sábado, 5 de dezembro de 2020

ELEIÇÕES PARLAMENTARES NA VENEZUELA: NENHUMA ILUSÃO NO PSUV E NO “GRANDE PÓLO PATRIÓTICO” DE COLABORAÇÃO DE CLASSES! VOTO CRÍTICO NO PCV! 


A convocação das eleições parlamentares deste domingo, 6 de dezembro, é o resultado de um pacto político entre as forças chavistas comandadas pelo PSUV e um pequeno grupo de partidos burgueses oposicionistas, agrupados na plataforma chamada Mesa de Diálogo Nacional. Em setembro, mais de 100 líderes da oposição golpista na Venezuela tiveram indulto concedido pelo presidente Nicolás Maduro. Entre eles deputados e colaboradores do facínora Juan Guaidó. Segundo ele, a medida foi necessária para “aumentar a participação da oposição nas próximas eleições legislativas” de dezembro. Trata-se de uma política suicida do chavismo, que tenta a todo custo um acordo com o imperialismo e a direita. Essa capitulação vergonhosa ocorreu no marco de negociações com Henrique Capriles (que depois fugiu para a Espanha) para que parte da oposição burguesa participasse das eleições. Não resta dúvida que foi mais uma medida de Maduro que desmoraliza a luta dos trabalhadores venezuelanos contra os golpistas e a burguesia pró-imperialista.

 

O Governo Maduro deu “boas vindas” a setores da oposição de direta que romperam com o MUD, concedendo-lhes certas cotas de poder a alguns políticos desses partidos, especialmente na composição da nova direção do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Dois dos cinco juízes do CNE, Leonardo Morales e Luis Fuenmayor, representam essa corrente. De todos os partidos da “mesita” como é conhecida na Venezuela a aliança burguesa, o Avanço Progressista é a organização política de maior envergadura. Seu líder é Henri Falcón, ex-governador do Estado de Lara e militante chavista até 2009. O chavismo, enquanto isso, busca dar uma imagem de normalidade a uma campanha marcada por uma forte desmobilização de suas bases e se prepara para recuperar o controle da Assembleia Nacional, presidida pelo golpista Juan Guaidó e dominada pela oposição direitista a Nicolás Maduro. Como era de se esperar, não há reconhecimento da OEA (Organização dos Estados Americanos), o “ministérios das colônias dos EUA” e da União Europeia, enquanto a Casa Branca financiou vários atendados contra o governo Maduro e sequer o reconhece como presidente. 

O Partido Comunista da Venezuela (PCV), e o Pátria Para Todos (PPT) romperam a aliança eleitoral com o bloco do governo de Nicolás Maduro, e conjuntamente com movimentos sociais e outros setores de esquerda, lançaram um movimento eleitoral próprio chamado Alternativa Popular Revolucionária – APR, para participar das eleições parlamentares marcadas para o próximo 6 de dezembro. Delimitando-se politicamente do Polo Patriótico, frente composta por partidos políticos burgueses chavistas, liderada pelo governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), a APR (PCV) se define como: “Uma aliança anti-imperialista e verdadeiramente socialista, dirigida a proporcionar uma nova referência de esquerda para os venezuelanos”. Por isso defendemos o voto crítico no PCV, sem prestar apoio político a seu limitado programa, mas para estimular os setores classistas que se deslocam da política de colaboração de classes do PSUV e de Maduro a avançarem rumo a uma plataforma revolucionária, o que somente pode ocorrer com a construção de um partido trotskista na Venezuela. 

O secretário-geral do PPT, Rafael Uzcátegui, afirmou que: “Não farão aliança eleitoral com o PSUV porque têm diferenças com suas políticas econômicas, seu tratamento ao problema do salário, os benefícios sociais, a luta pela terra e na questão, decisiva para um país independente, de como construir uma economia socialista”. O PPT, que sequer pode ser caracterizado como uma organização Marxista Revolucionária, aponta o centro da questão na Venezuela, a ruptura por parte do imperialismo ianque para estrangular a economia, deveria ser seguida nacionalmente com a expropriação de todo o capital privado no país, implementando o planejamento socialista de reconstrução do país sob novas bases, decididas pela classe operária. “Existe a pressão de Donald Trump sobre um país com bilhões de barris de petróleo em reservas, aos quais não se lhe permite comercializar, com expropriação de ativos, dinheiro em bancos, ouro, problema que é tratado de uma forma equivocada, cedendo frente ao neoliberalismo”, afirmou Uzcátegui. 

