PT COMPLETA 41 ANOS: O PARTIDO QUE TRANSITOU DOS SINDICATOS PARA GESTOR ESTATAL DA CONCILIAÇÃO COM A BURGUESIA AGORA VAI SENDO SUBSTITUÍDO PELA “NOVA ESQUERDA IDENTITÁRIA”
Por: Candido Alvarez
Fundador e ex-membro do diretório do PT
O PT completa 41 anos após sair derrotado nas disputas municipais de 2020, revelando que a burguesia aposta na fragmentação da “esquerda”, inflando o PSOL “identitário” como a legenda social-democrata em ascensão. Boulos atua nesse cenário como um fantoche que serve para enfraquecer a figura de Lula, que já defende uma ampla frente de centro-esquerda com o PDT, PCdoB e PSOL para 2022, tanto que indicou o palatável Haddad com candidato a presidente do PT.
A data está sendo comemorada com um evento online com coordenação do ex-presidente Lula, da presidenta do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) e do ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. A ex-presidenta Dilma Rousseff, os governadores, senadores, deputados federais, deputados estaduais, prefeitos e vereadores também participaram da programação.
Os Marxistas Revolucionários analisaram as causas dessa realidade, que agrega uma brutal ofensiva burguesa contra as conquistas sociais e democráticas do proletariado brasileiro em meio a pandemia, onde o PT exerce a função no comando da esquerda domesticada servil a OMS como sustentáculo do governo Bolsonaro.
Fazendo uma balanço histórico caracterizamos que as seguidas gestões da Frente Popular à cabeça do governo nacional amorteceram a luta de classes ao ponto de abrir o caminho para a atual ofensiva fascista em curso no país. Mesmo o PT gerenciando o Estado burguês por 13 anos em favor das grandes corporações capitalistas foi alvo de um golpe parlamentar em 2016 e não conseguiu ser admitido no promíscuo clube dos partidos tradicionais da ordem institucional. Seus dirigentes mais destacados foram “caçados” como “marginais e bandidos perigosos”, apresentados cinicamente pela grande mídia corporativa como os responsáveis pelo “maior escândalo de corrupção da história do país”.
Práticas absolutamente ordinárias e seculares na relação entre partidos burgueses e grandes empresas, as comissões ou chamadas de “propinas” pelos midiotas, que foram também corriqueiras nos governos de colaboração de classes do PT, foram vendidas como o “maior delito nacional da história republicana”, deixando o partido na completa defensividade política! Pouco adiantou Lula repetir a exaustão que é um liberal e nunca foi socialista, que seu governo beneficiou “pobres e ricos”, de votar em vários golpistas nas eleições de 2018, fazer aliança com esses mesmos canalhas recentemente no Parlamento... a direita burguesa não lhe deu ouvido, encarcerou o maior líder do PT e entronou no Planalto o fascista Bolsonaro, tendo o Juiz que ordenou a prisão de Lula, Sérgio Moro, como o verdadeiro “fiador”, o homem forte da nova gerência estatal burguesa junto ao imperialismo.
Esse paradoxo que perpassa a “crise existencial” do PT é um produto acumulado de suas próprias dubiedades ao longo de sua vida política, um partido que estampa no nome a independência de classe e ao mesmo tempo desde sua origem rejeita categoricamente os desafios programáticos do proletariado, como o marxismo e o socialismo revolucionário.
Logo nos primeiros debutes eleitorais de 1982,1985 e 1988 os dirigentes do PT descartaram as alianças políticas com outros partidos burgueses, para em seguida governarem municípios favorecendo grandes empresas, principalmente no ramo do transporte urbano.
Depois vieram os governos estaduais em 90, 94 e 98, o "véu" da independência de classe caiu por completo com as gestões voltadas para o capital em detrimento das demandas populares. Já não poderia haver a menor sombra de dúvida que a vitória presidencial de 2002 marcaria o início de um governo central capitalista, lastreado na política de colaboração de classes.
A Frente Popular no comando do Estado Burguês, favorecida pela conjuntura econômica internacional impulsionou grandes negócios e créditos para a burguesia tupiniquim, o PT entrou definitivamente no rol dos partidos que empreendiam campanhas eleitorais milionárias (talvez bilionárias até), mas passado o ciclo temporal do binômio "crédito/consumo" se vê agora rejeitado como um partido burguês bastardo e ironicamente responsabilizado por parte das elites dominantes pela "formação do caráter corrupto dos maus brasileiros".
Sem ainda entender bem o motivo de tanta "traição e ódio" da parte dos que tanto se beneficiaram com seus governos, o PT promove seminários e simpósios nestes 41 anos de vida inutilmente buscando uma explicação "moral" para sua "rejeição parental", quando na verdade a questão remonta a própria luta de classes!
Para que possamos compreender a crise e o atual impasse dos rumos do PT, é necessário resgatar um enunciado básico do marxismo completamente "esquecido" pelos agentes políticos da Frente Popular: Conquistar eleitoralmente a gerência do Estado burguês não significa o mesmo que obter o poder político do Estado capitalista. Este poder estatal nunca esteve nas mãos dos presidentes eleitos pelo PT (Lula e Dilma).
Com o golpe parlamentar seguido da prisão de Lula é completamente cristalino até para qualquer leigo, o poder de Estado se deslocou para coagir e reprimir os quadros dirigentes do PT. Governo, regime político e judiciário são instâncias institucionais que mantém certo grau de autonomia entre si, porém o Estado subordina as demais instituições estando sob controle direto da classe dominante e não da presidência da república.
