o Estados Unidos (USA) e os países da América Latina.
As visitas, realizadas sob falso pretexto de “cooperação” militar para combate ao narcotráfico e ao desmatamento, se circunscreve em contexto de maior militarização da América Latina e aprofundamento da dominação ianque no subcontinente, com objetivo principal de combater a ameaça de Revolução que ronda tais países.
Na Colômbia, a visita de Antony Blinken foi sucedida de um aprofundamento da repressão aos camponeses do país sob a alegação de “guerra às drogas”. O presidente do país, Gustavo Petro, que durante toda sua campanha prometeu encerrar a política de “erradicação total às drogas”, agora a defende abertamente, mesmo que de forma oportunista.
Para seguir a política ianque de “segurança”, mas não se contradizer de forma escancarada, Petro, como fiel lacaio, pretende mascarar a política contrainsurgente de guerra aos camponeses pobres com o uso do Programa Nacional para Substituição de Cultivos Ilícitos (PNIS). O PNIS é, em teoria, dado como alternativa para os camponeses pobres que, sem acesso às terras férteis e sem o mínimo de infraestrutura para a produção de bens alimentícios, se vêem obrigados a plantar coca como forma de sustento.
Na Colômbia, o cultivo de coca pelos camponeses é um fenômeno comum, dado o controle do latifúndio sobre as terras mais férteis e geograficamente privilegiadas. Com o aumento da repressão contra os camponeses, a tendência é aumentar a rebelião dos camponeses, como já ocorreu no fim de 2021.
Em realidade, a política “antidrogas” ditada pelo imperialismo ianque é mais um meio do velho Estado exercer o controle sobre a massa de camponeses que vive em condições de miséria. O interesse do imperialismo ianque em acompanhar de perto a aplicação desta medida é, justamente, aumentar o controle militar sobre pontos estratégicos do continente latino-americano – e não o fim das drogas, como falsamente propagandeia. Conforme denuncia o jornalista e historiador Vijay Prashad em sua obra Balas de Washington: uma História da CIA, Golpes e Assassinatos são abundantes os casos em que a CIA foi a patrocinadora e maior beneficiada do tráfico internacional de drogas, utilizando-a para financiar guerras de rapina por todo o mundo e combater movimentos populares e comunistas em diversos países.
Enquanto o tópico central das orientações de Blinken para Petro foi em relação à “guerra às drogas”, a visita da comandante L. Richardson à Colômbia teve como pautas centrais a “cooperação militar” e a militarização do campo colombiano a fim de “combater o desmatamento”. Durante a visita de três dias, Petro foi um dos últimos listados na agenda da comandante ianque. Antes de se reunir com o presidente da centro-esquerda burguesa, L. Richardson se reuniu com Iván Velásquez, ministro da Defesa, Hélder Giraldo, comandante geral das Forças Armadas reacionárias do país, com líderes da força conjunta Ômega e com militares do Colégio de Guerra Rafael Reyes.
Nas reuniões Richardson tratou da “segurança regional” e a “parceria de segurança” do USA com a Colômbia – evidenciando, assim, o papel estratégico que a Colômbia cumpre para os planos ianques de “estabilização” (dominação) do subcontinente latino-americano.
Sobre o encontro com Giraldo, a comandante do Comando Sul do Pentágono ressaltou a discussão de conformar uma “cooperação militar-para-militar”. No compromisso com Petro, o tópico da segurança regional foi retomado. O presidente oportunista, novamente cumprindo o papel de serviçal do imperialismo ianque, propôs a criação de uma força militar binacional para atuar na Amazônia contra os “incêndios”. Para esse objetivo, Petro destacou a necessidade de estabelecer “mecanismos econômicos e sociais, por um lado, e mecanismos militares e operacionais, pelo outro” – uma dominação integral.
A criação de tal força na América Latina não seria exclusividade da Colômbia: a comandante Richardson destacou que uma força deste tipo “já possui um esboço no Brasil”. Prosseguindo com os planos de militarização e dominação do subcontinente, a comandante do Comando Sul do Pentágono visitou o Brasil imediatamente depois, onde discutiu a “cooperação” militar entre os dois países. Nos últimos meses, a mesma comandante reacionária visitou o Equador e a Argentina. Em todas as visitas, a chamada “cooperação militar” entre a superpotência imperialista hegemônica única e os velhos Estados lacaios foram a pauta principal.
