PROTESTO MULTITUDINAL DE CAMPONESES NA ÍNDIA: AVANÇAR NA LUTA CONTRA AS GRANDES CORPORAÇÕES DO AGRONEGÓCIO E O GOVERNO MODI COM INDEPENDÊNCIA DE CLASSE DIANTE DAS ONG´s DEFENSORAS DO “CAPITALISMO VERDE”
Está em curso desde meados do ano passado e ganhou mais força em 2021 protestos contra reformas agrícolas na Índia do Primeiro-ministro Narendra Modi, que favorecem as grandes corporações do agronegócio. Grande parte do apoio inicial aos protestos veio de produtores de arroz e trigo do norte da Índia, especialmente do Estado de Punjab, controlado pela oposição burguesa ao governo de extrema-direita. Milhares de agricultores realizaram nesta sexta-feira um protesto contra as novas leis agrícolas do país, sinalizando um crescente apoio à campanha que pede que as medidas sejam revogadas. Os agricultores temem a possibilidade de que, com base nessas três leis, o agronegócio defina as condições da atividade que desenvolvem e o governo deixe de comprar deles grãos como trigo e arroz a um preço mínimo garantido. No curso da luta diversas ONG´s ligadas ao imperialismo “civilizatório” apoiaram os protestos, além de “celebridades” engajadas como Rihanna e Greta Thunberg. Para vencer, os trabalhadores devem lutar pelo programa da revolução agrária sem subordinar-se a plataforma buguesa do chamado “capitalismo verde”.
Irritados com o que consideram ser uma legislação que
beneficia os compradores privados às custas dos produtores, dezenas de milhares
de agricultores acampam há mais de dois meses nos arredores da capital Nova
Délhi, reivindicando a revogação das leis introduzidas em setembro. Em um sinal
de um desafio cada vez maior para o governo Modi, mais de 10 mil agricultores
de todos os espectros políticos e religiosos se reuniram nesta sexta-feira no
Estado de Uttar Pradesh para manifestar apoio aos protestos.
Ramkumar Choudhary, um líder local do distrito de Bagpat,
disse que milhares de pessoas vão partir para Délhi, a menos que o governo
revogue as leis. “Só 1% das pessoas saíram das vilas até agora. No dia em que
mandarmos 50% do nosso povo, não haverá espaço para se mexer em Délhi”, disse
ele após se dirigir à multidão de agricultores hindus e muçulmanos na vila de
Bhainswal. O protesto foi acompanhado por centenas de policiais, muitos armados
e de posse de equipamentos antimotim.
Uttar Pradesh é o maior Estado da Índia e uma região
fundamental nas disputas eleitorais. Embora o partido de Modi possua uma
maioria confortável no parlamento, o apoio dos influentes produtores de
cana-de-açúcar de Uttar Pradesh aos protestos representará uma preocupação para
o governo.
A população indiana mostrou o que se deve fazer diante dos
ataques de um governo de extrema-direita ao seu povo: tomar as ruas. Contra as
reformas agrícolas do Primeiro-ministro Narendra Modi, manifestantes a pé e em
tratores fizeram parte de um grande ato no Dia da República na Índia.
Modi decretou o fechamento de estações de metrô e a
suspensão de serviços de internet móvel, enquanto trabalhadores do campo
rompiam as barricadas da polícia para invadirem o complexo do Forte Vermelho,
na capital do país, Nova Dali, com alguns manifestantes hasteando bandeiras no
topo da cúpula arquitetônica.
Milhares de pessoas usaram bandeiras do sindicato dos
agricultores e estandartes religiosos junto ao edifício onde os chefes do
governo prestam homenagem aos símbolos nacionais assinalando a independência do
poder colonial britânico (1947) e a aprovação da Constituição (1950).
Há quase dois meses, agricultores – na maior parte sikhs do Punjab e de Haryana – acamparam nos limites da cidade de Nova Deli bloqueando as autoestradas que ligam a capital ao norte do país, num ato de protesto contra o governo. “Nós queremos mostrar a Modi a nossa força. Não nos vamos render”, disse Satpal Singh, um agricultor que conduzia um trator juntamente com cinco familiares. É claro que a polícia reprimiu brutalmente os protestos com gás lacrimogênio e cassetetes, sendo responsável por um óbito. O governo de Modi apoia leis que afrouxam regras sobre preço e armazenamento de produtos agrícolas, que protegeram os agricultores indianos do chamado “mercado livre” por décadas, atendendo os interesses das grandes corporações do agro-negócio.
