sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS CHILE: QUANDO A ESQUERDA REFORMISTA E A DIREITA NEOFASCISTA TEM A MESMA PLATAFORMA DE GOVERNO PARA GERENCIAR A CRISE CAPITALISTA

No Chile o colapso dos Democratas Cristãos (DC) e do Partido Socialista (PS), a chamada “Concertação”, foi descrito como “a falência histórica do centro político burguês” e a perspectiva de uma “polarização programática” antes das eleições deste próximo domingo. Entretanto nada disso ocorreu. A disputa entre o candidato de Pinochet, José Kast, do Partido Republicano, de um lado, e Gabriel Boric, do Approve Dignidad (Frente Ampla + Partido Comunista), revelou um caso concreto da Nova Etapa da Ordem Mundial do Capital Financeiro onde a intensa polarização eleitoral ocorre sob a mesma plataforma neoliberal de governo de ambos os candidatos.

Os Democratas-cristãos e o Partido Socialista que lideraram os antigos governos da “Concertação” nas últimas décadas, sofreram uma profunda derrota eleitoral no primeiro turno presidencial. A coligação de ambos os partidos, o “Novo Pacto Social”, mal alcançou o quinto lugar com 11,6% dos votos.  Quanto aos deputados, a DC obteve a menor bancada desde 1953. O colapso eleitoral foi seguido pela divisão na liderança e pelo abandono da militância. Consequentemente, os Democratas-cristãos podem até perder a legalidade eleitoral.

A liderança política da DC definiu seu voto a favor de Boric, sua presidente Carolina Goic, informou à mídia corporativa que a definição pretendia “dar governabilidade ao país”. Também a ex-presidenta do país, a dirigente socialista Michelle Bachelet expressou o apoio do seu partido a Boric. Todas as lideranças dos governos burgueses neoliberais (centro-esquerda) anteriores enxergaram em Boric a continuidade de suas gestões em favor do capital financeiro internacional.

O descrédito popular da DC e do PS, somado ao desgaste do Partido Comunista de ter sido um apêndice da “Concertação”, favoreceu o surgimento de “novas” forças políticas, como o Boric, expressando a rejeição dos partidos tradicionais que governaram nos últimos trinta anos o Chile. O mesmo fenômeno vale para o neofascista Kast, referindo-se aos tradicionais partidos de direita. A revista “The Economist” caracterizou que "Esta é a eleição menos polarizada programaticamente desde o retorno da democracia", "Dois extremistas lideram as pesquisas para as eleições presidenciais desta semana com quase a mesma proposta de governo”. O regime formal de transição pós-Pinochet se desintegrou, mas isso não significa que o poder do Estado tenha se concentrado nos “extremos” da esquerda e direita. Ambas as representações partidárias corresponderam aos mesmos interesses de classe.

Mas o que realmente caracteriza esta eleição é o completo fracasso político da chamada “Nova Esquerda” (“Eu aprovo a Dignidade”), em expressar minimamente a vigorosa revolta de massas que cruzou o Chile nestes últimos dois anos. Estamos falando sobre sua capacidade política de enterrar a rebelião popular de outubro de 2019, desviando o curso revolucionário do proletariado para o campo institucional, e colhendo até um possível fiasco eleitoral. A suposta “polarização” entre a extrema esquerda e a extrema direita é uma miragem distracionista criada para iludir tolos e justificar a corrupção ideológica das correntes que ainda falam em “marxismo”.

Na campanha para o segundo turno, Kast, por sua vez, e Boric, na mesma via, se esforçaram pela “reaproximação”, em nome de manter de pé o Estado capitalista, profundamente abalado pela insurgência da classe operária chilena. O neofascista decidiu “tomar a pílula do casamento gay”, embora não apoiando o direito ao aborto. Boric tomou o cuidado de não defender a causa do povo mapuche, garantiu que protegeria a "segurança dos investidores internacionais”, nem mesmo atacou os Carabineros e a assassina Polícia Pinochetista. Não há polarização porque não existem dois polos distintos de classe social entre os dois candidatos. Para os genuínos Marxistas Leninistas não existe outra possibilidade, a não ser denunciar esta grotesca farsa eleitoral, montada pela governança global do capital financeiro e chancelada pelos dois postulantes a gerenciar a crise do Estado burguês. Convocamos a heroica classe operária chilena a retomar o curso da rebelião de massas, construindo neste processo insurgente sua alternativa revolucionária de poder!