PCB ADERE A DEFESA DA DEMOCRACIA COMO VALOR UNIVERSAL... E
RENEGA A DITADURA DO PROLETARIADO
No artigo “Um século de luta por democracia como forma política” que reproduz a entrevista de Milton Pinheiro, membro do Comitê Central do PCB, podemos ler a seguinte afirmação: “O PCB sempre procurou, na sua história de cem anos, a democracia como forma política para inserir o projeto da classe trabalhadora”. Antes de mais nada trata-se da negação do Leninismo e da história do PCB que em seu programa fundacional defende a ditadura do proletariado e não a “democracia em geral” como um valor universal a ser defendida pelos trabalhadores. O Livro “A Ditadura do Proletariado e o Renegado Kautsky”, escrito em 1918 por Lenin, no calor dos acontecimentos revolucionários na Rússia, afronta aqueles como a atual direção do PCB que defendem uma “democracia em geral”. A luta de Lenin contra essa tese dentro das fileiras do movimento dos trabalhadores é atualíssima como vemos agora que o PCB completou 100 anos renegando a ditadura do proletariado.
Em polêmica com o líder da social-democracia alemã, Karl
Kautsky, considerado por muitos o principal nome do marxismo após a morte de
Engels, o revolucionário russo vai lançar poderosos trovões. Lenin afirma que a
defesa de uma “democracia em geral” é uma visão liberal e atrasada dos fatos
que esconde o caráter burguês do Estado. Para ele, os ataques da burguesia e
seu Estado à classe trabalhadora são fruto do próprio avanço histórico da democracia
(burguesa), não do seu retrocesso. A única solução possível seria a realização
de uma democracia proletária por uma revolução socialista, arrancando
inteiramente o poder das mãos da burguesia.
O texto de Lenin é indispensável ao constatarmos que as
organizações políticas que se reivindicam de esquerda hoje no Brasil, como o PCB
estão saindo em uma ampla campanha na defesa da “democracia” (em geral) e do
Estado Democrático de Direito (Estado burguês). Segundo Lenin “A não ser para
zombar do senso comum e da história, é claro que não se pode falar de ‘democracia
pura’ enquanto existirem classes diferentes, pode-se falar apenas de democracia
de classe. (Digamos entre parênteses que “democracia pura” é não só uma frase
de ignorante, que revela a incompreensão tanto da luta de classes como da
essência do Estado, mas também uma frase triplamente vazia, pois na sociedade
comunista a democracia, modificando-se e tornando-se um hábito, extinguir-se-á,
mas nunca será democracia ‘pura’.). Ainda segundo ele “A ‘democracia pura’ é
uma frase mentirosa de liberal que procura enganar os operários. A história
conhece a democracia burguesa, que vem substituir o feudalismo, e a democracia
proletária, que vem substituir a burguesa.”
Lenin destrói essa concepção que defende o atual PCB de defesa
da democracia como forma política em um fim em si mesmo. Segundo ele “Na Rússia
quebramos completamente o aparelho burocrático, não deixamos dele pedra sobre
pedra, afastamos todos os velhos juízes, dissolvemos o parlamento burguês e
demos precisamente aos operários e aos camponeses uma representação muito mais
acessível, os seus Sovietes substituíram os funcionários, ou os seus Sovietes
foram colocados acima dos funcionários, os seus Sovietes tornaram eletivos os
juízes. Este simples fato basta para que todas as classes oprimidas reconheçam
que o Poder Soviético, isto é, esta forma da ditadura do proletariado, é um
milhão de vezes mais democrática que a mais democrática república burguesa”.
Para os Marxistas Leninistas
(mas não para o PCB!) todo Estado, independentemente da forma de governo,
mantém o monopólio da violência e a repressão organizada a serviço da ditadura
de uma classe. Embora possa revestir-se das mais distintas formas (república
democrática, monarquia, etc.) a ditadura da burguesia será sempre a imposição
da vontade social da burguesia sobre o proletariado.
