MERCADO BILIONÁRIO DA ÁGUA: ESSENCIAL PARA A PRODUÇÃO DAS VACINAS DA COVID, BIG PHARMA PRIVATIZA FONTES E PATROCINA GUERRAS DE RAPINA PARA LUCRAR COM A PRECIOSA COMMODITY NATURAL
A água é agora uma commodity bilionária em negociação no mercado futuro de Wall Street, em Nova York. Similar ao que acontece com a busca do controle do petróleo e ouro pelos capitalistas pela via da privatização, das guerras e do controle nas bolsas de valores para render lucro, a água agora se junta no mesmo modelo a partir desta primeira semana de dezembro de 2020. A China e os Estados Unidos são os principais consumidores mundiais e segundo a ONU 2 bilhões de pessoas vivem em países com sérios problemas de acesso à água, enquanto nos próximos anos dois terços do planeta poderão sofrer com a escassez de água. O uso da água como diluente para a produção das vacinas da Covid-19 em meio a guerra comercial pelo controle desse negócio bilionário pelos grandes laboratórios (Pfizer, AstraZeneca, Johnson e Johnson, Novavax, Moderna e Sanofi) inflacionou ainda mais esse mercado que tem grande participação da Big Pharma.
A exploração excessiva destes recursos pelo setor primário, indústria e consumo humano, bem como as alterações climáticas, têm levado a que este recurso se torne cada vez mais escasso, sendo um dos eixos da rapina, como por exemplo da guerra contra o Iraque. A necessidade econômica de se apoderar da segunda maior reserva de petróleo do mundo e a primeira em água do Oriente Médio, abrindo a possibilidade de controlar o preço do barril de petróleo no mundo inteiro assim como de H20, levou Bush a desferir o ataque ao Iraque em 2003.
Em quase todo o planeta, as leis consideram a água como um
bem comum de domínio público. Mas é possível outorgar direitos de uso dessa
água através de concessões e licenças administrativas (seja para utilizar e
para despejar resíduos nela). O que começou a ser cotizado em Wall Street não é
a água em si mesma, e sim os direitos de uso, ou seja, o maior controle dos capitalistas
pelo acesso a água e o aumento de seu preço de venda no mercado mundial.
O Nasdaq Veles California Water Index, com o
"ticker" NQH2O, é baseado em um indicador de preços futuros de água
da Califórnia que hoje estava sendo negociado a cerca de $ 486,53 por acre-pé,
uma medida de volume comumente usada em Estados Unidos equivalente a 1.233 metros
cúbicos. O preço da água na Califórnia dobrou no último ano segundo este
indicador e com a maior escassez desse bem, aliado ao ar chave para a vida. Embora
o índice seja baseado nos preços das principais bacias hidrográficas da
Califórnia, onde aumentou a escassez de água, esse valor pode ser usado como
referência para o resto do mundo nos mercados de água.
Esses contratos futuros não exigem entrega física de água e
são puramente financeiros, com base no preço semanal médio das cinco principais
bacias hidrográficas da Califórnia até 2022. O novo índice não terá de recorrer
a uma estimativa "a olho" do preço futuro da água, mas sim a quais
são as expectativas dos principais players deste mercado.
Há tempos, o problema da escassez de água deixou de ser uma “preocupação
humanitária” e passou a ser um tema de grande interesse geopolítico. Os trinta
países da OCDE consomem juntos cerca de 27% da água disponível para consumo
humano no planeta. Dentre estes países, estão Estados Unidos, Canadá, França,
Noruega, Portugal e Espanha. Neles, a maior parte do montante de água consumido
vai para os processos industriais ou para as atividades da agricultura. Uma
pequena parte é utilizada em ambientes domésticos.
O século XX é um marco importante para o agravamento dos problemas de abastecimento de água. Praticamente dois terços da Terra estão cobertos de água. Contudo, cerca de 97% do total é salgada, imprópria para o consumo. Os outros 3% são de água doce. Desses, 12% das águas propícias para consumo estão localizados no Brasil.
O maior causador da escassez de água não é o seu esgotamento
nos sistemas naturais, mas o padrão de consumo deste recurso em vigor nas
sociedades capitalistas. Isto significa que a produção de mercadorias em larga
escala é o principal responsável pelo consumo excessivo de água.
A água, ao tornar-se artigo (quase) raro, tem despertado o
interesse econômico de grandes corporações. No caso da Guerra da Água na
Bolívia ocorrida em 2000, a principal acionista do Consorcio Aguas del Tunari
era a Bechtel, grande corporação norte-americana da área de construção civil.
Uma multinacional que possui mais de 30 escritórios espalhados pelo mundo,
cujos rendimentos anuais declarados alcançaram a casa dos 30 bilhões de dólares
em 2010. Tal corporação é especializada na construção, planejamento e
administração de obras de caráter estratégico e de alto nível de complexidade.
Na prática, os rendimentos da Bechtel são fruto de seus investimentos na
construção de grandes infraestruturas territoriais, combinadas com ações no
mercado financeiro.
O interesse desta corporação esteve representado direta ou
indiretamente por organismos como Banco Mundial e FMI, no caso boliviano.
Portanto, a “resolução” do problema de escassez de água em Cochabamba era um
caminho fértil para a multiplicação da sua já abundante riqueza. Através do
controle privado deste recurso natural, concedido pelo governo daquele país, a
Bechtel pretendia lucrar dezenas de milhões de dólares ao ano. Ou seja, a
reprodução de capital para a Bechtel e demais sócios minoritários se realizaria
através da exploração econômica de um recurso natural alheio.
A privatização da água penalizou milhares de homens e
mulheres, privando-os de um bem vital. Impossibilitando as comunidades camponesas
e indígenas de fazer uso deste bem segundo seus costumes. Em contrapartida, o
destino dos lucros obtidos com a mercantilização da água em Cochabamba era
incrementar os rendimentos bilionários de uma das mais poderosas corporações do
mundo. A Guerra da Água na Bolívia se insere num período onde as contradições
do capitalismo cada vez mais se agudizam, quanto maior sua capacidade de
incorporar novos e antigos territórios à lógica hegemônica do neoliberalismo,
maior será seu potencial devastador. A Guerra da Água ajudou a evidenciar os
novos mecanismos de acumulação capitalista e sua capacidade destrutiva.
Os recursos naturais, especialmente a água, mais do que fonte para a reprodução da vida, hoje têm assumido uma importância ímpar como objeto de grandes interesses econômicos, inclusive da Big Pharma e de disputa de poder político, recorrendo-se a guerra como no Iraque.
À medida que a água se tornou uma
mercadoria, sua utilização objetivava em primeiro lugar saciar a sede por
riqueza das grandes corporações, ao invés de servir à reprodução e manutenção
da vida em sociedade, ainda mais sendo dividida em classes sociais com
interesses antagônicos e irreconciliáveis.
A solução ao problema de escassez não passa como apregoam os
reformistas pela elaboração de mecanismos legais que possibilitem o acesso à
água, mas depende da luta revolucionária do proletariado e do campesinato pobre
para defender o acesso a água como um direito universal, expropriando os capitalistas.