Não por acaso, o PCV denuncia a campanha orquestrada pelo Grande Pólo Patriótico e o governo Maduro contra a APR, ao mesmo tempo que se aproxima da direita: “Uma campanha anti-PCV se desenvolve discursivamente em nome da unidade anti-imperialista, a realidade concreta é que o PSUV consolida uma estreita aliança com este grupo de partidos de direita no quadro da mesa de diálogo nacional com o que aspiram a criar um clima de governança favorável ao avanço de políticas inconsistentes. Não é o PCV que dá as costas à unidade anti-imperialista, que é feita pelas correntes hegemônicas que de dentro do PSUV e do Governo priorizam as alianças e acordos com a direita e o capital como estratégia para enfrentar a crise e as sanções imperialistas. Essa conduta de ataque ao PCV e a proposta da Alternativa Popular Revolucionária transcenderam o discursivo para se concretizar em ações”. 

Muito atrás desta avaliação crítica acerca do Chavismo, existem os grupos da esquerda revisionista, como a LIT e o PTS argentino, que insistem em atacar o governo Maduro pela direita, fazendo coro reacionário com organismos colaterais do imperialismo, como a OMS. Frente a uma grave crise econômica e social, que afeta a vida de milhões de proletários e camponeses, como o desemprego e o desabastecimento, elegeram o “bordão” da Big Pharma para fazer a típica oposição Social Democrata, afirmam que é absurda a recomendação da utilização de medicamentos de larga comprovação científica contra o coronavírus: “No portal do governo Albaciudad, o ministro do Poder Popular para a Saúde, Dr. Carlos Alvarado, recomenda os remédios que devem ser aplicados contra o Covid-19: Pacientes assintomáticos, sem doenças adicionais de risco, se aplica a ivermectina e a cloroquina, vejam que irresponsabilidade!”. 

Os papagaios de esquerda da OMS, que fazem campanha furiosa contra a cloroquina, omitem o fato deste medicamento utilizado na Venezuela e Cuba, estar salvando milhares de vidas e garantindo que o país tenha uma das menores taxas de óbitos da região, menos de 300 mortes contra 15000 da vizinha Colômbia, cujo governo neofascista de Ivan Duque seguiu a determinação do organismo sanitário do imperialismo e proibiu o uso da cloroquina em seu território. 

O justo combate que os Marxistas Leninistas travam na Venezuela, é por uma ação independente das massas em relação à política de colaboração de classes do chavismo, convocando para a luta direta contra a chamada “boliburguesia”, um entrave capitalista para a extensão das conquistas operárias. Somente a construção de um verdadeiro poder revolucionário, será capaz de conduzir à vitória da Venezuela, cercada criminalmente pelo imperialismo ianque e os correlatos europeus. Não se ganhará a confiança da classe operária venezuelana, com a demagogia da esquerda revisionista, que replica os “apelos democráticos” da mídia imperialista, acusando o governo Maduro de “Ditadura sanguinária”. 

Está absolutamente cristalino que já existem sinais de corrosão na cúpula do regime chavista, que até o momento segue a linha de conciliação de classes se opondo a uma expropriação total dos bandos capitalista que conspiram abertamente contra o governo Maduro. Neste quadro de profunda polarização social, confiar todas as forças do regime nacionalista exclusivamente na cúpula militar é um grave erro histórico, e que poderá custar a “cabeça” de Maduro e a derrota de todo o campo popular. A única alternativa política segura para aplastar a reação interna e os abutres como Trump, Bolsonaro e Duque, é o armamento pleno das brigadas populares e a expropriação completa do capital, rumo a um governo genuinamente operário e camponês! 

É preciso explicar pacientemente as massas que as limitações nacionalistas do chavismo são produto de sua própria natureza burguesa de classe, e que a consequente luta antiimperialista deve ser permanente, desembocando no Estado Operário, como primeira fase da transição socialista.