A democracia burguesa “é o melhor invólucro do capitalismo e
por isso o capital, depois de se ter apoderado desse invólucro, alicerça o seu
poder tão solidamente, tão seguramente, que nenhuma substituição, nem de
pessoas, nem de instituições, nem de partidos na república democrática burguesa
pode abalar este poder” (O Estado e a Revolução), afirmava Lênin para concluir
que o sufrágio universal, que tanto seduz os democratas pequeno-burgueses e
reformistas e embeleza a democracia burguesa, é mais um instrumento de
dominação burguesa, servindo, no melhor dos casos, para os revolucionários
medirem o grau de maturidade da classe operária. O proletariado não pode
apossar-se simplesmente do velho aparelho de dominação da burguesia, precisa
destruí-lo e instaurar a sua própria ditadura, o seu próprio Estado: “A
substituição do Estado burguês pelo proletário é impossível sem revolução
violenta” (Idem).
A Ditadura do Proletariado é uma forma de Estado, uma forma
de “violência organizada e sistemática” (Idem). Porém, enquanto a democracia
capitalista serve a uma insignificante minoria, é a “democracia para os ricos”,
a ditadura do proletariado realiza, pela primeira vez, a democracia para os
pobres, impondo uma série de restrições à liberdade dos antigos opressores e
exploradores, para libertar a humanidade da escravidão assalariada. “Democracia
para a imensa maioria do povo e repressão, pela força, isto é, exclusão da
democracia, para os exploradores, para os opressores do povo, eis a modificação
que sofrerá a democracia na transição do capitalismo para o comunismo” (Idem).
Lênin em seu livro “A Ditadura do Proletariado e o Renegado
Kautsky” desmascara o chefe da II Internacional como um renegado do marxismo ao
demonstrar que este “deturpou de forma mais inaudita o conceito de ditadura do
proletariado, transformando Marx num vulgar liberal, isto é, desceu ele próprio
ao nível do liberal que lança frases vulgares acerca da ‘democracia pura’,
escondendo o conteúdo de classe da democracia burguesa, opondo-se acima de tudo
à violência revolucionária por parte das massas oprimidas”.
Enquanto existirem classes diferentes, é claro que não se
pode falar de “democracia pura”, na verdade, uma frase vazia que revela uma
profunda ignorância da luta de classes e da essência do Estado, pois “na
sociedade comunista a democracia, modificando-se e tornando-se um hábito,
extiguir-se-á, mas nunca será uma democracia pura” (A Ditadura do Proletariado
e o Renegado Kautsky).
Ao contrário do “senso comum” amplamente difundido pela mídia capitalista e em parte legitimado pela esquerda palatável como o atual PCB, nossos combatentes não foram mortos na ditadura militar “lutando pelo restabelecimento da democracia”, tombaram no confronto direto com as forças da repressão pela causa da revolução socialista, mais além dos desvios políticos das direções reformistas e etapistas que hegemonizavam o momento.
A concepção da “democracia como valor universal” não permeava as mentes de nenhum dos nossos heróis que deram suas vidas no combate revolucionário contra a ditadura militar. Neste ponto reside a contradição fundamental entre o regime de “exceção” imposto ao país pelas classes dominantes e o conjunto da militância socialista naquela etapa da luta de classes.
Salvo alguns setores do “Partidão” que já flertavam com uma “flexibilização” do leninismo em direção à social democracia, o que anos depois daria origem ao chamado “eurocomunismo”, as organizações de esquerda (como a ALN de Marighella) que se levantaram em armas contra os facínoras adotavam a estratégia da defesa da ditadura do proletariado versus ditadura capitalista, sob a forma concreta assumida em 64 de um regime político militar.
Somente após décadas, justamente na transição da ditadura militar à democracia burguesa, regime por excelência do modo de produção capitalista segundo Marx, irá acontecer a “metamorfose” da esquerda reformista assumindo as teses do “triunfo” da democracia sobre o “autoritarismo leninista”.
Com a queda do Muro de Berlim em 1989, esta mesma esquerda o qual o PCB está até hoje integrado, já formatada a “Nova República”, se transfere definitivamente de “malas e bagagens” para o campo “republicano” das instituições representativas do capitalismo.