CRISE DO IMPERIALISMO IANQUE: “USAFRICA” NOW?
Na teoria da ciência econômica, ficou bastante conhecida a
teoria da “BELÍNDIA”, ou seja a junção de duas realidades sociais absolutamente
distintas, Bélgica e Índia, em um mesmo país capitalista periférico com um
grande mercado, como o Brasil por exemplo. Agora no início do século XXI, esta
realidade social e econômica dual, exclusiva a Estados imperializados, também
pode ser vista em países imperialistas como a Inglaterra, França e
principalmente nos Estados Unidos, que já pode ser caracterizado como
“USAFRICA” pelo nível de pobreza de uma parte considerável de sua população. A
crise de superprodução capitalista e a pandemia do coronavírus deixaram esta
nova realidade muito transparente nos EUA, com filas quilométricas de pessoas
que não tinham como se alimentar sem a ajuda estatal e outros milhares que
sequer tinham teto para se abrigar. A sociedade norte-americana é cada vez mais
desigual, e vários de seus indicadores socioeconômicos parecem cada vez mais
distantes dos bons resultados obtidos pelos países imperialistas europeus de
alta renda, como Alemanha, Holanda ou Suécia.
Era reconhecido anteriormente que os EUA é um país de
oportunidades. Isto foi verdade durante o início do século XX, quando muitos
europeus estavam fugindo da pobreza e das guerras em busca de uma prosperidade
mais acessível do outro lado do oceano Atlântico, bem como durante as primeiras
décadas pós-Grande Depressão, quando o crescimento econômico foi combinado com
uma equalização dos rendimentos e um forte sistema de proteção social. No
entanto, a realidade atual do imperialismo ianque parece ser bastante
diferente, com uma análise de vários índices de qualidade de vida mostrando
como os índices de bem-estar têm ficado atrás de várias nações europeias, e até
mesmo a Rússia em ascensão econômica ameaça superar o decadente EUA. Uma
recente análise de indicadores sociais e econômicos, feita pelo jornalista
norte-americano David Leonhardt para o insuspeito jornal The New York Times,
mostra como o país governado pelo reacionário Donald Trump foi incapaz de
traduzir o crescimento econômico das últimas três décadas em melhoria da
qualidade de vida de sua classe trabalhadora ou na redução do abismo entre os
setores mais ricos e menos ricos de sua população. Segundo o artigo do NYT,’a
expectativa média de vida dos norte-americanos aumentou em apenas três anos
desde 1990. Dados de 2018 colocam a expectativa de vida nos EUA em cerca de 78
anos, um valor que estagnou em comparação com países como Japão, Itália,
Alemanha, Coreia do Sul ou até mesmo a Rússia restaurada ao capitalismo, que já
ultrapassaram a barreira dos 80 anos e continuam crescendo. Entre os
indicadores econômicos mais esclarecedores está o salário mínimo, uma categoria
na qual os EUA ficaram atrás de outros países de alta renda. O estudo observa
que o salário mínimo anual nos EUA, cerca de US$ 15 mil (R$ 79 mil) em 2018,
está muito atrás de outros como Bélgica, Alemanha, França, Países Baixos,
Austrália e Luxemburgo, onde ultrapassa US$ 20 mil (R$ 106 mil) por ano. A
pesquisa fornece outra informação chave, a economia dos EUA favorece a concentração
em grandes empresas, corporações e trustes monopolistas, tornando possível que
grandes grupos imperialistas reduzam os salários cada vez mais. O preço dos
serviços de telefonia móvel, que é mais alto do que em qualquer outro lugar do
mundo, é um indicador de como a falta de concorrentes prejudica os
trabalhadores do setor e a população. A qualidade de vida dos norte-americanos
também é afetada pelo sistema de saúde. Com praticamente o fim do Seguro Social
a população acaba pagando mais por medicamentos, procedimentos hospitalares e
consultas médicas do que os pacientes em qualquer outro país imperialista. Em
média, os cidadãos dos EUA pagam mais do dobro do que as pessoas de outros
países de alta renda pelas despesas com a saúde. O crescimento da desigualdade
norte-americana encontra outro reforço na política fiscal. Uma comparação com
países imperialistas como a França, onde as pessoas mais ricas pagam mais da
metade de sua renda em impostos, mostra a desigualdade do sistema tributário
americano. Para piorar a situação de concentração de renda, a tendência é que a
carga tributária sobre os ricos nos Estados Unidos continue caindo, com o
esforço do governo Trump para desonerar os grandes capitalistas.
O regime capitalista até então mais possante do planeta,
emite todos os sinais de uma vertiginosa decadência, se comparada a dinâmica de
sua principal concorrente no mercado mundial, a China. Não por acaso uma
rebelião explodiu nos EUA em pleno “toque de recolher”, tendo como o estopim a
estrutural violência policial contra os negros e mais pobres. Mas a decadência
dos EUA não levará “automaticamente” a eliminação da hegemonia do imperialismo
ianque, é necessário uma ação consciente da classe operária e sua vanguarda
política para dirigir este processo. A Rebelião Popular desatada com o
assassinato de George Floyd mostrou que isso é possível, porém por outro lado o
seu refluxo e a desmobilização por parte das lideranças do Partido Democrata
também revelaram que é necessário construir uma direção revolucionária para
seguir em frente e vencer!