Os
agricultores temem que as novas leis ameacem concessões de décadas, como preços
garantidos, e enfraqueçam seu poder de barganha, deixando-os vulneráveis à
exploração por empresas privadas. Segundo dados oficiais, 20.638 agricultores
suicidaram-se, em 2018 e 2019, por causa da grave situação econômica que
enfrentam.
ONGs imperialistas e referências ambientais globais da pequena-burguesia como Greta Thunberg e artistas como Rihanna e Mia Khalifa apoiam a reivindicação dos agricultores do país asiático em nome da defesa do meio-ambiente, o tal “capitalismo verde”. Indianos contrários aos protestos de agricultores tacaram fogo nos pôsteres de ambas, e acusaram-nas de "interferência internacional".
Ativistas da Frente Hindu Indiana Unida queimaram pôsteres
da ativista climática Greta Thunberg e da cantora Rihanna, depois de ambas
terem comentado nas redes sociais suporte aos protestos de agricultores no
país. Segundo a polícia indiana, surgiu a sugestão de o tweet de conselhos de
Thunberg estar ligado a um grupo pró-Khalistan, que visa criar um país
independente para a comunidade Sikh, no estado norte indiano de Punjab,
localizado perto da fronteira com o Paquistão. Nas palavras do comissário Praveer
Ranjan, o tweet teria como objetivo causar "desarmonia social" na
Índia, pelo que o caso foi registrado sob acusações de conspiração.
Essas publicações enfureceram o governo indiano: Modi acusou
de interferência de personalidades mundiais em um "caso interno", de
"sensacionalista", e divulgou um comunicado no qual falava de "propaganda"
contra seu governo, que no máximo se oferecia para "suspender" as
regulamentações. A verdade é que, desde a origem dos protestos, as autoridades
responderam com uma dura repressão ao movimento camponês, que começou principalmente
em Punjab, um estado no norte da Índia. De acordo com o Governo do Partido do
Povo Indiano, as leis são benéficas para os agricultores porque permitem que
seus produtos sejam entregues diretamente a grandes compradores privados.
Cinicamente as ONGs se colocam em “defesa do planeta” e pelo estabelecimento de acordos globais para a redução de emissão de gás carbônico e da preservação das florestas, em uma suposta “cruzada” contra o chamado “aquecimento global”. Com a maior cara de pau culpam a China pelo aumento da temperatura climática do mundo para encobrir que os monopólios imperialistas são os principais responsáveis pela destruição das forças produtivas, a começar pela principal delas: o homem e suas condições de vida.
Além disso, o plano da ONU para “zerar o desmatamento” foi montado por ONGs em parceria com governos das metrópoles centrais que visam colocar as florestas, reservas minerais e aquáticas das semicolônias sobre o controle de um “consórcio global” que fere as soberanias formais das nações atrasadas, como o Brasil. Enquanto barbarizam países inteiros como a Líbia, Síria ou o Iraque para controlar petróleo, água e urânio in natura, infectam a África com o vírus Ebola para incrementar os lucros da indústria farmacêutica ou para testes bacteriológicos de armas de guerra, dizimando populações nativas, os representantes do capital fazem demagogia “em defesa da natureza”.
Contra esta farsa, os Marxistas Revolucionários denunciam a impossibilidade de haver qualquer preservação da própria espécie humana assim como do meio-ambiente, das florestas e das fontes aquáticas sob o tacão dos grandes monopólios transnacionais, já que o capitalismo leva a humanidade à barbárie e às guerras de espoliação impondo fome, miséria e desemprego.
Ao mesmo tempo, desmascaramos os charlatões que
através do chamado “ecossocialismo” não fazem mais que reforçar a tese
revisionista de que o proletariado está superado como direção política da
revolução socialista apresentando as “novas vanguardas” (verdes, luta de
gênero) como eixo principal da “utopia” de uma “economia sustentável”.