No Equador, Richardson realizou reuniões em setembro com o presidente Guillermo Lasso, com o comandante das Forças Armadas, general Nelson Proaño e com o ministro da Defesa, general Luis Eduardo Lara. Para aprofundar o controle ianque sobre esses países, a comandante ianque ressaltou a necessidade de ampliar as defesas cibernéticas, espaciais e de informação, sob pretexto de resguardo contra as influências da Rússia, da China e das “Redes Transnacionais de Narcotráfico”.
Meses antes, em abril, a comandante ianque passou pela Argentina, onde conversou com o ministro da Defesa, Jorge Taiana. A visita foi seguida de mobilizações populares anti-imperialistas: pouco depois de um mês da ida de Richardson ao país, protestos foram realizados na província de Neuquén, região patagônica do país, contra a construção de uma base militar na localidade. Os manifestantes afirmam que a base servirá aos planos do imperialismo ianque. Isso porque, apesar do prédio supostamente estar sendo construído para abrigar a Defesa Civil e o Comitê de Emergência local (órgão do Departamento de Planejamento do velho Estado argentino que tem como foco a prevenção e atuação em desastres), sua construção é financiada pelo Comando Sul do Pentágono. A região de Neuquén é rica em reservas de água doce, gás e petróleo e já conta com uma base espacial do social-imperialismo chinês.
A construção de bases militares ianques ou financiadas pelo USA sob falsos pretextos é um meio comum de dominação e ocupação regional da América Latina. No Peru, o governo ianque investiu mais de 20 milhões de dólares (R$ 106 milhões) para a construção de Centros Regionais de Operações de Emergência (com objetivos semelhantes ao que está em construção na Argentina). Os projetos, já construídos em Arequipa, Lambayeque, Pucallpa, Junín, Tacna, Tumbes e San Martín, fazem parte do Programa de Assistência Humanitária do Comando Sul.
No Brasil, apesar da conhecida presença ianque no município de Alcântara, no Maranhão, a região amazônica destaca-se como centro do processo de militarização.
Em setembro de 2020, militares do USA e o ex-secretário de Estado ianque e ex-agente da CIA, Mike Pompeo, supervisionaram a execução de um exercício militar inédito das Forças Armadas reacionárias brasileiras na Amazônia. O exercício foi realizado nos estados de Amazonas e Rondônia, contou com efetivo de 3,6 mil militares brasileiros e simulou a invasão de um Exército de um “país vermelho” contra o Exército de um “país azul”.
Três anos antes, em 2017, um outro exercício multinacional ocorreu: foi o Exercício de Logística Multinacional Interagência, chamado de Amazon Log 2017. O exercício foi inspirado no Capable Logistician – 2015, realizado em 2015 pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), na Hungria. A sede da operação foi a cidade de Tabatinga, no Amazonas, que faz uma tríplice fronteira com o Peru e a Colômbia. Os Exércitos dos dois países vizinhos participaram da ação, bem como militares do USA, forças policiais, agências governamentais e empresas brasileiras e estrangeiras. O exercício durou em torno de oito dias e contou com a resolução de problemas táticos e interoperabilidade dos equipamentos dos Exércitos que participaram.
Segundo Ana Ceceña, economista, em entrevista à imprensa TruthOut: “[o Amazon Log 2017 permite] a locação de tropas que facilite incursões territoriais específicas e operações de resposta rápida, tanto com o uso de forças especiais, quanto com forças americanas, locais ou privadas, na tríplice fronteira”. O exercício foi responsável, ainda, pela construção de infraestruturas que permitem grandes movimentos de tropas na Amazônia, como terminais de docas, redes elétricas inteligentes e redes de comunicação.
