sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

NA PANDEMIA DO RENTISMO: FMI AVANÇA EM PRIVATIZAÇÕES CONTRA 81 PAÍSES

A enorme “desorganização” econômica causada pela pandemia oferece uma oportunidade única para o rentismo para alterar em seu favor absoluto a estrutura de seus negócios com os Estados e o Fundo Monetário Internacional (FMI) está usando a crise para implementar medidas de austeridade quase permanentes em todo o mundo. Exatamente em 76 dos 91 empréstimos que negociou com 81 nações desde o início da pandemia mundial, em março, vêm acompanhados de exigências de que os países adotem medidas como cortes profundos nos serviços públicos e nas aposentadorias medidas que envolverão privatizações, congelamentos ou cortes de salários, ou o demissão de funcionários do setor público.

Principal apoiador das medidas de austeridade neoliberal em todo o mundo durante décadas, o FMI, recentemente (e discretamente), começou a admitir que essas políticas não funcionaram e geralmente causaram problemas como a pobreza, o desenvolvimento desigual e outras desigualdades ainda maiores, também não conseguiram trazer o crescimento econômico prometido para contrariar esses efeitos negativos. Em 2016, o FMI descreveu as suas próprias políticas como "exageradas" e, anteriormente, resumiu as suas experiências na América Latina como "tudo dor, nenhum ganho". Assim, os seus próprios relatórios declaram explicitamente que as suas políticas não funcionaram, pelo menos para a população. "O FMI alertou para o perigo de um grande aumento das desigualdades, no início da pandemia. No entanto, está orientando os países no sentido de pagarem os gastos da pandemia fazendo cortes de austeridade que irão alimentar a pobreza e a desigualdade", afirmou Chema Vera, Diretor Executivo Interino da Oxfam International.

A Oxfam identificou pelo menos 14 países que julga que congelarão ou cortarão os salários e empregos do setor público. A Tunísia, por exemplo, tem apenas 13 médicos para cada 10.000 pessoas. Qualquer corte no seu já escasso sistema de saúde levará a um colapso sanitário.O Equador é um exemplo perfeito das consequências das ações criminosas do FMI. Governado anteriormente por Rafael Correa(centro-esquerda burguesa nacionalista) é hoje presidido por Lenin Moreno. Moreno começou imediatamente a desfazer a “imagem progressista” de Correa, chegando mesmo a processá-lo. Em 2019, por ordem do FMI, Moreno cortou o orçamento de saúde do país em 36 por cento, em troca de um empréstimo de US$4,2 mil milhões do FMI, uma medida que provocou protestos em massa em todo o país, que só não culminou na derrubada do governo por traição da esquerda reformista.

Os resultados foram quase apocalípticos, já que a maior cidade do país, Guayaquil, se tornou o centro mundial de uma crise sanitária, com corpos a apodrecer nas ruas durante vários dias, porque os serviços funerários privatizados estavam sobrecarregados.No início do mês de outubro Moreno anunciou um novo acordo de US$60,5 milhões com o FMI, que aconselhou o seu governo a recuar nos aumentos dos gastos de saúde com a emergência, a interromper as transferências de dinheiro para aqueles que não podem trabalhar devido a pandemia e a cortar os subsídios aos combustíveis para os pobres.

O FMI também interfere diretamente nas políticas internas de nações soberanas. Em março, recusou-se a fazer empréstimos ao governo venezuelano por causa da "falta de clareza" sobre quem mandava no país, sugerindo que Nicolás Maduro renunciasse, antes de considerar um empréstimo de emergência, Obviamente o fato de Maduro, diante da crise econômica da Venezuela recorrer ao FMI, revela o todo caráter de impotência do nacionalismo burguês frente aos organismos financeiros do imperialismo.

Nas crises há sempre oportunidades para o recrudescimento do parasitismo financeiro sobre as nações, e a governança global do rentismo  preparou muito bem está pandemia para este objetivo. Para o capital financeiro a pandemia é uma oportunidade de reorientar a economia para um sistema que transforme os Estados nacionais em meros “escritórios filiais” de suas corporações bancárias. Para o FMI, em particular como uma agência operadora do rentismo, a quarentena global está sendo usada para promover mais privatizações, ajustes fiscais, além da promoção do desemprego em massa.