quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

GUERRA NA ETIÓPIA: 100 MORTOS EM MEIO AOS ENFRETAMENTOS ENTRE O GOVERNO CENTRAL CAPACHO DO IMPERIALISMO E A FRENTE DE LIBERTAÇÃO POPULAR DO TIGRÉ

Na Etiópia, o segundo país mais populoso da África, o Exército federal enfrenta tropas ligadas à Frente de Libertação Popular do Trigré (FLPT), partido nacionalista que governa a região norte do país. Abiy Ahmed Ali é o primeiro-ministro apoiado pelo imperialismo ianque e europeu. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2019 por seus “esforços” para encerrar 20 anos de guerra entre a Etiópia e a Eritreia, isolando os setores mais ligados a esquerda anti-imperialista. As tensões entre o governo federal e a região do Tigré aumentaram nos últimos meses, mas as hostilidades recentes alimentaram temores de que uma guerra civil no chifre da África, uma das áreas mais turbulentas e estratégicas do planeta. 

Homens armados mataram mais de 100 pessoas em um ataque na madrugada desta quarta-feira (23) na região de Benishangul-Gumuz, no oeste da Etiópia. O ataque ocorreu no vilarejo de Bekoji, no condado de Bulen, na zona de Metekel, uma região habitada por diversos grupos étnicos. 

O ataque acontece um dia depois que o primeiro-ministro Abiy Ahmed, o chefe do Estado-Maior militar e outros funcionários do alto escalão do governo federal visitaram a região para cinicamente pedir calma após vários incidentes que resultaram em mortes nos últimos meses, como um ataque ocorrido em 14 de novembro, no qual atiradores alvejaram um ônibus e mataram 34 pessoas. 

Com a proximidade das eleições, que acontecerão em 2021, as tensões latentes sobre terra, poder e recursos inflamaram ainda mais. Durante décadas, o FLPT foi um partido dominante na Etiópia, mas tudo mudou com a chegada de Abiy Ahmed ao governo, em 2018. O novo primeiro-ministro expulsou políticos importantes da FLPT do governo central. Abiy Ahmed dissolveu a coalizão multiétnica que governava o país até então e criou o Partido da Prosperidade (PP), o que aumentou a tensão política. 

A FLPT se opôs, alegando que essa ação dividiria o país e se recusou a fazer parte da nova aliança. Tampouco ficou satisfeita com o resultado das negociações de paz entre a Etiópia e a Eritreia, após 20 anos de guerra, considerando que seus interesses haviam sido negligenciados. 

As tensões se acentuaram em setembro passado, quando o Tigray realizou eleições regionais, apesar de o pleito ter sido adiado pelo governo federal por causa da pandemia de covid-19. "O governo de Abiy Ahmed não reconheceu a legitimidade das eleições do Tigré, cortou laços e congelou orçamentos federais.

A FLPT até ameaçou se tornar independente, citando um artigo da Constituição federal que permite "o direito incondicional à autodeterminação, incluindo a secessão", demanda que deve ser apoiado pelos Marxistas Revolucionários. 

Várias potências mundiais, como os Estados Unidos e a China, mantêm bases militares no Chifre da África devido a sua localização estratégica como rota comercial. E a "paz" capitalista na Etiópia é considerada como essencial para os capitalistas que desejam manter essa falsa estabilidade na região para manter seus negócios. 

A Eritreia, que faz fronteira com o Tigré e cujo presidente de facto, Isaias Afwerki é próximo de Abiy Ahmed, também pode arrastá-los para um confronto contra a FLPT.

Em novembro, as persistentes tensões étnicas na Etiópia acabaram se transformando em um episódio de guerra de resolução aparentemente rápida. Os rebeldes da Frente de Libertação do Povo Tigré culminaram uma campanha de escaramuças com o assalto ao quartel-general do exército federal na região. 

A resposta do governo central foi esmagadora. Em uma campanha de apenas três semanas, com apoio aéreo e sem hesitação, as forças federais conquistaram Mekelle, capital do Tigre, e sufocaram a revolta. A paz foi afogada em sangue. Um milhão de pessoas foram expulsas de suas casas e dezenas de milhares se refugiaram no vizinho Sudão.

Com quase 100 milhões de habitantes, a Etiópia é o terceiro país mais populoso da África (depois da Nigéria e do Egito) e o sétimo em volume de produção. No entanto, em termos de PIB per capita, cai para o lugar 35. Guerras, expressas ou de longo prazo, causaram ciclos terríveis de fome e mortalidade.

Em 1991 a Frente Marxista de Libertação do Povo Tigre assumiu a liderança do país com um programa de descentralização e integração de todas as minorias nacionais. No entanto, em 1993, uma dessas nações, a Eritreia, declarou sua independência, após uma guerra iniciada durante a última fase do regime militar. Tudo parece indicar que a Frente de Libertação do Tigre se prepara para travar uma longa guerrilha desde as montanhas.

Caso as hostilidades sejam retomadas, não só a estabilidade na Etiópia ficará comprometida, mas alguns dos países vizinhos ou limítrofes, já em situação muito precária, como o Sudão ou a Somália, incluindo o Egito, podem ser seriamente afetados. 

Nestes tempos de COVID, as repercussões de uma guerra se ampliam e tornam a vida das populações atingidas um verdadeiro inferno, sendo necessário apoiar os esforços da FPLT contra o governo central, capacho do imperialismo.