O PIOR NAUFRÁGIO EM ÁGUAS EUROPEIAS EM 2023: MAIS DE 100 MIGRANTES ENCONTRADOS MORTOS NA COSTA DA GRÉGIA E OUTRAS CENTENAS “DESAPARECIDOS” VINDOS DA LÍBIA DEVASTADA PELA OTAN
O naufrágio de um barco de pesca no Mar Jônico deixa pelo
menos 100 mortos e centenas de desaparecidos. Segundo estimativas de diferentes
organizações, no barco viajavam entre 400 e 750 pessoas. Os passageiros teriam
saído da Líbia para a Itália, entretanto, mais uma vez, o Mar Mediterrâneo, a maior
vala comum de migrantes e refugiados do mundo, os engoliu. Um novo
naufrágio evitável na costa europeia. As
autoridades alertam que o número de mortos "provavelmente" aumentará
drasticamente. Pouco mais de 100 migrantes que estavam no barco foram
resgatados com vida pela Guarda Costeira grega. É o naufrágio mais mortal até
agora neste ano naquelas águas, conhecidas como o maior cemitério do mundo para
migrantes e refugiados da barbárie social imposta pela OTAN na Líbia desde 2011.
As estimativas do número de pessoas que viajam dentro variam. Uma instituição de caridade europeia que apoia o resgate estimou que o barco transportava cerca de 750 passageiros. Enquanto a agência de migração da ONU garantiu que poderia ser cerca de 400 pessoas. Até agora, não se sabe o número exato de desaparecidos.
Os sobreviventes, cerca de 106 até agora, foram levados de
helicóptero e ambulância para os hospitais mais próximos da cidade de Kalamata,
com sintomas de hipotermia.
“Transferimos quatro com sintomas leves de hipotermia do aeroporto. Quanto ao porto, até agora transferimos 13 pessoas e felizmente nenhuma em estado crítico", disse o presidente dos serviços nacionais de emergência, Nikolao Papaefstathiou.
“O navio avistado ontem entre a Grécia e Malta com 750 pessoas a bordo naufragou no Peloponeso. A operação SAR da Marinha Grega chegou tarde demais, apesar dos chamados SOS. Por enquanto apenas (existem) 80 sobreviventes. Centenas de mortos e desaparecidos”, denunciou Óscar Camps, diretor da organização de resgate Open Arms, no Twitter.
O barco deixou o leste da Líbia carregado de migrantes, a maioria homens na faixa dos 20 anos – com destino ao território italiano. A agência de fronteira da União Europeia, Frontex, o avistou pela última vez na noite de terça-feira em águas internacionais. Segundo os agentes de fronteira, na tarde de terça-feira, um barco da Guarda Costeira abordou o barco pesqueiro, mas os tripulantes recusaram o socorro, manifestando desconfiança e vontade de continuar.
Normalmente, os agentes de fronteira realizam manobras para que as embarcações dos migrantes mudem de rumo, atuando como uma fronteira marítima, pelo que, muitas vezes, os próprios migrantes temem os agentes.
Tarde da noite, a barcaça virou na península do Peloponeso e submergiu com os migrantes e refugiados dentro. Logo após o incidente, foi lançada uma operação de busca e salvamento envolvendo dez embarcações, uma fragata da marinha grega, um helicóptero e um drone da Frontex.
No entanto, organizações humanitárias como a Alarm Phone, encarregada de monitorar e dar apoio às embarcações migrantes no mar Mediterrâneo, denunciaram ter alertado as autoridades sobre o paradeiro da barcaça e suas condições precárias.
Desde a tarde de ontem e até pouco depois da meia-noite de
hoje, a Alarm Phone esteve em contacto com a embarcação em perigo que teria
virado. Por meio deste, fornecemos uma linha do tempo dos eventos.
“As autoridades gregas, aparentemente também as da Itália e de Malta, já haviam sido alertadas várias horas antes. Portanto, as autoridades gregas e outras europeias estavam bem cientes deste navio superlotado e incapaz de navegar. Não foi desencadeada uma operação de salvamento", lê-se num comunicado da organização, que esteve em contato com o navio até pouco depois da meia-noite de terça-feira.
Este naufrágio é mais um na longa lista de tragédias que se vivem diariamente no Mar Mediterrâneo. Máfias e redes de contrabando costumam usar barcos precários para enviar migrantes e refugiados à deriva. De acordo com a Organização Internacional para Migração, quase 72.000 refugiados e migrantes chegaram à linha de frente da Europa: Grécia, Malta, Itália ou Espanha. Mais de 3.800 morreram em sua jornada, 2.761 dessas mortes foram no mar.
Diante da normalização dessas situações, ativistas convocaram uma manifestação em Lesbos, um dos principais pontos de chegada de migrantes, sob o lema: “Não são acidentes, são assassinatos”.