ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS CHILE: QUANDO A ESQUERDA REFORMISTA E A DIREITA NEOFASCISTA TEM A MESMA PLATAFORMA DE GOVERNO PARA GERENCIAR A CRISE CAPITALISTA
No Chile o colapso dos Democratas Cristãos (DC) e do Partido Socialista (PS), a chamada “Concertação”, foi descrito como “a falência histórica do centro político burguês” e a perspectiva de uma “polarização programática” antes das eleições deste próximo domingo. Entretanto nada disso ocorreu. A disputa entre o candidato de Pinochet, José Kast, do Partido Republicano, de um lado, e Gabriel Boric, do Approve Dignidad (Frente Ampla + Partido Comunista), revelou um caso concreto da Nova Etapa da Ordem Mundial do Capital Financeiro onde a intensa polarização eleitoral ocorre sob a mesma plataforma neoliberal de governo de ambos os candidatos.
Os Democratas-cristãos e o Partido Socialista que lideraram
os antigos governos da “Concertação” nas últimas décadas, sofreram uma profunda
derrota eleitoral no primeiro turno presidencial. A coligação de ambos os
partidos, o “Novo Pacto Social”, mal alcançou o quinto lugar com 11,6% dos
votos. Quanto aos deputados, a DC obteve
a menor bancada desde 1953. O colapso eleitoral foi seguido pela divisão na
liderança e pelo abandono da militância. Consequentemente, os
Democratas-cristãos podem até perder a legalidade eleitoral.
A liderança política da DC definiu seu voto a favor de
Boric, sua presidente Carolina Goic, informou à mídia corporativa que a
definição pretendia “dar governabilidade ao país”. Também a ex-presidenta do
país, a dirigente socialista Michelle Bachelet expressou o apoio do seu partido
a Boric. Todas as lideranças dos governos burgueses neoliberais (centro-esquerda)
anteriores enxergaram em Boric a continuidade de suas gestões em favor do
capital financeiro internacional.
O descrédito popular da DC e do PS, somado ao desgaste do
Partido Comunista de ter sido um apêndice da “Concertação”, favoreceu o
surgimento de “novas” forças políticas, como o Boric, expressando a rejeição
dos partidos tradicionais que governaram nos últimos trinta anos o Chile. O
mesmo fenômeno vale para o neofascista Kast, referindo-se aos tradicionais
partidos de direita. A revista “The Economist” caracterizou que "Esta é a
eleição menos polarizada programaticamente desde o retorno da democracia",
"Dois extremistas lideram as pesquisas para as eleições presidenciais
desta semana com quase a mesma proposta de governo”. O regime formal de
transição pós-Pinochet se desintegrou, mas isso não significa que o poder do
Estado tenha se concentrado nos “extremos” da esquerda e direita. Ambas as representações
partidárias corresponderam aos mesmos interesses de classe.
Mas o que realmente caracteriza esta eleição é o completo
fracasso político da chamada “Nova Esquerda” (“Eu aprovo a Dignidade”), em
expressar minimamente a vigorosa revolta de massas que cruzou o Chile nestes
últimos dois anos. Estamos falando sobre sua capacidade política de enterrar a
rebelião popular de outubro de 2019, desviando o curso revolucionário do
proletariado para o campo institucional, e colhendo até um possível fiasco eleitoral.
A suposta “polarização” entre a extrema esquerda e a extrema direita é uma
miragem distracionista criada para iludir tolos e justificar a corrupção
ideológica das correntes que ainda falam em “marxismo”.
Na campanha para o segundo turno, Kast, por sua vez, e
Boric, na mesma via, se esforçaram pela “reaproximação”, em nome de manter de
pé o Estado capitalista, profundamente abalado pela insurgência da classe
operária chilena. O neofascista decidiu “tomar a pílula do casamento gay”,
embora não apoiando o direito ao aborto. Boric tomou o cuidado de não defender
a causa do povo mapuche, garantiu que protegeria a "segurança dos
investidores internacionais”, nem mesmo atacou os Carabineros e a assassina
Polícia Pinochetista. Não há polarização porque não existem dois polos
distintos de classe social entre os dois candidatos. Para os genuínos Marxistas
Leninistas não existe outra possibilidade, a não ser denunciar esta grotesca
farsa eleitoral, montada pela governança global do capital financeiro e chancelada
pelos dois postulantes a gerenciar a crise do Estado burguês. Convocamos a heroica
classe operária chilena a retomar o curso da rebelião de massas, construindo
neste processo insurgente sua alternativa revolucionária de poder!