Eles “esquecem” que o conceito de forças produtivas
elaborado por Marx, engloba fundamentalmente a força de trabalho, ou em outras
palavras, o proletariado, a força produtiva principal. Em uma sociedade que
condena a maioria da população, inclusive nos países imperialistas, à miséria
absoluta as forças produtivas efetivamente deixaram de crescer e só podem
voltar a fazê-lo através da Revolução Proletária para garantir a existência da
humanidade em harmonia com a Natureza em um futuro comunista.
A Índia é o segundo país em número de habitantes e um dos
maiores contribuintes de emissões poluentes em todo o mundo, depois da China,
dos Estados Unidos e da União Europeia. Além de seu discurso ocasional em eventos
climáticos internacionais, o perfil nacionalista, xenófobo e racista do governo
Modi só aumentou durante a pandemia, da qual ele aproveitou para fazer avançar
planos anti-operários e leis neoliberais contra o futuro do planeta e as
garantias mais básicas dos trabalhadores agrícolas, em favor da penetração do
agronegócio multinacional no mercado agrícola local.
Vale lembrar que o drama da pandemia do coronavírus que a Índia retardou a revelar ao mundo está se tornando realidade, com seus mais de vinte milhões de habitantes. O governo central de extrema direita, decretando uma quarentena sem as mínimas condições de planejamento e proteção social, acabou agravando a epidemia para uma situação de explosão de contaminação, levando milhares de trabalhadores a vagar nas ruas sem comida, e empurrar milhões de pessoas a se comprimirem em cômodos nas favelas das mega cidades indianas.
Os que são contaminados pela Covid, sem ter hospitais e postos médicos sequer
para um atendimento básico, são marcados com tinta pela polícia e órgãos
sanitários com o “símbolo da peste”. Apestados é a expressão do “neonazismo”
disfarçado de “controle sanitário”, contra populações pobres que são reprimidas
pelo Estado Burguês para se confinarem em favelas e palafitas da periferia
urbana.
Com o forte apoio da elite capitalista indiana, Narendra Modi explorou a disputa de fronteira por seis meses com Pequim para integrar a Índia ainda mais plenamente na imprudente ofensiva militar de Washington contra a China. Isso incluiu uma série de novas iniciativas e acordos com os EUA e seus principais aliados da Ásia-Pacífico, Japão e Austrália, e passos importantes para transformar o diálogo estratégico “Quad”, liderado pelos EUA em uma aliança militar.
Enquanto isso, Modi e seu
BJP intensificaram a promoção dos preconceitos anti-muçulmanos, com o objetivo
de promover a reação ideológica e dividir a classe trabalhadora.
As direções reformistas e estalinistas, como resultado de seu longo apoio anterior a uma sucessão de governos do “Partido do Congresso”, que também defendem as reformas neoliberais e a implementação de "políticas pró-investidor financeiro” nos estados, como Bengala Ocidental, onde controlam o governo, viram sua própria “hemorragia” no rechaço da classe trabalhadora.
No entanto, estas direções traidoras ainda estão na liderança
política dos protestos em cursoo são apoiadas na condução do movimento pelos
partidos da oposição burguesa.
O Proletariado indiano é um dos mais numerosos do mundo, ficando atrás somente da classe operária chinesa. Porém esteve amarrado por mais de uma década ao governo da Frente Popular e sua política de pacto social e colaboração de classes. Como no Brasil, o fim do ciclo histórico do Partido do Congresso deu lugar a um governo de extrema direita.
Entretanto as
lideranças reformistas ainda mantêm a hegemonia nos movimentos sociais. Para
derrotar o governo Modi é necessário superar a política do cretinismo
parlamentar do reformismo, construindo um genuíno partido operário independente
da Frente Popular.
O proletariado e o povo pobre indiano está diante do maior
desafio de sua história de lutas, maior até do que o da independência do
imperialismo britânico: Romper com a burguesia assassina que marca o símbolo da
peste no seu povo, no sentido da construção revolucionária uma nova ordem
econômica socialista, lutando neste momento pela revolução agrária sem depositar
nenhuma ilusão nos defensores do “capitalismo verde”!