SALDO MISERÁVEL DE 2021: FOME ATINGE 37% DOS BRASILEIROS QUE RECEBEM ATÉ DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS
Para 26% dos brasileiros, a quantidade de comida em casa não foi suficiente para alimentar suas famílias nos últimos meses, mostra Datafolha. Desemprego elevado, precarização do trabalho, renda desabando e inflação que não para de subir fizeram explodir a fome no Brasil. Segundo pesquisa da Datafolha, divulgada nesta sexta-feira (24), a gravidade da situação é tanta que o percentual chega a 37% dos brasileiros que recebem até dois salários mínimos. Para 89% dos entrevistados, independente do perfil econômico ou região onde mora, o número de pessoas que passam fome no Brasil aumentou na pandemia.
De acordo com o relatório “Insegurança Alimentar e Covid-19 no Brasil”, publicado no começo do ano pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), 43,4 milhões de pessoas não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões de brasileiros viviam na extrema pobreza, com fome, durante a pandemia.
Logo, imagens foram divulgadas na mídia de enormes filas
formadas em açougue em Cuiabá para receber doação de ossos – a “fila dos
ossinhos” – usados pelas mães nas sopas para alimentar os filhos durante três
dias. Assim como, imagens de brasileiros buscando em caçambas de supermercados
em São Paulo por restos de comida, ou buscando comida nos caminhões de lixo em
Fortaleza, e ainda as cenas que chocaram do “caminhão de osso” no Rio de
Janeiro, onde moradores retiravam o produto que seria descartado para animais.
Na triste realidade em que as pessoas estão tendo o seu
poder de compra sendo consumido pela disparada da inflação, impulsionada por
preços administrados pelo governo, como combustíveis e energia elétrica, 26%
dos brasileiros afirmaram que a quantidade de comida em casa não foi suficiente
para alimentar suas famílias nos últimos meses, apontou a pesquisa. O Datafolha
entrevistou 3.666 brasileiros, em 191 municípios, entre os dias de 13 a 16 de
dezembro.
Em 2021, após três anos do governo neofascista de Bolsonaro,
55% da população do país têm algum grau de insegurança alimentar e quase 10%
convivem com a insegurança grave. Com a crise econômica capitalista agravada
pelos bloqueios da pandemia, este ano a insegurança alimentar e a fome podem
ter aumentado ainda mais. Os dados de 2021 mostram que pela primeira vez, desde
o início dessa série histórica, há mais brasileiros em situação de insegurança
alimentar do que em segurança.
A medição da fome da população, considerado pelo estudo, foi estabelecida em 2004, em pleno governo Lula, com a introdução da Escala Brasileira de Medida Direta de Insegurança Alimentar (EBIA) para mensurar a fome e a falta de acesso a alimentos. Uma metodologia que considera que “a fome não se manifesta apenas quando a barriga ronca e não há comida na mesa”, mas quando a “insegurança sobre o dia seguinte é enorme” ou ainda quando há uma “preocupação com falta de alimentos no curto prazo”.
A pesquisa inclui entre os dois limites acima referidos, as
situações de “insegurança alimentar leve” e “insegurança alimentar moderada”,
num total de quatro categorias. Em relação a 2013, quando a pesquisa monstra
uma situação levemente mais favorável, com 77% da população com segurança
alimentar, 13% com insegurança alimentar leve, 6% de insegurança alimentar
moderada e apenas 4% com insegurança alimentar grave, fica evidente retrocesso,
produto direta do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo.
O número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave no Brasil pulou de 8,8 milhões em 2013 no governo Dilma, para 19,1 milhões em 2020. Em 2020, a pandemia de Covid se soma aos lockdowns, falências de pequenos negócios por conta da imposição do Isolamento Social, acrescido do desmonte dos programas sociais. Assim se intensifica o aumento da fome, que já ocorria de forma intensa desde os governos FHC, passando pelo PT e os gerentes golpistas.
Retrocesso esse já detectado no início 2018, depois da recessão capitalista dos anos de 2015 e 2016 e o aprofundamento das políticas neoliberais dos governo Dilma e Temer, quando a segurança alimentar fica em 63% ou queda de 14 pontos percentuais também em relação a 2013. Se a fome se alastrou no país, reflexo direto do estancamento das forças produtivas mundiais, que castigam nossa colônia periférica com a barbárie famélica, também é verdadeiro que os últimos gerentes burgueses do Estado capitalista (esquerda ou direita) são apenas meros fantoches do rentismo internacional.