OSCAR NIEMEYER: “ARQUITETO DAS CURVAS”, UM AMIGO FIEL DO VELHO “PARTIDÃO”
Em 15 de dezembro de 1907 nascia o arquiteto Oscar Niemeyer. “Comunista” desde 1945, quando conheceu Luis Carlos Prestes e ingressou nas fileiras do PCB, ele militou no “Partidão” na esteira da derrota nazista pelo Exército Vermelho na URSS e na tomada de Berlim, junto com uma cepa de intelectuais pequeno-burgueses. Mesmo assim, a mídia “murdochiana” elevou-o à condição de um dos maiores gênios criadores no Brasil e tem estampado em todos os seus jornalões a história de sua vida e obra. Foi, de fato, o arquiteto brasileiro que obteve mais projeção no cenário mundial e que exerceu profunda influência na arquitetura moderna com seu pioneirismo da técnica do concreto armado, as curvas e os traços rápidos e simples desde a década de 40 do século passado, visão sintetizada neste breve pensamento: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein” (Almanaque Brasil). Adotou o curvilíneo como contestação às formas monótonas e repetitivas impostas pelo capitalismo segundo acreditava.
Representante da antiga geração que simpatizava com a revolução bolchevique de 1917, foi um dos últimos amigos do velho “Partidão”, a ele fiel até sua morte no dia 05 dezembro de 2012, embora o atual PCB não tenha mais as mesmas características programáticas que manteve até o fim da URSS.
Como um pequeno-burguês típico defendia o papel da burguesia como uma possível agente histórico do progresso, ao lado de outros camaradas como Jorge Amado, Mario Lago, Dias Gomes... Neste sentindo foi um fervoroso defensor do governo burguês de JK. O lado progressista de Niemeyer veio à tona ao ter apoiado politicamente a URSS e a revolução cubana, estabelecendo laços de amizade com os Estados operários mesmo durante os ásperos anos da guerra fria.
Formou-se engenheiro-arquiteto em 1934 pela Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, passou logo em seguida a trabalhar como estagiário no escritório de Lucio Costa e Carlos Leão, ajudando-os a projetar dois anos depois o prédio do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, baseado nos conceitos do arquiteto francês Le Corbusier (o pilotis, a planta livre, a fachada livre). A primeira obra com sua marca pessoal foi o Complexo da Pampulha em Belo Horizonte, a convite do então prefeito da capital mineira Juscelino Kubitschek, inaugurando com força a técnica do concreto armado para dar luz às suas curvas até então na esfera das pranchetas.
A partir daí não haveria freios à sua imaginação criativa. Já com fama internacional, fora convidado em 1947 a projetar a sede da ONU em Nova Iorque. Depois o Parque Ibirapuera, o Edifício Copan no centro da capital paulista (1951), prédios públicos da futura Brasília, Centro Cultural Le Havre na França (1982), Memorial da América Latina (1989) e toda uma vasta obra espalhada pelo Brasil e o mundo.
Contudo, não é preciso ser um “expert” em arquitetura para se constatar que a produção niemeyeriana encerra em si mesma uma visão pequeno-burguesa bastante clara: sua obra tem a finalidade de ser contemplada, não usufruída, ou seja, não serve para habitação, por exemplo. Vive sob o conflito entre a beleza e a funcionalidade, cuja maior preocupação é com a forma, deixando para trás o espaço interno, o elemento do conforto humano entra “de passagem”.
Em outras palavras, suas construções não cumprem com o fundamental, que é a necessidade de moradia e bem-estar para a maioria dos trabalhadores. Em museus, igrejas, prédios públicos, as pessoas apenas transitam e “contemplam”, enfim, o homem é, nesta ótica, reduzido a um simples “adorno” que complementa a obra de arte. “Não sei por que minha arquitetura esteve sempre na área dos grandes edifícios públicos. E, como eles nem sempre correspondem a razões sociais justas, tento fazê-los belos, espetaculares. Com isso os mais pobres param ao vê-los, com espanto e entusiasmo. É o que, como arquiteto, lhes posso oferecer” (As Curvas do Tempo - Memórias, 1999).
Por outro lado, Niemeyer e seus companheiros de viagem, os intelectuais amigos do “Partidão”, atuam através de sua arte para difundir o programa que sempre defendeu o velho PCB, a da conciliação de classes e a crença na progressividade da burguesia brasileira. Dizia sem constrangimento que “Não me sinto importante. Arquitetura é meu jeito de expressar meus ideais: ser simples, criar um mundo igualitário para todos, olhar as pessoas com otimismo. Eu não quero nada além da felicidade geral” (site Revista da Semana). A política de “união nacional” do PCB nos anos 50 (na ilegalidade desde 1947) levou-o a defender o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, e o apoio a JK nas eleições de 1955 foi um atalho neste sentido.
Mais tarde, junto com Lúcio Costa (projeto urbanístico) iria colocar em prática a construção da nova capital federal em 1956, respaldando o programa desenvolvimentista do então presidente Juscelino. Novamente introduzem os princípios modernistas de Corbusier: prioridade para o automóvel (indústria automobilística em plena ascensão), a circulação de pessoas sob colunas de prédios, prédios iguais uns aos outros etc.
O caráter pequeno-burguês de Niemeyer ficou evidente após a chamada “Revolta dos Candangos” à época da construção de Brasília, quando centenas de operários se rebelaram contra as condições de trabalho subumanas. Operários da construção civil jogam a comida estragada no pátio do alojamento, iniciando a rebelião contra as péssimas condições de trabalho, muito próximas à escravidão. Policiais do governo, recrutados entre os mais grotescos e violentos homens da região, chegam ao alojamento atirando de maneira covarde e brutal. Vários foram mortos em acidentes de trabalho e, depois, centenas de revoltosos massacrados pela selvagem repressão policial.
Foram “enterrados” sob as curvas de concreto armado que hoje formam o “Eixo Monumental” ou jogados no Lago Paranoá. Como pequeno-burgueses típicos, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa conscientemente não quiseram se comprometer, negando tudo ao serem questionados no excelente e raríssimo documentário “Conterrâneos velhos de guerra”, de Vladimir Carvalho (1991). Niemeyer afirma que não soube de nenhum massacre de operários nas obras de Brasília: “Eu não sei e não posso opinar sobre isso (sic!)... Eu não sei o que houve, como posso tomar posição... Para, desliga esta merda [a câmera que registrava a entrevista]”. Negaram com veemência o fato, apesar ter sido anunciado em todos os jornais do país à época.
Apesar da grandiosidade estética da obra de Niemeyer, os Marxistas Revolucionários não podem ser abduzidos acriticamente pela mídia murdochiana que acalanta inúmeros elogios ao renomado arquiteto, mas no mesmo passo execra o tempo todo nomes “indesejáveis” e emblemáticos como Lenin, Marighella, Lamarca, Gregório Bezerra... Niemeyer morreu deixando como legado a sua defesa inquebrantável do “Partidão” e dos antigos Estados Operários. Sendo, todavia, sua arte notadamente pequeno-burguesa em essência, viveu sob o paradoxo de jamais ter questionado diretamente a institucionalidade do regime capitalista, ou atuado militantemente organizado em defesa da revolução socialista violenta conduzida pelo proletariado. Por isso é benquisto e admirado pelo establishment midiático nos dias atuais, marcados pelo profundo retrocesso ideológico das massas e ofensiva ideológica e militar do imperialismo em todo o mundo.