Através de um
comunicado divulgado nesta segunda-feira (06.07), 11 prisioneiros políticos mapuche
encarcerados na prisão chilena de Lebu declararam uma greve de fome. No texto, eles relatam que estão iniciando "uma greve de
fome líquida em apoio a nossos irmãos da prisão de Angol e do Celestino machi
que hoje estão em greve há 64 dias". "Com essa greve de fome exigimos
do governo (...) a liberdade de nossos irmãos, ainda mais neste momento de
pandemia", continua o manifesto. Os presos políticos mapuches com quem os
demandantes simpatizam iniciaram, desde 4 de maio, outra greve de fome liderada
pelo machi (autoridade espiritual do povo mapuche) Celestino Córdova. Os
mapuches são um povo indígena estabelecido no extremo sul da Patagônia. Várias
de suas organizações exigem, principalmente do Estado chileno, maiores
direitos, autonomia e autodeterminação. Por outro lado, nesta segunda-feira,
cerca de 60 pessoas fizeram uma marcha pelas ruas de Temuco em apoio ao machi
Córdova. A manifestação percorreu as ruas do centro da capital La
Araucanía, sob a vigilância das forças policiais. A marcha chegou primeiro ao
Tribunal de Apelações de Temuco, onde três representantes entregaram uma carta,
pedindo que o pedido do machi fosse transferido da prisão de Temuco para sua
comunidade para cumprir a sentença. O objetivo da greve de fome é conseguir a
libertação de presos políticos ligados ao movimento indígena, considerado
“terrorista” pelo governo Piñera baseando-se em lei criada na ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Ele defendem “a
desmilitarização e fim da repressão às comunidades mobilizadas por seus
direitos políticos e territoriais”. Os mapuche formam o grupo indígena mais
numeroso do Chile, representando 6,6% da população total, de 16 milhões de
habitantes. Com a greve de fome, querem também o fim de medidas contrárias ao
movimento criadas durante a ditadura de Augusto Pinochet, como a aplicação da
Lei Antiterrorista para as causas mapuches e processos abertos na Justiça
Militar contra eles. O grupo se organizou como movimento social nos anos 1980
para defender os direitos das terras originárias. Os indígenas alegam que suas
terras estão sendo exploradas “de forma irracional” por empresas privadas, que
estão desmatando a região e prejudicando seu modo de vida. Criticam, por
exemplo, a construção de uma represa e a instalação de uma fábrica de celulose,
que desmatou dois mil hectares de terras de povos ancestrais.
Para tentar
conter os protestos, o então governo militar criou a Lei Antiterrorista e
permite que os acusados fiquem em prisão preventiva durante dois anos e impede
que os advogados da defesa acompanhem os depoimentos e tenha acesso ao
processo. "Pela não aplicação da Lei Antiterrorista nas causas Mapuche da
legislação Pinochetista", afirmam os presos no comunicado. No texto, os
mapuches pedem também que o governo do neofascista Piñera se posicione
diante da situação dos presos políticos do país. Dentre as exigências listadas
na declaração constam a liberdade dos presos políticos mapuches ou a mudança
para uma medida alternativa que não seja a prisão. Os Mapuche consideram esta
medida necessária como prevenção da propagação da pandemia da Covid-19 por
razões humanitárias em que o governo não se pronunciou para salvaguardar a vida
dos presos políticos mapuches ou presos políticos em geral. Em segundo lugar,
os Mapuche rejeitam o tipo de julgamento e a forma como o governo aplica a lei
quando se trata de perseguição política, prisão e sentença do povo mapuche. Em
terceiro, exigem que Piñera devolva seu território ancestral, requerendo também
que as empresas florestais abandonem o Muromapu, pois são algumas das
principais responsáveis pelo esgotamento dos recursos hídricos e
desaparecimento da biodiversidade, bem como da energia, da pesca, da mineração
e das rodovias. E, da mesma forma, exigem a desmilitarização de seu território,
“uma vez que eles só protegem os interesses econômicos das empresas
transnacionais”. Todo apoio a luta dos povos originários no Chile, liberdade para os presos políticos!