sexta-feira, 24 de julho de 2020

ESCÂNDALO BANESTADO: O QUE ESTÁ POR TRÁS DO “ENTREVERO” ENTRE LEONARDO ATUCH (BLOG 247) E PEPE ESCOBAR?


Nesta última quinta-feira (23/07) na live semanal do jornalista Pepe Escobar na TV 247, o editor chefe do Blog da esquerda reformista Leonardo Attuch acabou se estressando com seu entrevistado (que gera a maior audiência semanal da TV 247) acerca das denúncias do escândalo do Banestado, relançadas com certa “obsessão” pelo site “Duplo Expresso” de Romulus Maya. 

Attuch desde há algum tempo vem “alertando” Escobar a se afastar do Duplo Expresso, não interagir de forma alguma com um site que ataca lideranças do PT, com denúncias pesadas sobre escândalos de corrupção (passado e presente), e ultimamente a “tecla única” do envolvimento histórico do PT para abafar o escândalo do Banestado, seja na CPI instalada do Congresso em 2003 ou da própria atuação do Ministério da Justiça (governo Lula) no mesmo sentido. 

Pepe parece que não seguiu os “conselhos” do 247 e até escreveu um artigo em inglês no “Asia Times” sobre a questão, replicando “diplomaticamente” as ilações lançadas por Romulus Maya, um jovem advogado/blogueiro que intermediou ativamente “negócios” estatais durante os governos petistas até ser excluído do campo “progressista”, quando resolveu denunciar setores do PT em “maracutaias” de todas as naturezas. Romulus é bastante honesto ao se declarar um antimarxista convicto (faz zombarias nojentas contra Lenin) e destilar seu ressentimento viceral contra qualquer vestígio que possa se assemelhar com a esquerda, seja de que tendência for, mesmo assim seu canal de transmissão, muito bem montado na Suíça (não declarou com que recursos) é frequentado por pessoas que até se dizem “revolucionários”. 

Mas como no “entrevero” no debate virtual entre Atuch e Escobar ambos não entraram no mérito da responsabilidade no encobrimento ou mesmo na participação petista direta no escândalo, ficando na superfície “polida” da questão, vamos fazer uma rápida retrospectiva. Para entrada poderemos rememorar que o Diretório Nacional do PT, então sob a presidência de José Dirceu, obteve R$1 milhão em empréstimos do Banestado entre 1999 e 2001, segundo revelam os dados bancários das contas do próprio PT. Poderiam nos contestar afirmando que a quantia nominal era irrisória diante do volume de cerca de R$ 280 bilhões que se evadiram para fora do país pelas contas CC5 do Banestado, o que é de fato “curioso” é porque um banco presidido por adversários políticos do PT emprestaria dinheiro a um partido, que na época sequer dispunha de grandes recursos do fundo partidário. E será mesmo que a “redonda” quantia nominal de 1 milhão não era apenas uma maquiagem legal para transferência de valores maiores pelas vias de empréstimos de empresas repassados posteriormente ao PT? 

Seguindo na trilha das “coincidências” em 2003, no primeiro ano da gerência de Lula, o Palácio do Planalto trabalhou para impedir a criação da CPI do Banestado, que teria o objetivo de investigar as irregularidades na instituição financeira, a CPI acabou sendo instalada entre 2003 e 2004, tendo como relator o deputado petista José Mentor, um dos próprios acusados de terem se beneficiado dos “empréstimo” do Banestado. Durante uma entrevista divulgada na época pela Folha, o empresário paranaense Antônio Celso Garcia, o Tony, mostrou transcrições de gravações em que seu ex-sócio, o advogado Roberto Bertholdo, comenta a influência que supostamente tinha sobre a CPI, por meio do deputado Mentor, que em seu relatório final da CPI preparou uma “bela pizza” inocentando todos os tucanos e similares menores, além é claro do próprio PT que comprovou ter pago em dia o empréstimo, que posteriormente foi comprovado por extratos a elevação da casa de 1 milhão para R$4,9 milhões, ainda assim muito pouco para o esforço de “assar uma pizza”. No âmbito do Ministro da Justiça, Márcio Tomás Bastos, foi tratado de punir o delegado federal que apurava o escândalo, José Francisco Castilho Neto, com uma transferência para o interior de Mato Grosso. 

Voltando ao debate na TV 247 e ao artigo de Pepe (o qual o Blog da LBI reproduziu), podemos afirmar que Pepe compartilha as ilusões de que Lula poderia ter a “grandeza política” de impulsionar uma campanha para desvelar finalmente toda a trama do caso Banestado, uma espécie de laboratório inicial para fundar as bases da farsas da Lava Jato, do qual foi a principal vítima. Já Atuch refuta qualquer envolvimento do PT no escândalo, seguindo a senda de toda a blogosfera da esquerda reformista e quase exigindo de Pepe a ruptura com o degenerado moral e político Romulus Maya. É óbvio que nada vai acontecer, Lula não admitirá jamais o envolvimento de seu partido e dele próprio no escândalo e por consequência não irá “desenterrar o caso”, e muito menos denunciar tardiamente a toda a vasta corja burguesa que “sangrou” o país e golpeou o governo petista. É bom não esquecer que  o próprio governo Dilma deu uma contribuição institucional importante na gênese da Lava Jato, atacando inclusive os que denunciaram na época a famigerada Operação como uma armação da CIA e da Casa Branca contra nosso país. 

Dilma e seu entorno palaciano pensavam que Moro e seu bando se contentaria em caçar somente os dirigentes “marcados” do PT, como Dirceu, Delúbio e Vacary, o senador Requião chegou a apresentar o justiceiro de Curitiba como um “eleitor do PT”, mesmo já conhecendo muito bem seu histórico “atucanado”. Quanto a Pepe Escobar, sem dúvida um profundo conhecedor da geopolítica mundial, e excelente jornalista investigativo, lhe falta entretanto a perspectiva da revolução socialista internacional, limitando-se a uma ácida e contundente crítica do neoliberalismo e do chamado “Deep State”, sem que no entanto consiga fazer a ligação mais profunda das ações de bastidores das potências imperialistas com a luta de classes. Neste sentido sua rica e vasta análise global fica muito restrita ao xadrez da superestrutura, carente da dinâmica estrutural do modo de produção capitalista (neoliberal ou não), além de sua forte ligação política com a burocracia estatal chinesa, ausente de qualquer norte revolucionário. 

Por sua vez Blog 247, que reflete acriticamente a linha da Social Democracia mundial (apoiam Joe Biden, Lula e assemelhados), crédulos na utopia do “capital desenvolvimentista e distributivo”, tende a se chocar cada vez mais com as conclusões de Escobar, que na maioria das vezes se coloca com uma voz corajosa de denúncia dos amálgamas criados pelos organismos do Deep State, do qual a tola blogosfera da esquerda reformista considera pura “teoria da conspiração”...