Ao desconsiderar esta lógica de ferro da luta de classes o PT foi vítima de sua própria política social democrata, pensando que teria a eterna "gratidão" da burguesia independentemente de seus interesses de classe. Findo o ciclo econômico "neodesenvolvimentista" a burguesia "convidou" os gerentes petistas a desocuparem o governo, como se recusaram a sair em 2014 a tarefa foi tirá-los "à força".
A "caçada "institucional a Lula e outros dirigentes históricos do partido ocorreu em pleno regime democrático e o que é pior sob a presidência da república ocupada por uma petista. Confiando na PF, elogiando inicialmente o Juiz Moro e a Operação Lava Jato enquanto adormecia o movimento de massas, Dilma acabou abrindo caminho para a ofensiva reacionária atual que pariu a “besta” neofascista Bolsonaro!
O “ovo de serpente” foi alimentado anos a fio pelo PT que agora é também vítima direta de sua política de colaboração de classes que desarmou os trabalhadores.
A esquerda revisionista que acompanhou organicamente boa parte da história do PT, ou mesmo a que agora retorna ao partido por outras vias como é o caso do PCO, sempre apontou que a "primeira etapa" da vida política petista teria sido "altamente progressista", esta análise sem conteúdo de classe significa um gravíssimo equívoco!
O PT não se degenerou quando veio a ocupar o Planalto, apenas exerceu seu "direito", conquistado nas urnas, de operar os negócios do Estado burguês, "direito" este que agora a elite dominante lhe quitou com muito "ódio". Como uma organização que jamais foi operária ou revolucionária, a evolução política do PT ocorreu pela via programática de um partido originalmente pequeno burguês até se consolidar como mais uma legenda da classe dominante, com a peculiaridade de não ter em seus quadros nomes representativos da burguesia nacional.
Nesta trajetória de "transição", o PT conseguiu deletar a referência classista dos primeiros anos de vida para abraçar o discurso da " cidadania plena", o que obviamente para sua liderança partidária representava o "direito de consumo" antes de mais nada. Por isso mesmo o grande mote político do partido na atualidade foi de ter levado "30 milhões de brasileiros para obter acesso ao mercado de consumo".
A estruturação de um movimento de massas que viesse a romper os limites de um "capitalismo com uma face democrática" nunca nem passou "pelos pesadelos ou sonhos" de Lula, sua tarefa e de seu partido era radicalmente oposta: "Fornecer sustentabilidade ao capital".
Com uma plataforma de governo onde não existia sequer a execução de uma única reforma progressista, as variações do mercado impuseram a pauta do "modelo de gestão petista", a chegada da recessão mundial desgraçadamente esvaziou o "saco de bondades" do PT. Agora, com o tripé, Bolsonaro-Moro-Guedes volta à pauta da classe dominante uma agenda ultra-neoliberal que o PT não pôde cumprir plenamente com Lula e Dilma.
Entretanto nem mesmo todos os fatores mencionados anteriormente não dão conta de explicar a ferocidade e violência destinada ao PT por parte de "novos aliados e antigos adversários". Só poderá mesmo haver uma única razão para o "ódio concentrado" das elites, ainda inconfessável até por comentaristas bastantes críticos ao PT.
Por ironia da história, o PT que teve no mínimo duas vitórias roubadas (89 e 94) pela fraude oficial do TSE, teria utilizado este mesmo instrumento estatal para evitar a eleição do tucano Aécio Neves em 2014. Este elemento combinado ao esgotamento total do "milagre econômico lulista" potenciou uma enorme pressão demolidora gerada a partir das classes dominantes, desde o primeiro dia do segundo mandato da presidenta Dilma.
Como prognosticou o velho Marx em seu magnífico livro" O dezoito brumário de Luís Bonaparte": "O herói nacional pode virar bandido da noite para o dia, tudo dependerá dos fatores da luta de classes".
Paradoxalmente ao comemorar 41 anos de existência política, ostentando um "invejável currículo" de quatro vitórias consecutivas para as corridas presidenciais pós regime militar, o PT e sua principal liderança de massas foram convertidos em os "piores bandidos" que nossa "honrada" pátria já conheceu em toda sua história republicana, pelo simples e banal motivo de reproduzirem a mesma metodologia utilizada por todos os partidos burgueses deste país: Comerciar os negócios do Estado Capitalista!
Esta prática secular e usual, em tempos de estagnação e crise pode transformar-se no pior dos "pecados políticos" para uma elite decadente, portanto após a sentença final o PT foi crucificado!
Abstrair as lições que marcam os 41 anos de vida do PT é um passo programático fundamental para a vanguarda classista brasileira superar a política de pacto com a burguesia que a Frente Popular até hoje desenvolve, agora no campo da oposição “propositiva” ao governo Bolsonaro e a nível de suas gestões burguesas regionais que reproduzem a mesma pauta neoliberal ditada pelos rentistas, sendo agora substituído pela chamada esquerda indentitária como o PSOL.
Toda a estratégia reformista do PT se resume em apostar no desgaste “natural” de Bolsonaro, para em 2022 “pacificamente” voltar ao Planalto, uma perspectiva que a classe dominante já descartou de antemão, apesar do PT em sua “maturidade” não se casar em apresentar-se ainda como uma opção plenamente confiável para a burguesia nacional.
Não há dúvida que a Social Democracia petista é incapaz de compreender seus graves erros históricos, em função de sua própria natureza de classe, a vanguarda classista do proletariado deve assumir a gigantesca tarefa de reconstruir o projeto de um partido representativo da classe operária, a começar pelo resgate do programa revolucionário que aponte para o genuíno socialismo.