O motivo da atenção especial do imperialismo à Amazônia não
é à toa: além dos múltiplos recursos naturais que a região tem em abundância
(aquíferos, minérios, petróleo e gás), o fator principal é que lá se concentra
o maior número de conflitos agrários, decorrente da existência de uma enorme
massa camponesa sem acesso à terra para viver e trabalhar, além da atuação de
movimentos camponeses combativos na luta pela terra e contra o latifúndio.
Um relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de 2020 afirma que a Amazônia é um grande foco da luta pela terra no Brasil. No Peru, Colômbia, Bolívia e Brasil, milhares de famílias lutam pelo direito à terra e ao trabalho dignos. Destaca-se que, destes quatro países, o Brasil concentra o maior número de casos: entre 2017 e 2018, o Brasil concentrou 995 conflitos agrários, dos quais participaram 131.309 famílias. Na Colômbia foram 227 conflitos envolvendo 7.040 famílias; na Bolívia, 17 conflitos e 1.931 famílias; já no Peru, 69 episódios de luta pela terra concentraram 27.279 famílias. Foi um total de 1.308 conflitos agrários envolvendo 167.559 famílias. Ao se aplicar a média de quatro pessoas por família camponesa, o resultado é de 670.236 pessoas envolvidas em conflitos agrários na Amazônia.
Em 2020, no Brasil, que ocupa papel central nos conflitos pela terra no subcontinente, em torno de 66% do total de assassinatos no campo ocorreram na Amazônia. Mesma localidade que concentrou 77% dos conflitos agrários no mesmo ano. Em Boca do Acre, no Amazonas, mais de 3,5 mil famílias estiveram envolvidas em disputa pela terra; em Altamira, Pará, o número foi de 7,1 mil famílias; em Porto Velho, Rondônia, foram 5 mil.
A principal causa dos conflitos está relacionada à imensa concentração de terras nas mãos do latifúndio ou empresas imperialistas da mineração ou indústria madeireira. No Brasil, a concentração de terras nas mãos do agronegócio é tido como a principal origem dos conflitos. Na Bolívia, destaca-se a extração de madeira e projetos de infraestrutura. Na Colômbia, a infraestrutura e a extração madeireira ocorrem como causa mais frequente. Já no Peru, a origem está na mineração, extração de petróleo e hidrocarbonetos.
O relatório da CPT evidencia aquilo que os Exércitos reacionários locais, o imperialismo e os monopólios de imprensa buscam esconder. Enquanto usam a preservação da floresta (o desmatamento na Amazônia aumentou desde a “Operação ‘Verde Brasil 2’”), a defesa contra potências imperialistas ou aliados destas (Rússia, China, Venezuela e Irã) e até o combate ao narcotráfico como pretextos para a militarização do subcontinente, o que ocorre às escondidas é uma preparação preventiva a grandes levantamentos de massas camponesas que podem ocorrer na região. Tudo isto é um incremento na já estabelecida guerra reacionária contra os camponeses pobres em luta pela terra, expressa nas sucessivas operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) expedidas contra ocupações de latifúndios.
As visitas de Richardson, o plano proposto por Petro e a criação das bases militares em vários países da América Latina fazem parte de um único grande plano ianque: a manutenção da dominação do continente pela superpotência imperialista hegemônica através da militarização. Nos últimos anos, o imperialismo ianque se empenha em concentrar sua atuação em uma área que reúne um conjunto de fatores econômicos, políticos e militares cujo controle lhes é chave: a Amazônia. Atuando para manter a concentração de terras nas mãos dos latifundiários, inclusive elevando essa concentração através da força militar indireta ou direta, e da penetração de capitais estrangeiros, o imperialismo e seus lacaios, no entanto, só fazem lançar os camponeses para a luta crescentemente combativa e consciente pela conquista da terra nesses países.
Tais bases, construídas sob as justificativas de ajuda humanitária ou combate ao tráfico de drogas, localizadas em diferentes pontos estratégicos da América Latina, correspondem a tal plano de dominação. Atua como força militar de contrainsurgência, aplicando a estratégia de guerra de baixa intensidade (GBI) unida à violência e terrorismo reacionários aplicados pelos governos da região, como Lula, contra a imensa massa de camponeses pobres sem terra. A tarefa colocada é expulsar o imperialismo ianque do Brasil e da América Latina!